Petrobras decide usar fórmula mirabolante para calcular prejuízos com escândalos de corrupção

petrobras_23Calculadora esperta – A estatal brasileira Petrobras, vítima de um dos maiores esquemas de corrupção da história, achou uma solução no mínimo inusitada para destravar o seu complicado balanço financeiro. Conforme apurou o jornal “O Estado de S. Paulo”, a empresa recorrerá aos valores “oficiais” da Operação Lava-Jato para incluir nos balanços dos terceiro e quarto trimestres do ano passado as perdas decorrentes do Petrolão. A companhia obteve de todas as instâncias judiciais os documentos relacionados aos ilícitos, com os respectivos valores dos desvios.

Ainda não foi divulgado o valor exato a ser incluído no balanço, somente a informação de que será “infinitamente menor” do que os R$ 61 bilhões que a diretoria anterior sugeriu como perdas. Nesse valor está contabilizado, além dos dados sobre eventuais desvios, o saldo de ativos envolvidos na investigação e que estariam superavaliados.

Entretanto, pelos números já divulgados pelo Ministério Público Federal, os crimes denunciados envolvem o desvio de cerca de R$ 2,1 bilhões.

Vale ressaltar que, na primeira instância, são cobrados R$ 4,47 bilhões por desvios de recursos, multas e indenização por danos morais coletivos. E o MP conseguiu, por meio de uma cooperação internacional, bloquear R$ 1,3 bilhão em contas na Suíça de pessoas supostamente envolvidas no esquema. Por enquanto não há como se obter um total, visto que os valores referem-se a diferentes eventos e pode haver duplicidade de contagem. Além disso, cada órgão está em uma etapa da investigação.

A informação é que a estatal trabalha com dados repassados diretamente pela justiça, e está cruzando todos os valores para, então, chegar a uma conclusão de quanto foi o desvio de recursos da empresa comprovados. O balanço deve ser publicado no máximo no início de abril. Os montantes desviados em atos sob suspeita de corrupção devem ser incluídos integralmente como perdas no balanço nos terceiro e quatro trimestres de 2014. A perda contábil vai reduzir bastante o lucro da companhia. Desta forma, serão muito baixos os dividendos relativos ao exercício do ano passado. Há ainda a possibilidade de não haver distribuição de dividendos.

Em 2013, o lucro foi de R$ 23,6 bilhões, significando que, para zerar o lucro do ano passado, as perdas da companhia teriam de equivaler a R$ 20 bilhões.
Uma das principais preocupações da Petrobrás é que a baixa contábil deve levar a uma redução de seu patrimônio. E assim, seu nível de endividamento proporcionalmente ao patrimônio ficará muito elevado, indicando um grande aumento de risco para os investidores.

Segundo o balanço divulgado pela PricewhitehouseCoopers (PwC) em setembro de 2014, a Petrobras tinha dívida líquida de R$ 261,445 bilhões e dívida bruta de R$ 331 bilhões. Sua dívida já correspondia a mais de 4,6 vezes o lucro antes do pagamento de juros, impostos e amortizações (Ebitda). Essa proporção é limitada a um referencial de 3,5 vezes para as empresas detentoras de grau de investimento – aquelas com baixo risco para investidores.

Em fevereiro a companhia perdeu o grau de investimento e foi rebaixada a grau especulativo pela classificadora Moody’s. (Por Danielle Cabral Távora)

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