Confiar, crer, acreditar

(*) Carlos Brickmann –

carlos_brickmann_09A inflação continua subindo acima das expectativas, o Produto Interno Bruto cai mais do que se esperava, os vários poderes da República se distraem arrancando (para eles mesmos) cada vez mais de uma riqueza cada vez menor. Joaquim Levy? E como empresários e trabalhadores confiarão em Joaquim Levy se as próprias forças do Governo em que ele trabalha o hostilizam e sabotam?

Em economia, como em política, há um fator invisível que determina o futuro: a confiança. Confiar significa compartilhar a fé; dar crédito a alguém ou a alguma coisa. Quem não confia não investe, porque não tem lá muita certeza de que vai receber seu dinheiro de volta. Não investe, não exporta, não cria empregos, não ousa. Para que correr riscos, se sabe que é visto como vaca leiteira?

Em economia, como em política, há profecias auto-realizáveis. Se o público acredita que um banco vá quebrar, o banco vai quebrar, porque todos irão retirar seu dinheiro antes da quebra. Se o público acredita que o Governo é fraco, sem força para cumprir suas promessas, o Governo será fraco até prova em contrário.

Quem pode pedir confiança ao cidadão? O PSDB vota no Congresso contra aquilo que defende e que sempre defendeu, para enfraquecer ainda mais o Governo. O PT vota contra aquilo que defende e que sempre defendeu, para garantir seus cargos. Governistas votam contra o Governo, embora Governo sejam.

Quando não dá para confiar no Governo nem na oposição, a inflação dispara para cima, o PIB dispara para baixo, o emprego some.

E a esperança desaparece.

Pensando bem

Imagine uma pessoa que deteste Dilma, Lula, o PT, tão radical que ache que a ministra Kátia Abreu virou petista e que Ronaldo Caiado é suspeito porque fala muito do PT. Em que partido depositará suas esperanças?

No PSDB de Aécio, de Tasso, de Serra, que no meio da briga vão para Nova York homenagear Fernando Henrique? No PMDB de Renan, Eduardo Cunha, José Sarney? No neopetismo do PP de Maluf ou no da outra corrente do PP, a do petróleo é nosso? Em religiosos anticomunistas que adoram pregar a Palavra de dentro do Governo?

O silêncio de ouro

Não, não bastou aquele discurso inacreditável do homo sapiens e da mulher sapiens (que, aliás, a presidenta poderia chamar de “homa sapiens”). Agora, em entrevista ao Washington Post, que busca apresentá-la ao público americano antes de sua próxima visita aos Estados Unidos, Dilma voltou a falar. Queixou-se de “preconceito sexual”, quando lhe perguntaram se era uma chefe centralizadora: “Alguma vez você já ouviu alguém dizer que um presidente do sexo masculino coloca o dedo em tudo?” E: “Sou descrita como uma mulher dura e forte que coloca o nariz em tudo, e eu estou [me dizem] cercada por homens muito bonitos”. Como, talvez, os ministros Édison Lobão, Manuel Dias e Garibaldi Alves, o assessor Marco Aurélio Garcia, o advogado-geral Luís Adams e, claro, o presidente nacional de seu partido, Rui Falcão. Dilma trabalhou ainda com Cerveró.

Claro, ela esquece que Bill Clinton é homem. E já disseram tudo dele.

Não há ninguém que a convença a suspender suas falas de improviso?

A palavra é de prata

O ministro da Defesa, Jaques Wagner, ficou perplexo – ou, para usar o termo presidencial, “estarrecido” – com as criticas de Lula ao PT. “Não entendi muito as falas dele! Não é muito bom ele falar isso. Não estou entendendo. Estranho!”

Se Wagner não entende nem Lula, que é claro, como faz com a Mulher Sapiens?

American Lula

Certa vez, Lula disse que um de seus filhos, que teve êxito em iniciativas como a Gamecorp, era um Ronaldinho dos negócios. Lula tem mais um motivo de orgulho: outro de seus filhos, Luís Cláudio Lula da Silva, formado em Educação Física, está cuidando do futebol americano no Brasil. Sua firma, a Touchdown, formou uma liga com 16 clubes e o campeonato começa neste fim de semana, com Vasco da Gama Patriotas x Botafogo Reptiles, no estádio Luso-Brasileiro, Ilha do Governador, Rio. Capta patrocínios e acha que, com dedicação e seu talento pessoal, tudo vai dar certo. “Na minha vida, nunca fracassei. Tudo o que quis sempre conquistei. A pessoa que fica pensando no fracasso não vai pra frente. Então eu vejo sucesso, eu vejo no esporte um potencial muito grande”.

PT e PSDB, tudo a ver

Dilma tem problemas? Mas os dois principais governadores tucanos também os enfrentam, e na mesma área, a de malfeitos administrativos. O governador paulista Geraldo Alckmin carrega o peso do Chuchulão, cartel do Metrô e dos trens urbanos, episódio integralmente ocorrido nos Governos tucanos. Nesta semana, a Justiça abriu processo contra seis executivos da Alstom, Temoinsa, Tejofran e MPE. A Tejofran sempre teve ótimas relações com o PSDB. Foi em sua sede, por exemplo, que Mário Covas instalou seu comitê de campanha, em 1994.

No Paraná, aliados do governador, citados pelo bem informado colunista Ucho Haddad (www.ucho.info), disseram que Richa “deve se dar por satisfeito se acabar o mandato sem ser preso”.

Entre outras coisas, Richa sabia dos planos para desestabilizá-lo e caiu na armadilha de espancar professores assim mesmo.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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