Autoritário, presidente da FPF ignora o bom senso e frustra sonho de índios que disputariam a Copinha

marco_polo_01Pés pelas mãos – Em mais um ato de truculência explícita, o que não causa estranheza, a Federação Paulista de Futebol (FPF), sob o comando do autoritário e bisonho Marco Polo Del Nero, decidiu caminhar na contramão da lógica e acabar com o sonho de 28 garotos indígenas que disputariam a Copa São Paulo, o mais importante torneio futebolístico de base do País.

Responsável pela organização do evento que e nacionalmente conhecido como “Copinha”, a FPF alega que o Grêmio Osasco não entregou dentro do prazo estabelecido o documentos dos atletas que foram selecionados no Amazonas. O clube, que busca apoio para reverter a decisão arbitrária, não descarta a possibilidade de recorrer à Justiça para preservar seus direitos e não proporcionar um pesadelo aos atletas indígenas.

Ao contrário do que afirma a FPF, a diretoria do Grêmio Osasco garante que entregou a documentação no prazo (24 de setembro), ao mesmo tempo em que reconhece que parte dos documentos só foi enviada à entidade em novembro passado.

Diretor de Relações Institucionais do Grêmio Osasco, Nei Teixeira afirma que à FPF faltou bom senso ao não aceitar a inscrições dos índios. “É um projeto importante de inclusão, mas tivemos dificuldades que não conhecíamos, precisamos buscar autorização da FUNAI (Fundação Nacional do Índio), alguns garotos não tinham histórico escolar”, disse Teixeira.

A grande questão em relação ao veto aos jogadores indígenas não é apenas a transformação de um sonho em pesadelo ou falta de bom senso, mas, sim, falta de visão de marketing, pois a competição ganharia maior visibilidade e espaço na mídia caso os índios pudessem jogar.

A informação de que os indígenas não poderiam disputar a “Copinha” foi enviada por e-mail por Walter Feldman, secretário-geral da FPF. Questionada sobre os motivos da recusa por parte da federação, a assessoria de imprensa da entidade disse que não poderia fornecer qualquer informação por conta do recesso de final de ano.

Para formar uma equipe de jogadores indígenas, o primeiro da C opa São Paulo, o clube investiu R$ 300 mil, dinheiro gasto com as despesas de dois integrantes da comissão técnica do Grêmio Osasco que viajaram a Tabatinga, na fronteira com o Peru e a Colômbia, onde passaram quatro meses selecionando e treinando atletas da cidade e de comunidades próximas. Como alguns dos garotos selecionados dos garotos não compreendem a língua portuguesa, o Grêmio Osasco trouxe a São Paulo um tradutor para auxiliar na comunicação entre os jogadores e a comissão técnica.

O Grêmio Osasco disputaria a Copinha pelo Grupo Q, contra o Flamengo, Sampaio Corrêa e Vilhena. A estreia estava marcada para o dia 3 de janeiro. Sem poder contar com os atletas indígenas, que por certo seriam a sensação da competição, o clube dará a vaga ao Osasco F.C., que pertence ao mesmo proprietário e cujos jogadores estão com a documentação regularizada.

O plano da diretoria do Grêmio Osasco é encontrar atividades esportivas para os indígenas que estão em São Paulo desde o início de dezembro. Um dos compromissos já agendados é uma partida no Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã, no Rio de Janeiro, no dia 27, em uma das preliminares do Jogo das Estrelas, duelo beneficente idealizado por Zico.

Na sequência, a ideia é encontrar um adversário de peso para um amistoso em janeiro. A diretoria do Grêmio Osasco negocia a vinda de equipes sub-20 de Boca Juniors, River Plate e San Lorenzo, da Argentina. O retorno dos atletas para o Amazonas está agendado para o dia 13 de janeiro, mas existe a possibilidade de alguns jogadores indígenas serem aproveitados nas categorias de base do Grêmio Osasco.

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Quem é o presidente da FPF

Vice-presidente da Confederação Brasileira de Futebol e próximo presidente da entidade, Marco Polo Del Nero é mais uma dessas figuras canhestras que frequentam o universo do futebol brasileiro. Adepto da teoria burra do “você sabe com que está falando”, Del Nero tem o costume de intimidar pessoas e bisbilhotar a vida de parceiros, como se no Brasil a violação de privacidade não fosse crime.

Durante a Operação Durkheim, deflagrada em novembro de 2012, a Polícia Federal cumpriu 87 mandados de busca e apreensão, incluindo um na casa de Marco Polo Del Nero. Os agentes da PF apreenderam na residência do “cartola” documentos e um computador. Levado para a Superintendência da PF em São Paulo, Del Nero prestou depoimento – não se sabe se como suspeito ou vítima – e foi liberado em seguida.

Em nota distribuída à época pela CBF, Del Nero informou que seu nome foi envolvido na investigação por ter contratado empresa de investigação para levantar a ficha de uma pessoa com quem pretendia fazer negócios. Desculpa esfarrapada, pois esse tipo de informação consegue-se legalmente na Justiça e nos serviços de proteção ao crédito. O que mostra de forma inconteste a postura truculenta e autoritária do presidente da FPF.

Marco Polo Del Nero alegou que dispensou os “arapongas” quando a empresa lhe ofereceu dados que eram aparentemente ilegais. O “cartola”, no entanto, não informou que tipo de negócio entabulava na ocasião, a ponto de precisar contratar arapongas. Por certo não era um negócio dentro da ortodoxia, até porque esse tipo de transação dispensa o uso dos subterrâneos criminosos do poder.

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