Muro cai, Muro sobe

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_16O mundo comemora os 25 anos da queda do Muro de Berlim. O Brasil, nação diferenta, onde tsunami vira marolinha e até Guido Mantega se transforma em ministro, prepara-se para comemorar, em maio próximo, os 25 anos de criação do Foro de São Paulo, uma tentativa de recriar a Guerra Fria tendo a Venezuela no papel que, no mundo sério, era desempenhado pela União Soviética.

Que tal comemorar com a construção de um novo Muro? Um Muro que separe a elite endinheirada branca e de olhos azuis dos defensores da igualdade social que se opuseram democraticamente, pelo voto, à alta dos juros, aos tarifaços de energia elétrica, ao aumento dos combustíveis, à libertação dos corruptos e à devastação da Amazônia seria uma beleza. O Muro deveria ser inaugurado em 2015, em homenagem ao Foro de São Paulo, mas não vai dar: as coisas estão meio atrasadas. É provável que só comece a funcionar junto com o trem-bala.

Mas as obras terão ritmo acelerado, tanto que o custo inicial previsto deve multiplicar-se algumas vezes – não muitas, porque gerentas competentas impedirão excessos. Superfaturamento, jamais! Isso seria explorado pela mídia reacionária, golpista, de direita, coxinha, obediente à zelite e ao zianque, mal-intencionada para falar mal do Governo mas que esquece o que veio antes, como as filipetas (nem no Google olham!) Talvez um overprice, umsurplus, assim mesmo, em língua de gringo, que é para ficar mais fácil dizer que ninguém sabia de nada (ou, se alguém contou, não deu para entender).

Enfim, está dada a ideia.

Todos juntos

Alberto Youssef, o doleiro preferido por nove entre dez envolvidos na Operação Lava-Jato, acaba de unir as pontas de dois escândalos: em seu depoimento da segunda-feira ao juiz federal Sérgio Moro, citou o falecido deputado federal José Janene, do PP, como responsável pela lavagem de dinheiro do Mensalão – usando, para isso, o mesmo esquema com que Youssef trabalharia no Petrolão. A presença de Janene, do PP, trabalhando num esquema do PT, com participação de políticos das mais variadas legendas, mostra o caráter suprapartidário tanto do Mensalão como do Petrolão.

Isso é o que torna as CPIs inúteis: tirando a parte teatral, em que Suas Excelências se mostram indignados, ninguém pode se aprofundar, para não prejudicar correligionários nem doadores de campanha. Mas o esquema parece ter desandado com a entrada nas investigações das autoridades americanas (as ações da Petrobras são negociadas em Nova York). Se Mensalão e Petrolão estão unidos, os americanos acabarão investigando os dois casos.

Quem é quem

Atenção para a entrevista em que Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, bateu duro em Dilma e em seu Governo. Gilberto Carvalho é petista há mais tempo que Dilma, tem amplo trânsito no partido; e, mais importante que isso, é quem diz o que Lula pensa mas não quer dizer pessoalmente. Gilbertinho é um dos petistas mais leais a Lula, e sabe o que fala.

Exemplificando

O colunista James Akel (http://jamesakel.zip.net/) lembra que Dilma, que prega o diálogo, jamais recebeu em audiência um dos parlamentares mais votados de seu partido, o senador Eduardo Suplicy. Nos seus quatro anos de Presidência, deixou Suplicy ao sol e ao sereno. É uma demonstração de que Gilberto Carvalho apontou problemas reais: a presidente pode achar que Suplicy é um chato, mas de qualquer forma é seu amigo.

E jamais faltou à lealdade com ela.

Bandidos com bandidos

“Estarrecido” com a interferência da Venezuela em assuntos internos brasileiros, demonstrada pela obscura viagem de um importante ministro de lá para assinar convênios secretos com o MST? É só o começo: O Globo mostra que narcotraficantes que arrecadam fundos no Brasil e na Argentina para o grupo terrorista Hizbollah se aliaram ao PCC, que comanda o crime organizado em nosso país. A parceria Hizbollah-PCC, diz o jornal, se iniciou em 2006; e desde 2008 a Polícia Federal a investiga. Os narcotraficantes do Hizbollah fazem o contato entre crime organizado e mercadores de armas e, se presos, são protegidos pelo PCC.

Atribui-se a brandura do Governo à falta de lei contra o terrorismo. Bobagem: traficantes são criminosos e podem ser presos, sem necessidade de lei específica.

O caminho das pedras

Nota do colunista Cláudio Humberto (www.diariodopoder.com.br):

“O PT tem bom motivo para criticar a auditoria das urnas eletrônicas: desde sua adoção, em 2000, nunca mais perdeu eleição presidencial”.

A pedra no caminho

Oi, Tim e Vivo estão na mira da Secretaria Nacional do Consumidor, por cobranças indevidas e outras irregularidades. Coisa brava: as três, se consideradas responsáveis pelos malfeitos, estão sujeitas a multas de até R$ 7,4 milhões.

É dinheiro – especialmente para empresas campeãs de multas. A Anatel já as multou em quase R$ 6 bilhões. Mas não se preocupe com a saúde financeira das empresas: até hoje, não se tem notícia de que uma única multa tenha sido paga. As operadoras recorrem, os processos dormem e tudo fica por isso mesmo.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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