O fio do bigode

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13Oposição e situação estão de acordo num ponto: o culpado da crise é Aloizio Mercadante, que acumula as funções de chefe da Casa Civil, ministro mais poderoso, principal articulador político oficial e papagaio de pirata de Dilma.

A crise é tamanha que, quando oposição e situação ficam de acordo, fazem o acordo errado. Mercadante não é nenhuma Brastemp, exceto num ponto em que é insuperável, o de papagaio de pirata. Mas o nome da crise é Dilma Rousseff.

Não foi Mercadante que obrigou a Petrobras a importar petróleo caro e vendê-lo barato, não foi Mercadante que segurou Mantega na Fazenda (aliás, adoraria derrubá-lo, para ficar no lugar dele), não foi Mercadante que obrigou a presidente a isolar-se em seu gabinete e levar um ano para receber credenciais de diplomatas estrangeiros. Nem foi Mercadante que a obrigou a ser grosseira com o embaixador da Indonésia, um país amigo, e a criar uma crise desnecessária.

O problema de Dilma é que se acha oniscienta – sabe tudo, dos jogadores que devem ser convocados para a Seleção até as aplicações, pacíficas ou bélicas, da energia nuclear. Decide sozinha; e, para ela, bom ministro é o que obedece sem discutir. Tirar Mercadante, tirar Pepe Vargas, seja lá quem for Pepe Vargas, não adianta. Pode ser difícil para ela aceitar a realidade, mas não existe dilmismo. Politicamente, o que existe é Lula, cabendo a ela apenas manter a poltrona ocupada. Aceitar a vida como ela é e seguir o líder é a solução para Dilma, se ainda houver tempo.

Mas justo Dilma acreditará que alguém saiba mais do que ela?

Didi…

Dilma foi ao Rio, na quinta, inaugurar um terminal portuário. Beleza: a área, com 500 metros de frente para o porto, foi entregue sem licitação a duas empresas, a Multiterminais e a Libra. A Libra tem dívida de quase R$ 2 bilhões com o Porto de Santos – ou seja, o Governo Federal. A presidente inaugurar o terminal de uma empresa devedora do Governo Federal, em área concedida sem licitação, não é algo que lhe tenha sido proposto por Mercadante.

É típico de Dilma.

…Dedé…

A presidente recebe Toffoli em audiência, logo depois que o ministro muda de turma no Supremo para comandar o julgamento dos políticos do Petrolão. Toffoli, que foi advogado do PT, consultor da CUT, assessor do PT na Câmara Federal, subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil no Governo Lula (o ministro era José Dirceu), advogado geral da União, esteve com Dilma e os ministros Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo. Segundo explicaram, não se discutiu o Petrolão: Toffoli apenas mostrou sua proposta de criar um registro único para todos os cidadãos.

É verdade, mas não toda a verdade: parece que conversaram também sobre receitas de pudim. O Coelho da Páscoa confirma tudo.

…Muçum…

O relator da CPI do Petrolão, o ex-ministro Luiz Sérgio, do PT do Rio, formulou a seguinte pergunta a Pedro Barusco, o gerente da Petrobras que fez delação premiada e já devolveu algo como R$ 200 milhões ao Tesouro:

“O crime compensa?”

Não, não compensa. O pessoal continua roubando porque gosta de sofrer.

…Zacarias

Cesare Battisti, condenado na Itália à prisão perpétua por quatro assassínios, vivendo no Brasil por decisão do presidente Lula, que negou sua extradição, mas ameaçado de deportação por ordem judicial, foi preso e, poucas horas depois, libertado por habeas corpus.

Até aí, normal. O que não é normal foi a ordem do prefeito petista Fernando Haddad para que o secretário municipal de Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, fosse buscá-lo na prisão. Que é que a Prefeitura paulistana tem com o caso? Algum outro preso libertado por habeas corpus mereceu a mesma gentileza? Ou a bondade só vale para acusados de terrorismo?

O desejo do PMDB

O colunista Lauro Jardim (http://veja.abril.com.br/blog/radar-on-line/), numa análise irretocável:

De um conhecedor das profundezas da alma do PMDB:

“O PMDB não quer o impeachment de Dilma. O PMDB quer que Dilma precise desesperadamente do PMDB”.

Previsão

Fernando Gabeira: “Não vejo outro caminho a não ser uma crise prolongada”.

Lembranças

Joaquim Barbosa: “1- quem diria em maio de 1789 que aquele convescote estranho realizado em Versalhes iria desembocar na terrível revolução francesa? 2) em 15/11/1889, nem mesmo o general Deodoro da Fonseca tinha em mente derrubar o regime imperial sob o qual o Brasil vivia. Aconteceu; 3) nem o mais radical bolchevique imaginaria lá pelos idos de 1914 que a 1ª Guerra Mundial facilitaria a queda do regime czarista da Rússia”.

Por que Joaquim Barbosa publicou essas três notas sobre História? “Porque no Brasil pouca gente pensa nas voltas e nas peças que a História dá e aplica”.

É ler as frases e imaginar o que é que o ministro Barbosa anda pensando.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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