Aumento do número de miseráveis no País obriga o governo a criar novo truque e movimenta a oposição

miseria_10Mais um drible – O aumento do contingente de miseráveis no País, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), levou o líder do Democratas na Câmara dos Deputados, Mendonça Filho (PE), a apresentar nesta quinta-feira (6) requerimentos de convocação dos ministros do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, e da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Marcelo Neri, para explicarem o atraso na divulgação do estudo de IPEA que mostrou crescimento do número de miseráveis no Brasil, assim como os resultados do levantamento. O instituto é vinculado à SAE, enquanto a ministra Tereza Campello responde pelo programa “Brasil sem Miséria”, anunciado pela presidente Dilma, em 2011, como a solução definitiva para a erradicação o problema no País.

As convocações foram protocoladas nas Comissões de Fiscalização Financeira e Controle e de Desenvolvimento Econômico. O deputado também encaminhou requerimento de convite ao presidente do IPEA, Sergei Soares.

“Diante dos números que colocam em xeque a atual política de combate à miséria no Brasil, e do momento escolhido para a divulgação do aumento no número de miseráveis, julgamos fundamental que os ministros e o presidente do IPEA venham a Câmara prestar esclarecimentos”, afirmou Mendonça Filho sobre o estudo que mostrou crescimento de 3,6% para 4% da população o contingente de pessoas que vivem na extrema pobreza. São 370 mil pessoas a mais na parcela da população com renda inferior a R$ 70 por mês.

“O atraso na divulgação do estudo para evitar o período da campanha eleitoral mostra uma manipulação clara dos dados para beneficiar a candidata à reeleição a presidência da República. Depois da contabilidade criativa para maquiar as contas públicas agora nos deparamos com a maquiagem social”, disse o líder democrata. “Os números causam espanto, ainda mais quando se tem em mente que o atual governo se vangloria da queda da desigualdade no Brasil. Esse foi, inclusive, um dos motes da campanha pela reeleição da presidente Dilma. Ao que tudo indica, o pífio crescimento econômico e a alta inflação afetaram o combate à miséria”, completou.

Conta obtusa

Beira a irresponsabilidade a decisão do governo de criar uma linha de corte para definir quem encontra-se no universo da miséria. Para os gênios que atualmente ocupam o Palácio do Planalto, quem recebe acima de R$ 70 está fora dessa zona de exclusão, como se R$ 75, por exemplo, mudasse o quadro de penúria. De igual modo, quem recebe duas vezes esse pífio valor está fora da linha de pobreza.

Quando engrossava o coro da oposição, o PT sempre se valia dos números do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para cobrar dos adversários a melhoria do salário mínimo. Agora no poder, o PT parece não mais se lembrar da existência do órgão, que regularmente publica dados de pesquisas sobre os mais variados temas, começando pelo salário mínimo ideal.

De acordo com o Dieese, o salário mínimo em outubro deveria ser de R$ 2.967,07, contra os atuais R$ 724 fixados pelo governo. Em outras palavras, o valor que o Dieese propõe representa quatro vezes a menor remuneração vigente no País, em tese, pois há quem receba menos. O órgão chegou a esse valor tomando por base os recursos necessários para que o trabalhador consiga manter-se em níveis rasos de dignidade, assim como a própria família.

Portugal e Suécia

Com a interrupção na queda do número de miseráveis, o Brasil passou a ter 10,5 milhões de pessoas vivendo na chamada “extrema pobreza”. Para o PT, os governos de Lula e Dilma Rousseff foram revolucionários ao criar mecanismos que tiram os cidadãos da seara da miséria.

Apenas para que o leitor consiga compreender o que representa esse dado que o governo escondeu durante a campanha presidencial, motivando inclusive o pedido de exoneração de um servidor do IPEA, o número de miseráveis brasileiros se aproxima à população de Portugal ou da Suécia.

Diretor de estudos e políticas sociais do IPEA, Herton Araújo estava a publicar um estudo técnico com dados sobre miséria social no Brasil, com base na mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada no final de setembro. Araújo levou o assunto à reunião da diretoria colegiada do IPEA, realizada no dia 9 de outubro, mas não conseguiu convencer seus parceiros de trabalho.

Tutelado pelo governo bolivariano do PT, o IPEA manteve a decisão de divulgar estudos somente depois do dia 27 de outubro, após a realização do segundo turno da corrida presidencial. Enquanto isso, Dilma balbuciava mentiras em todos os cantos do País acerca da redução da miséria.

Camisa de força

O conceito de miséria estabelecido pelo Palácio do Planalto é um atentado contra o bom senso, pois sabem os integrantes do governo que é impossível sobreviver com um salário mínimo. Assim como é impossível acreditar que Dilma conseguirá reverter a crise econômica, que ela própria não reconhece e diz ser invenção de pessimistas, com 70% da população recebendo mensalmente menos de dois salários mínimo.

Com o objetivo de medir a irresponsabilidade do governo em relação ao salário mínimo, o aluguel de um quarto em um cortiço no centro da capital paulista não sai por menos de R$ 600 mensais. Em outras palavras, o trabalhador precisa se virar durante trinta dias com a diferença (R$ 124).

Enquanto os palacianos enchem o peito para falar das tais conquistas, o trabalhador brasileiro convive cada vez mais como fantasma do fim do salário no meio do mês. A população brasileira ganha mal, cada vez pior, mas Dilma e seus estafetas preferem dizer que o governo promoveu a valorização do salário do trabalhador. Sempre lembrando que em 2016 o salário mínimo terá reajuste real de 0,2%, na melhor das hipóteses e porque Deus é brasileiros.

Parafuso solto, truque novo

É admitir a própria insanidade esperar algo coerente de alguém que conseguiu proezas como revogar o irrevogável e plagiar a si mesmo. Estamos falando de Aloizio Mercadante, atual chefe da casa Civil da Presidência, que nesta quinta-feira (6) decidiu que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) analisará os dados divulgados no dia anterior pelo IPEA sobre o número de miseráveis no País.

De acordo com Mercadante, o governo quer saber se o IPEA contabilizou em um mesmo dado as pessoas que declararam “renda zero” e aqueles que não quiseram declarar a renda. Na avaliação do ministro, não é possível afirmar, por enquanto, se os dados estão “equivocados”.

“Nós queremos que o IBGE analise com mais profundidade a amostra [do IPEA], porque todos os outros índices mostram que a pobreza caiu e que esse indicador, de ‘renda zero’, pode ter algum problema metodológico. De qualquer forma, os dados precisam ser analisados e com toda a transparência”, disse o chefe da Casa Civil, após cerimônia no Palácio do Planalto que homenageou os servidores da Presidência com mais de dez anos no serviço público. Ou seja, os que estão aturando as bizarrices de um governo incompetente e de um partido especialista em banditismo político.

apoio_04