Prisão de opositores do governo turco é considerada golpe contra a democracia

(M. Sezer - Reuters)
(M. Sezer – Reuters)
Liberdade ameaçada – A União Europeia (UE) criticou duramente a detenção, no domingo (14), de 27 jornalistas e supostos críticos do governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que supostamente são integrantes de uma conspiração para tirá-lo do poder.

Em um comunicado, a Alta Representante da UE para Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, e o comissário Johannes Hahn reiteraram que a batida policial não está de acordo com o direito à liberdade de imprensa e está em contradição com os valores europeus.

“Essa operação vai de encontro com os valores e as normas europeias”, salientaram. A adesão da Turquia à União Europeia depende “do pleno respeito ao Estado de Direito e aos direitos fundamentais”, acrescentaram no comunicado publicado neste domingo. Desde 1999, a Turquia é candidata à UE, e negociações estão em curso desde 2005.

Mogherini e Hahn exigem a aplicação do princípio da presunção de inocência e do direito de uma investigação independente. Os dois anunciaram que vão transmitir suas preocupações aos Estados-membros, que discutirão uma possível expansão do bloco nesta terça-feira.

“Dia negro para a democracia”

Segundo a mídia turca, três dos detidos – funcionários da popular série de TV Tek Turkiye (Uma Turquia), do canal STV – foram liberados nesta segunda-feira, mas 24 suspeitos ainda estariam sendo interrogados pela polícia local.

O jornal Zaman, cujo editor-chefe Ekrem Dumanli está entre os detidos, foi às bancas nesta segunda-feira com a seguinte manchete: “Dia negro para a democracia”. “O Zaman manterá sua abordagem pró-democracia, pró-liberdade e pacífica sem medo algum”, diz o jornal, alertando que a Turquia estava sendo “arrastada para um precipício”.

O colunista do jornal turco Hurriyet, Ahmet Hakan, escreveu que invadir redações e prender jornalistas é um “duro golpe” contra a democracia e a liberdade de expressão.

Já o líder do Partido Republicano do Povo (CHP), Kemal Kilicdaroglu, classificou a operação como um “golpe de Estado que não podemos aceitar de forma alguma”. “O processo pelo qual estamos passando não é algo que enfrentamos numa democracia saudável. Este é um processo de um golpe”, disse.

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“Sabor de vingança política”

Na Alemanha, o líder do Partido Verde, Cem Özdemir, declarou que as buscas e prisões são “mais um sinal de alarme” de que a Turquia está se distanciando da Europa e da democracia. Özdemir é o primeiro político de origem turca que foi eleito deputado do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão).

O Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), com sede em Nova York, também condenou a batida policial. “Enquanto detalhes ainda estão surgindo, isso já é conhecido: as autoridades turcas, que possuem um histórico de perseguição política contra a mídia, não toleram reportagens críticas”, disse o diretor executivo do CPJ, Joel Simon. “Essas ações de mão pesada têm um sabor de vingança política.”

Os Estados Unidos também expressaram preocupação com as detenções na Turquia. A porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, garantiu que os EUA estão “acompanhando de perto” relatórios e reportagens sobre a batida policial e as detenções.

“Liberdade de imprensa e independência judicial são elementos-chave em todas as democracias saudáveis e estão consagradas na Constituição turca”, lembrou Psaki. “Como amigo e aliado da Turquia, instamos as autoridades turcas a assegurar que suas ações não violam valores fundamentais e suas próprias bases democráticas.”

“Caça às bruxas”

No dia anterior às detenções, o jornal alemão “Süddeutsche Zeitung” publicou uma entrevista com o líder islâmico e opositor de Erdogan, Fethullah Gülen. Os jornalistas detidos neste domingo trabalham justamente para meios de comunicação ligados a Gülen.

Na entrevista, o líder islâmico, que vive no exílio no estado americano da Pensilvânia, classificou as ações das autoridades turcas contra opositores como uma “caça às bruxas”. “Sob o governo de Erdogan, o país se tornou um Estado de um partido ou, na verdade, até mesmo um Estado de um homem só”, criticou.

Gülen fundou o Hizmet, um movimento religioso e social transnacional que antigamente lutava contra o poder dos militares na Turquia, mas agora tem como principal alvo o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan.

De acordo com o “Süddeutsche Zeitung”, o presidente turco acusa Gülen de querer derrubar o governo com o Hizmet. Erdogan também afirma que o movimento de Gülen está por trás de acusações de corrupção contra seu governo e colocou supostos seguidores do opositor na mira da polícia e da Justiça. (Com agências internacionais)

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