Ele sabe, porque esteve lá

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_13A frase é de um sábio, o empresário que reergueu a Folha de S.Paulo, Octavio Frias de Oliveira: a vantagem do idoso é que já viu tudo acontecer, e ao contrário também. Fernando Henrique é inteligente e idoso; um idoso que estudou muito, estuda muito até hoje, deu aulas no Brasil e no Exterior, conheceu derrotas e vitórias, reuniu e comandou a equipe que criou e implantou o Plano Real, foi presidente da República. Conhece – faz tempo – todos os lados do balcão. Pode errar, frequentemente errou; mas o que diz deve ser ouvido e levado em conta, mesmo que para discordar.

As manifestações contra Dilma, somadas às pesquisas, mostram um Governo politicamente fraco, sem rumo, refém de aliados não muito recomendáveis. As investigações do Petrolão, e as violações apontadas pelo Tribunal de Contas nas contas públicas, reforçam a tese do impeachment. Até Aécio, sempre cauteloso, aderiu a ela. Fernando Henrique é contra – não por gostar de Dilma ou de Lula, mas em defesa das instituições.

Na opinião de Fernando Henrique, cabe à Polícia encontrar provas de que Dilma cometeu crime de responsabilidade. Cabe ao Ministério Público denunciá-la. E só então os partidos, respaldados por evidências jurídicas, devem analisar politicamente a conveniência da medida extrema.

Fernando Henrique sofre ataques até dos aliados. Mas sabe que isso não tem importância. Importante é estar certo. E ele tem certeza de que está.

Quem é quem

Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, promete formalizar o pedido de impeachment de Dilma até maio, com apoio de Aécio.

Só que Fernando Henrique se elegeu presidente duas vezes e Aécio foi derrotado.

O fato em si

A propósito, a discussão é teórica. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, do PMDB fluminense, já disse que não receberá o pedido de impeachment a menos que lhe tragam fatos novos (que ainda não existem). Para Cunha, a situação atual é ótima: Dilma depende dele e faz o que ele quer. Por que iria contribuir para afastar uma presidente tão prestimosa?

Provocação

O oposicionista Fernando Henrique é contra o impeachment. A presidente da República, em vez de ajudá-lo (e ajudar-se), não para de dar motivos para quem é favorável a seu afastamento. O último: considerando que as empreiteiras decidiram não contribuir para as próximas campanhas, aprovou um brutal aumento da verba pública a ser dada de presente aos partidos.

Cortes de despesas? Isso é para setores menos importantes, como Educação, Saúde, aposentados. O Fundo Partidário foi triplicado, dos previstos R$ 289,5 milhões para R$ 867,5 milhões. O PT de Dilma recebe a maior fatia, R$ 116 milhões.

Você, caro leitor, paga a campanha deles.

O dia quente de hoje

A Petrobras divulga hoje seu balanço, auditado, às 18h. Se for bem aceito pelo mercado, a vida da empresa melhora muito. Se não for bem aceito, piora. O balanço está atrasadíssimo: deveria ter sido divulgado no segundo semestre do ano passado e já foi adiado duas vezes, por dificuldades no cálculo do que foi subtraído no Petrolão.

O atraso na publicação do balanço autoriza os credores a cobrar antecipadamente as dívidas – uma quantia difícil de ser paga a vista, algo como R$ 300 bilhões.

Amanhã é outro dia

Vale a pena prestar atenção: às 9h30 de amanhã, quem depõe na CPI da Petrobras é Augusto Mendonça Neto, da Setal, um dos delatores premiados que acusaram João Vaccari Neto de receber propinas em nome do PT. A ligação do PT ao Petrolão pode trazer-lhe grandes problemas jurídicos.

E a vida segue

Escandalizado? Nada está tão ruim que não possa piorar. O general paraguaio Juan Antonio Pozzo Moreno disse ao jornal ABC Color, de Assunção, que se a Controladoria Geral do Paraguai e o Tribunal de Contas do Brasil investigarem a Itaipu Binacional, “o escândalo da Petrobras será nada mais que uma simples anedota”.

Pozzo Moreno cita o deputado paranaense Luiz Carlos Hauly, do PSDB, que pediu maior controle sobre a empresa. Desde sua criação, disse Hauly, citado por Pozzo, Itaipu nunca teve supervisão externa, “nem do Paraguai nem do Brasil”. A Petrobras tinha e mesmo assim ocorreram problemas. Imaginemos sem supervisão.

Retrato do Brasil

Obedecendo a resolução do CNJ, o Tribunal de Justiça do Rio divulgou sua folha de pagamento. Um juiz, mesmo em início de carreira, pode receber de R$ 40 a R$ 150 mil reais por mês (o teto seria de R$ 24.117,62). Em dezembro de 2011, um desembargador recebeu R$ 511 mil (outro, só R$ 462 mil). Há juízes que recebem R$ 400 mil anuais por “vantagens eventuais”.

E lembre, caro leitor, são seus empregados. Você é que os paga.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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