A hora da solidão

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_16O presidente da Câmara é do PMDB, que apoia Dilma e tem meia dúzia de ministros. E ninguém se surpreenderá se der andamento privilegiado aos pedidos de impeachment que a oposição promete fazer. Marta Suplicy é de seu partido, o PT, foi ministra de seu Governo. Tem falado muito sobre Dilma, nunca para elogiá-la. A oposição, óbvio, é contra Dilma; e, mesmo que não seja muito oposicionista, gosta de falar mal dela. Lula, que a criou, ensurdece o país com seu silêncio, enquanto ela é massacrada. Até José Dirceu, o mais petista dos petistas, dos que acham que nem Lula é ortodoxo como deveria, abre fogo contra Dilma.

Em seu blog – ou seja, por escrito, e assinado, para ninguém ter dúvidas – o Guerreiro do Povo Brasileiro diz que aquela a quem chamava de “companheira de armas” sustenta uma política econômica que coloca o Brasil “na contramão do mundo desenvolvido”. É exatamente o que pensa a oposição, embora faça a mesma crítica pelo motivo oposto. Dilma está sozinha, no olho do furacão.

Aliás, Dilma não está sozinha: sozinha estaria melhor. Tem a seu lado Aloizio Mercadante, Pepe Vargas, Miguel Rosseto, mais aquele senhor generoso que arranjou crédito subsidiado, dos bons, para Val Marchiori. E não foi este colunista, nem o caro leitor, que nomeou e mantém José Eduardo Cardozo no Ministério da Justiça. Quem gosta de sapato apertado não pode queixar-se dos calos.

Dilma tem a força política dos recém-eleitos. Mas é preciso lembrar que Collor não caiu por seus (inúmeros, e graves) defeitos.

Caiu por estar sozinho.

A crise que nos rodeia

Este colunista não é pessimista nem otimista: é jornalista. Considera-se realista. Se todos os setores políticos se afastam de quem tem ainda quatro anos de mandato e dispõe de mais de cem mil cargos sem concurso para preencher como quiser, algum motivo têm. No Brasil, já houve quem visse onça confraternizar com leitão, mas esta deve ser a primeira vez em que alguém vê o PMDB se afastar de quem tem nomeações a oferecer. E a crise continua: fora as denúncias contra políticos acusados de envolvimento no Petrolão, que vêm sendo adiadas há meses, há as demissões – tanto as causadas pela paralisia econômica quanto as promovidas pelas empresas acusadas no caso.

Há ainda o fantasma do HSBC, em que oito mil brasileiros foram identificados como proprietários de algo como 8,5 bilhões de dólares- alguns, legalmente; outros, não. A lista completa está em poder de um repórter brasileiro, que não a divulga por não conseguir distinguir os legais dos ilegais. Mas na hora em que conseguir separá-los, quem estará lá?

Ah, as teorias

O problema das teorias conspiratórias é que eventualmente se confirmam. Uma das teorias conspiratórias a respeito da não-divulgação dos nomes de brasileiros na lista do HSBC tem algo a ver com o Petrolão: se a lista não é divulgada, qualquer nome pode ser citado, sem que haja a possibilidade de desmentido (nem de confirmação, mas esse já é outro problema).

Com isso, embola-se o meio de campo e se tumultua a divulgação da lista de políticos eventualmente envolvidos no Mensalão, cujo caso será da competência do Supremo.

Custe o que custar

Esta será uma semana difícil para a presidente. O PMDB quer votar a proposta de emenda constitucional que eleva de 70 para 75 anos a idade máxima de aposentadoria para o ministro do Supremo (PEC da Bengala), o que impedirá Dilma de nomear cinco futuros ministros. Discute-se o veto à correção plena da isenção de Imposto de Renda para assalariados (Dilma gostaria de corrigir a isenção abaixo da inflação, para aumentar a receita do Governo). São derrotas possíveis – e boa parte dos deputados pendulares já avalia o valor de seu voto.

Livre pensar…

Carnaval fora de época chama-se “micareta”. No Congresso, que parou no dia 11 e só volta no dia 23 (na verdade, 24, quando o PMDB se reúne em Brasília, porque na segunda ninguém aparece), será que se pode falar, lembrando o imortal discurso de Lula, de “300 Micaretas”?

Enfim, o custo do Carnaval ampliado no Congresso, diz o portal Contas Abertas, é de R$ 300 milhões.

…é só pensar

Se bem que político ausente nem sempre represente um gasto extra. O governador mineiro Hélio Garcia, quando era criticado por ficar mais na fazenda do que no palácio, dizia que cada vez que faltava ao trabalho Minas fazia economia.

São Paulo, Brasil

Há coisas que, contando, não dá para acreditar. É preciso ver as fotos; e várias fotos, publicadas em lugares diferentes. As fotos mostram o nível da maior represa do sistema Cantareira, que abastece São Paulo, no dia em que esteve mais baixo e depois de alguns dias de chuva. O ponto de referência é a carcaça de um carro sabe-se lá há quanto tempo desovado nas águas.

Traduzindo: a represa secou, a carcaça do carro ficou exposta, e ninguém se deu ao trabalho de removê-la. Quando a represa estiver cheia, ninguém vai remover o carro porque estará submerso. E, claro, a carcaça do carro não é o único entulho existente por lá. Alguém poderia explicar por que não se aproveitou a seca para limpar a represa?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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