Dobrem a língua e a novilíngua!

(*) Percival Puggina –

(Foto: Nádia Raupp Meucci)
(Foto: Nádia Raupp Meucci)
De uns tempos para cá, a novilíngua gramscista encontrou no sufixo “fobia” um pé-de-cabra semântico muito útil ao seu trabalho desonesto no plano da cultura. Basta aplicar o sufixo a um determinado vocábulo para impor silêncio à divergência. Assim, por exemplo, a palavra xenofobia tem sido usada em relação a quem considere excessivamente permissivo o ingresso no Ocidente de imigrantes oriundos do mundo islâmico. Os mais exaltados chegam a identificar essa atitude com o nazismo, como se simples recomendações à prudência equivalessem à construção e uso extensivo de câmaras de gás. E não faltam papagaios para, desde seus poleiros nos meios de comunicação, correntinha ideológica presa à perna, repetirem incessantemente a mesma tolice: “Xenofobia! Xenofobia!”.

Ora, o Islã político (dificilmente dissociável do ensino do Profeta) assusta o mundo, insistente e desabridamente. Ataca o Ocidente com ameaças, palavras e obras. É a jihad, que já conta 15 séculos. Não há paz onde ela se manifesta. Um enorme conjunto de organizações terroristas proclama seu objetivo de acabar com os “infiéis” (ou seja, eu e vocês que me leem). O dito califado, do autodenominado “Estado” islâmico, explicita acima de qualquer dúvida intenções de espalhar pelo mundo seu poder e as monstruosidades que pratica na Síria e no Iraque. Não há limites à sua demoníaca malignidade. Então, a prudência não pode ser desprezada, como não a desprezaríamos em nossas casas ao acolher alguém.

Aqui no Brasil, setores da mídia ainda não decidiram se: 1) o capitalismo acabou, a Europa quebrou e viva o socialismo!, ou 2) o capitalismo é um sucesso e a Europa, rica, deve acolher com generosidade os infelizes da Terra. Para eles, porém, num caso ou noutro, em quaisquer circunstâncias, hoje e sempre, o Ocidente é culpado de tudo.

Não nego que a xenofobia pode se manifestar em qualquer sociedade. Inclusive entre os ocidentais que odeiam o Ocidente. Pode, mas não é essa a regra. Quem pôs fogo num imigrante senegalês em Santa Maria é indivíduo enfermo, portador de uma fobia que merece contenção e tratamento. Essas pessoas não são representativas de coisa alguma, exceto da própria enfermidade.

O que escrevo e descrevo não é difícil de entender, mas pode se tornar incompreensível se os conceitos forem espancados até formarem uma massa única e disforme, como pretendem os papagaios da ideologia. Se o mesmo viés fosse usado para todas as manifestações dessas mesmas pessoas, teríamos que criar os vocábulos e correspondentes execrações públicas para os “cristofóbicos”, os “meritofóbicos”, os “machofóbicos”, os “brancofóbicos”, os “milicofóbicos”, “europofóbicos” e assim por diante.

Então, ativistas, dobrem a língua e a novilíngua. Saibam: o uso desonesto do vocabulário para difundir conceitos errados com fins políticos é apenas mais uma dentre as muitas formas em que a corrupção se manifesta.

(*) Percival Puggina é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de “Crônicas contra o totalitarismo”; “Cuba, a Tragédia da Utopia”, “Pombas e Gaviões” e “A Tomada do Brasil – Pelos maus brasileiro”. Integrante do grupo Pensar+ e membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

apoio_04