Temer diz em Moscou que Dilma cumprirá mandato; Jango estava na China quando Jânio renunciou

dilma_rousseff_534Papel carbono – Ao contrário das articulações que vem patrocinando nos bastidores da política, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) afirmou nesta segunda-feira (14), em Moscou, ter certeza de que Dilma Rousseff terminará o mandato em 2018. Em viagem oficial à Rússia, Temer disparou ao ser questionado sobre a crise brasileira que ameaça a petista: “A presidente está se recuperando cada vez mais e tenho certeza que terminará o mandato”.

Entre o que fala Michel Temer e o que acontece de fato nas coxias do poder há uma enorme diferença. Isso porque os caciques do PMDB no Congresso Nacional se movimentam sob a coordenação do vice-presidente da República, que sabe ser difícil a situação de Dilma, principalmente com a chance de um pedido de impeachment prosperar na Câmara dos Deputados.

Ademais, a fala de Temer não coaduna com a realidade dos fatos, pois a presidente não vem se recuperando como afirma o peemedebista, até porque nada aconteceu para essa repentina mudança de curso. O Brasil está sendo corroído por uma crise múltipla e extremamente grave, sem que no curto prazo seja possível fazer qualquer prognostico em relação ao futuro.

A decisão do governo de reconhecer a crise e tomar medidas duras para reverter o quadro foi tardia. Prova disso é que o mercado financeiro não aposta em melhoria da economia nos próximos meses. Afinal, foram quatro anos de equivocadas medidas de estímulo à economia, sem que ao menos uma tivesse produzido resultado. Fora isso, com o País já mergulhado em situação de dificuldade, em 2014 a presidente gastou além do previsto para garantir sua reeleição. Sem contar que vendeu aos brasileiros incautos a falsa ideia de que o Brasil é uma versão tropical e moderna do País de Alice, aquele das maravilhas.

No momento em que enviou ao Congresso uma proposta de orçamento para 2016 com déficit anunciado de R$ 30,5, o governo deu às agências de classificação de risco munição de sobra para o rebaixamento do grau de investimento, o decisão tomada na última semana pela “Standard & Poor’s” e que pode ser seguida por outras (Moody’s e Fitch). Se isso de fato ocorrer, o Brasil experimentará um aprofundamento da crise com o “nunca antes na história deste país”.

A perda do grau de investimento coloca o Brasil na condição de mau pagador, o que interfere diretamente na captação de investimentos internacionais. Isso significa que o País há de continuar enfrentando problemas na infraestrutura, mesmo com a decisão do governo de se desfazer de participações em alguns setores primordiais, como os aeroportos.

A história como ela é

Enquanto Michel Temer fala, em Moscou, que a presidente concluirá o mandato atual, a história se repete. Para quem não se recorda, quando Jânio da Silva Quadros renunciou à Presidência da República, em 25 de agosto, sob a desculpa de que “forças ocultas” o levaram a tomar tal decisão, o vice João Goulart estava em Pequim, adulando os comunistas chineses.

A renúncia de Jânio aconteceu um dia após Carlos Lacerda discursar em cadeia nacional de rádio e televisão acusando-o de golpista e relatando um possível golpe de Estado. Na verdade, Jânio Quadros tentou blefar com a classe política ao arquitetar uma comoção popular que o fizesse mais forte para retornar ao cargo, algo que jamais ocorreu.

Agosto, conhecido no Brasil como o mês do desgosto – Getúlio Vargas suicidou-se em 24 de agosto de 1954 – já terminou, pelo menos em 2015, mas a maldição continua a frequentar a mente dos que desejam ver Dilma longe do poder. Coincidência ou não, a presidente está contra a parede e tentando, a reboque do anúncio de cortes de despesas e investimentos, enganar a opinião pública como forma de salvar o próprio mandato.

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