Prisão de Cerveró turbinou o estado depressivo dos executivos de empreiteiras “hospedados” na PF

algemas_11Sol quadrado – A chegada de Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras, à carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, aumentou o clima de desespero e desânimo que domina boa parte dos presos na Operação Juízo Final, sétima etapa da Operação Lava-Jato.

A prisão de Cerveró, ocorrida nos primeiros minutos da quarta-feira (14), no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, fez crescer a apreensão no universo político nacional, onde muitos já têm perdido o sono por causa do envolvimento, direto ou indireto, no maior escândalo de corrupção da história brasileira. No Palácio do Planalto, o staff presidencial torce para que o ex-dirigente da estatal seja colocado em liberdade o mais rápido possível, pois temem que ele se renda à delação premiada. O que causaria um estrago maior do que o já existente, uma vez que com todos os envolvidos no esquema presos a chance de uma delação coletiva aumenta sobremaneira.

No caso de Nestor Cerveró resolver contar tudo o que sabe em troca de redução de eventual pena, uma avalanche de denúncias cairá sobre os principais partidos da chamada base aliada, que por enquanto continuam fingindo inocência. O principal prejudicado no vácuo de eventual delação de Cerveró é o PMDB, partido que a partir da próxima legislatura pretende dificultar a situação de Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Essa afirmação encontra respaldo no depoimento de Cerveró à Polícia Federal, na tarde desta quinta-feira (15). O ex-executivo da Petrobras disse que o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, atuava não apenas na diretoria Internacional da estatal, mas também na de Abastecimento e na de Gás e Energia. Sempre em nome de empresas e supostamente a mando do PMDB.

A presença do ex-diretor da Petrobras na carceragem da PF deve estimular os outros presos, em sua maioria executivos de empreiteiras, a acelerar o processo de negociação da delação premiada, que no caso de pessoas jurídicas é acordo de leniência. Isso porque os executivos têm enfrentado longos momentos de depressão, situação classificada como “digna de pena” por um policial federal que frequenta a carceragem da PF em Curitiba e repassou ao UCHO.INFO informações sobre os presos da Lava-Jato.

A vida como ela é

Acostumados à vida farta e às mordomias patrocinadas pelo dinheiro fácil da corrupção, os executivos das empreiteiras têm se deparado com situações inusitadas, pelo menos para os marajás do Petrolão. Presos há mais de dois meses, os executivos são obrigados a dormir em cela com capacidade para três pessoas, a fazer as necessidades fisiológicas na frente dos outros, a lavar as próprias roupas em tanque disponível na carceragem e a se submeter a procedimento padrão, porém vexatório, no momento em que recebem as refeições.

Um dos mais afetados psicologicamente por esse cenário é Eduardo Hermelino Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa, que antes da prisão abusava da empáfia e da ostentação. Leite, que ficou conhecido nos meandros da patifaria que se instalou na Petrobras como “Leitoso”, já teve três pedidos de habeas corpus negado e aguarda o julgamento do quarto, que será apreciado pela ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), magistrada conhecida por decisões duras e implacáveis, mas sempre dentro da lei.

A grande questão que atormenta os executivos presos é que os advogados, contratados a peso de ouro no rastro da promessa de atuações milagrosas no Judiciário, têm colecionado seguidas derrotas na tentativa de colocar os clientes em liberdade. Nem mesmo a conhecida manobra de aproveitar o recesso do Judiciário e recorrer ao plantão judicial funcionou. O que tem deixado os presos ainda mais preocupados com o futuro.

Todos os presos à sombra da Operação Lava-Jato que se encontram na carceragem da PF têm mais um longo período de estada na prisão, caso os advogados não consigam convencer a Justiça sobre a inocência dos clientes ou o direito a responder o processo em liberdade. Como o Ministério Público Federal constatou que o esquema de corrupção avançou na Petrobras mesmo depois da deflagração da Lava-Jato e da prisão dos envolvidos, falar em soltura é tão perigoso quanto brincar (sic) de roleta-russa.

Considerando que o juiz Sérgio Fernando Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, pretende ser célere no julgamento dos processos decorrentes da Operação Lava-Jato e duro nas decisões, os quadrilheiros do Petrolão podem permanecer presos até o trânsito em julgado da sentença condenatória. Em outras palavras, os alarifes que saquearam os cofres da petrolífera continuarão contemplando o raiar o astro-rei de forma geometricamente distinta. E sem os mimos dos respectivos empregados e assessores, que nos tempos de liberdade e bandidagem camuflada faziam os desejos dos patrões, a quem chamavam de doutores.

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