Cúpula do PSDB precisou de 24 horas para desmentir acordo espúrio firmado na CPMI da Petrobras

petrobras_15Demorou demais – Na tarde de quarta-feira (5), no âmbito da CPMI da Petrobras, os partidos de oposição, incluso o PSDB, fez um acordo com os governistas para evitar a convocação de alguns políticos notórios, como Aécio Neves, Luiz Inácio da Silva e Dilma Rousseff, entre outros. Encerrada reunião secreta da CPMI que decidiu pelo acordo, o ucho.info noticiou a negociação espúria e condenável, mas antes teve o cuidado de conversar com alguns dirigentes do PSDB, maior partido da oposição, os quais admitiram o fato e mostraram-se indignados.

Se o PSDB participa de um acordo dessa natureza, que compromete o discurso do partido e também do seu presidente, senador Aécio Neves (MG), que momentos depois fez um discurso oposicionista contundente no plenário do Senado, condicionando o diálogo com o governo com o aprofundamento das investigações do chamado “Petrolão”, não é culpa do ucho.info, mas daqueles que patrocinaram essa lambança.

Entre o susto e a indignação há uma enorme distância, como sabem os leitores. O ucho.info não se assusta com acordos como o que foi selado na CPMI da Petrobras, mas fica indignado diante de uma negociação tão rasteira e criminosa.

No momento em que surgiu a primeira notícia sobre o acordo firmado na CPMI da Petrobras, o presidente do PSDB deveria ter convocado a imprensa para dizer que nada do que fora noticiado era verdade. Pelo fato de ter o próprio nome envolvido na negociação, Aécio Neves, em respeito aos votos de mais de 51 milhões de brasileiros, tinha o dever de desautorizar o acordo e colocar-se à disposição da CPMI para quaisquer questionamentos, inclusive em audiência na Comissão.

A cúpula do PSDB tinha conhecimento do fato e permitiu que Aécio Neves, da tribuna do Senado, desafiasse o Palácio do Planalto e o PT a avançar nas investigações do maior escândalo de corrupção da história nacional. Importante é reconhecer que o tal acordo existiu, ao contrário do que afirmam alguns jornalistas, mas o PSDB demorou quase um dia para negar o fato.

Pano quente

Em nota oficial divulgada nesta quinta-feira (6), Aécio Neves, na condição de presidente nacional da legenda, afirmou que o PSDB “não pactua com qualquer tipo de acordo que impeça o avanço das investigações da CPMI da Petrobras”.

“Lutamos pela instalação da CPMI. Temos de ir a fundo na apuração do chamado ‘Petrolão’ e na responsabilização de todos que cometeram eventuais crimes, independentemente da filiação partidária”, destacou o senador na nota.

Aécio usou o termo “disposição inarredável” do PSDB, mas não se prontificou a depor na CPMI da Petrobras diante da ameaça do PT de convocá-lo ou, quem sabe, de supostamente ter usado o seu nome de forma ilegal. O senador tucano disse que o partido tem poucos representantes na CPMI, mas estes deveriam ter deixado a reunião debaixo de protesto, mas optaram pelo silêncio conivente, obsequioso.

Na negociação que tomou conta da CPMI da Petrobras, em reunião secreta, nomes de políticos que não deveriam ser convocados ou convidados foram mencionados debaixo da insinuação de um escambo oficioso. São eles: a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo da Silva (Comunicações); o ex-ministro Antonio Palocci Filho; os senadores Aécio Neves (PSDB), Álvaro Dias (PSDB) e Gleisi Hoffmann (PT); e os tesoureiros Rodrigo de Castro e José Gregori, do PSDB, e João Vaccari Neto, do PT.

Não é bem assim

O deputado federal Carlos Sampaio (PSDB), no microblog que mantém no Twitter, escreveu que o seu partido “denunciou essa roubalheira”. Sampaio por certo está mal informado, porque a denúncia sobre o esquema de corrupção que funcionava na Petrobras – criado por Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e pelo finado José Janene – foi do empresário Hermes Magnus e do editor do ucho.info, jornalista Ucho Haddad, em janeiro de 2009. Na ocasião, alguns integrantes do PSDB ignoraram as denúncias. O único integrante do PSDB que levou a sério as denúncias foi o senador Alvaro Dias (PR), autor do requerimento da CPMI da Petrobras.

Carlos Sampaio também afirmou em seu microblog que a investigação dos políticos depende do envio, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do conteúdo dos depoimentos prestados por Costa e Youssef com base no acordo de delação premiada. Fosse essa a regra, os deputados André Vargas e Luiz Argôlo não estariam na iminência de terem os respectivos mandatos cassados.

“O que ocorreu, na reunião da CPMI de ontem, foi a definição de que, como só restam 30 dias para a finalização dos trabalhos, deveríamos priorizar a investigação sobre as empreiteiras e os outros diretores da Petrobras envolvidos no esquema de corrupção. Quanto aos políticos, infelizmente nada podemos fazer neste momento, pois estamos no aguardo do envio, pelo STF, dos nomes daqueles que já foram denunciados na delação premiada”, escreveu Sampaio.

Em outras palavras, seguindo o raciocínio de Carlos Sampaio, a CPMI da Petrobras ouvirá até o final dos trabalhos a raia miúda do esquema de corrupção, protegendo, como sempre, os tubarões. Vale lembrar que Luiz Inácio da Silva e João Vaccari Neto são cidadãos comuns, sem mandato eletivo, por isso não gozam da prerrogativa de foro.

Experiência comprovada e reconhecida

A CPMI da Petrobras não é a primeira que o editor do site acompanha e nem será a última. Presença importante em diversas CPIs, na opinião de parlamentares governistas e oposicionistas, o editor conhece como poucos as entranhas da política brasileira, assim como seus subterrâneos. Auxiliou de forma decisiva na CPMI dos Correios, abastecendo a Comissão com provas e documentos, além de longas explicações sobre o funcionamento de um complexo esquema de corrupção.

Apenas para refrescar a memória daqueles que começam a construir a ideia distorcida de que estamos a jogar a favor do governo, deixamos duas perguntas: 1) Quais os motivos que levaram a CPMI do Banestado a terminar em uma enorme e mal cheirosa pizza? 2) Por que o PSDB, na campanha presidencial deste ano, em nenhum momento abordou o escândalo do pedófilo da Casa Civil?

As respostas são impublicáveis, mas o ucho.info deixa esse desafio aos leitores. Como disse Julio César à sua tropa diante do Rio Rubicão, “a sorte está lançada” (“Alea jacta est”).

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