Com contratos ameaçados, grandes fornecedores da Petrobras sangram com a burocracia da Caixa

estaleiro_riogrande_01Fora do tom – Os brasileiros têm acompanhado os desdobramentos quase sem fim da Operação Lava-Jato, na expectativa de que todos os culpados sejam exemplarmente punidos, mas é preciso pensar o Brasil do amanhã, enquanto conserta-se o presente. Isso exige que o Estado encontre uma saída para o nó que se formou no vácuo de um escândalo de corrupção sem precedentes na história global, que não pode parar uma nação apenas porque partidos políticos transgrediram todas as regras e leis.

A solução está na retomada dos investimentos, como um todo, o que passa obrigatoriamente pela Petrobras. O enigma dessa operação surge na dificuldade de recolocar em marcha a estatal petrolífera, que não reverterá a situação atual apenas com discursos bem elaborados e recheados com frases de efeito.

Entre o que diz Dilma Rousseff, a presidente da República, e o que promete Aldemir Bendine, principal executivo da Petrobras, há um cipoal de convergências, todas fincadas na seara do descompasso. Horas depois da divulgação do balanço auditado da estatal, Dilma disse que a companhia petrolífera havia virado a página.

“Considero muito importante a aprovação do balanço porque a Petrobras vira uma página e acerta seu passo. Tenho certeza que a Petrobras ainda vai dar muitas alegrias para nós nos próximos meses e anos”, disse Dilma Rousseff no último dia 24 de abril.

A presidente pode dizer o que quiser, até porque o Brasil ainda é uma democracia, mas uma contabilidade chancelada por especialistas não tem condições de funcionar como borracha do maior escândalo de corrupção da história. Ao mesmo tempo em que o escândalo e suas reticências não podem parar o País.

Para a Petrobras, que apesar das confusões continua sendo a maior empresa nacional, retomar o status de cornucópia da alegria é preciso que as promessas de Bendine alcancem o campo da realidade. A primeira medida para viabilizar essa reviravolta é manter os investimentos, mesmo com o recuo do preço do petróleo no mercado internacional. O maior erro da Petrobras, depois de vender combustível por preço subsidiado durante anos no mercado interno, foi não avançar na exploração de petróleo. Algo que precisa ser retomado com urgência, caso Dilma não queira vestir a fantasia de mentirosa e Bendine sonhe em escapar do carimbo de fanfarrão obediente ao Palácio do Planalto.

A grande questão em relação ao futuro da Petrobras está nos compromissos assumidos pela estatal com grandes fornecedores, os quais começam a enfrentar problemas na esteira dos efeitos colaterais do escândalo do Petrolão. Com problema de fluxo de caixa e sem a credibilidade de outrora para captar vultosos recursos no mercado financeiro internacional, a petroleira verde-loura carrega dívida bilionária, ao mesmo tempo em que age de forma míope em relação ao futuro.

Enquanto os brasileiros aguardam o desfecho da Operação Lava-Jato, a Petrobras cria dificuldades para alguns dos seus principais fornecedores, em especial os fabricantes de plataformas petrolíferas. É o caso o estaleiro Rio Grande, no Rio Grande do Sul, que há meses aguarda a liberação de um empréstimo da Caixa Econômica Federal no valor aproximado de R$ 63 milhões, aprovado em outubro de 2014. Desde a aprovação, a empresa, que pertence ao grupo da empreiteira Engevix, investigada na Lava-Jato, o estaleiro vem mantendo sua estrutura em funcionamento, sem que o governo federal e a companhia tivessem se movimentado para liberar o dinheiro do tal empréstimo.

A situação é no mínimo estranha, pois a Petrobras precisa do estaleiro Rio Grande, enquanto o fabricante de plataformas petrolíferas aguarda a boa vontade do governo. Cenário que remete ao dito popular do “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

As dificuldades criadas pelo governo são tamanhas, que um experimentado e reconhecido banqueiro do setor de investimentos, que esteve na China nos últimos dias em busca de alternativas para o estaleiro Rio Grande, acabou se deparando com a peçonha da administração petista. Um executivo do China Development Bank, instituição que está disposta a despejar recursos no estaleiro gaúcho, quis saber as razões das dificuldades criadas pela Caixa em relação ao arrastado empréstimo.

Para que os leitores do UCHO.INFO avaliem a irresponsabilidade do governo federal e da Caixa, o Rio Grande assinou contrato de fornecimento de oito plataformas à Petrobras, mas a depender da demora na liberação do empréstimo o estaleiro pode suspender a produção. Isso significa a demissão de milhares de trabalhadores, algo desaconselhável em tempos de desemprego em alta.

Contra o estaleiro Rio Grande, o maior do hemisfério sul, não há qualquer condenação no âmbito da Operação Lava-Jato, assim como inexistem recomendações de órgãos públicos de fiscalização impedindo que a estatal faça negócios com a empresa. Fato que por si só justifica a liberação do empréstimo, que por certo passou pelo crivo da Caixa e tem as garantias devidas. Aliás, as próprias plataformas garantem o pleito financeiro. Outro fator que endossa a urgente liberação do empréstimo é a dependência da Petrobras em relação às plataformas, sem as quais não há exploração de petróleo.

Ademais, se um banco oficial da China, país onde a corrupção é punida com rigor excessivo, está disposto a financiar a operação o estaleiro nacional, não há razão para o governo e a Caixa continuarem inviabilizando o País.

O setor de infraestrutura brasileiro está na corda bamba por conta das empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato, mas é preciso pensar o Brasil no longo prazo. Sem a retomada das grandes obras, o País afundará ainda mais na crise econômica que vem tirando o sono da população. Para o governo ter quebrado o Brasil parece pouco, por isso os palacianos agora se esforçam para levar à bancarrota a Petrobras e seus fornecedores.

Não se trata de defender essa ou aquela empresa, mas de buscar uma solução imediata que reinvente o presente e garanta o futuro do Brasil. Sempre lembrando que a crise da Petrobras há de refletir em breve na educação pública brasileira, que de acordo com a pirotecnia do governo sobreviverá com os dividendos do petróleo do pré-sal. Ou seja, é preciso tirar o ouro negro das profundezas do oceano para que o Brasil não perca o passo de uma vez.

Com a palavra, a presidente Dilma Rousseff e a comandante da Caixa, a “companheira” Miriam Belchior!

apoio_04