Banco Central sinaliza que pode soltar o câmbio, o que acarretará dólar e juro mais altos

dolar_54Rédea frouxa – O Banco Central sinalizou que uma menor intervenção no câmbio reverte a tendência recente de apreciação do real, podendo representar a necessidade de alta maior das taxas de juro. Porém, a postura do BC não impede o País a ter uma política cambial mais estável e juros menores no médio e longo prazos.

Caso mantenha em maio o volume de swaps cambiais do leilão de segunda-feira (4), o BC deverá rolar apenas cerca de 80% dos US$ 9,66 bilhões, cujos contratos vencem em 1º de junho.

Nesses leilões o Banco Central vende dólar futuro, assim, o volume menor significa menos alívio para o real e maior pressão de alta para a moeda norte-americana. O mercado, que vem cobrando a redução, ou mesmo o fim das intervenções do BC, considera um real mais desvalorizado pré-requisito para reduzir o déficit em conta corrente e estimular o crescimento.

Segundo Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, em Nova York, “o BC tem de deixar o dólar andar”. Para Ramos, o dólar deveria subir ainda mais, para entre R$ 3,40 e R$ 3,60, para ajudar a ajustar a economia, mesmo que para isso o Banco Central tenha de elevar mais os juros para segurar o repasse do dólar para a inflação.

O economista prevê alta de mais 0,25 pp da Selic na reunião de junho do Comitê de Política Monetária (Copom), podendo ser +0,50 pp caso o dólar continuar subindo e passar de R$ 3,30. Contudo, ele considera esse ajuste não apenas positivo como necessário.

Se o maior realismo cambial for acompanhado pelo ajuste fiscal, o resultado no médio e longo prazo poderá ser uma reversão da alta do dólar e dos juros, que vão se materializar assim que a economia se reequilibrar, com crescimento mais vigoroso. Ainda segundo Ramos, o ajuste clássico de uma economia em recessão requer moeda desvalorizada e juros baixos.

O que faz com que o Brasil tenha de continuar com a distorção de seguir subindo os juros, mesmo com a atividade fraca, para manter a inflação sob controle, no curto prazo, é a ausência do ajuste fiscal. A inflação brasileira, acima do nível dos maiores parceiros comerciais do País, é um dos motivos de a balança comercial ainda não ter reagido mesmo após a alta do dólar nos últimos anos. Isso porque a inflação eleva os custos, anulando parte dos ganhos de competitividade gerados pela alta do dólar.

O outro motivo é o fato de, além do real, outras moedas, como o euro, o iene e o peso argentino, terem se desvalorizado, o que também anula parte da vantagem cambial dos exportadores brasileiros.

Quando se desconta o diferencial de inflação e a variação de uma cesta de moedas, a desvalorização do real, de cerca de 30% desde 2013, cai pela metade, para perto de 17%, revelou o economista do Goldman. Por isso, o ajuste cambial ainda é insuficiente, mesmo após o dólar atingir o patamar de R$ 3,00.

Ramos também considerou que o desajuste da economia brasileira é ainda maior do que o sugerido pelo déficit em conta corrente, de 4% do PIB. Sem a recessão, que impede crescimento ainda maior dos gastos do País no exterior, o déficit seria muito maior, na casa de 6% do PIB.

Com a redução da oferta para rolagem dos swaps, o BC parece inclinado a diminuir esta distorção na economia associada ao câmbio, ainda que pagando o preço de juros mais altos no curto prazo. (Por Danielle Cabral Távora)

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