Videobrasil abre galpão com obras etnológicas; 19ª edição do festival exibe peças comissionadas

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Inaugurado no dia 8 deste mês, o galpão do festival Videobrasil, localizado na Vila Leopoldina, exibe projetos de quatro jovens artistas selecionados por edital como parte da sua 19ª edição, que tem na mostra principal, Panoramas do Sul.

A mostra, que vai até o dia 6 de dezembro, está instalada no Sesc Pompeia, e conta com 53 artistas de 22 países, entre eles o romeno Mihai Grecu, o libanês Roy Dib e a brasileira Vera Chaves Barcellos.

Além das duas mostras, o Paço das Artes foi incluído no circuito. Na exposição paralela lá montada, Quem Nasce Para Aventura Não Toma Outro Rumo, o Videobrasil mostra obras de seu acervo, que, segundo a criadora e diretora do festival, Solange Farkas, conta com 8 mil obras.

Na mostra do Galpão, que reúne os projetos comissionados pela primeira vez pelo Videobrasil, o enfoque dos quatro vídeos é etnológico. O brasileiro Cristiano Lenhardt examina em seu filme (Superquadra-saci) o encontro de povos indígenas com o cenário urbano.

O colombiano Carlos Monroy relaciona em sua obra o fenômeno da lambada nos anos 1980 com a imigração boliviana no Brasil. Já a artista do Quênia Keli-Safia Maksud preferiu recorrer a outro suporte para discutir o processo de “branqueamento” da cultura africana. Em sua instalação Mitumba, tecidos supostamente africanos (na verdade, produzidos na Holanda) são lavados com sabão, que, na época colonial, representava a superioridade do colonizador inglês, branco. Vale ressaltar que “mitumba” é como os quenianos chamam as roupas de segunda mão que os países ricos enviam para os africanos.

A artista chinesa Ting-Ting Cheng ainda mostra uma biblioteca de 500 livros sobre países que não existem.

Este ano, a diretora Solange Farkas trabalhou com quatro curadores convidados, três brasileiros e um português, que selecionaram vídeos e obras contemporâneas com foco nas culturas do Sul geopolítico. Entre os vídeos da mostra principal, no Sesc Pompeia, chama a atenção o do romeno Mihaiu Grecu. Seu vídeo O Reflexo do Poder (2014) relaciona o colapso da ideologia comunista (representada pela Coreia do Norte) com a submersão da capital Pyongyang que, mesmo sob as águas, se recusa a admitir a catástrofe, festejando o líder.

Outro vídeo imperdível é o da jovem realizadora russa Maria Kramar, ABC do Linchamento, que denuncia a ação de grupos neofascistas na Rússia, que perseguem homossexuais nas redes sociais e promovem uma caça perversa ao diferente. “Há uma equalização no nível dos vídeos e é bom constatar que nossa aposta nesse suporte há 30 anos foi, de fato, acertada”, destaca Solange Farkas.

O Videobrasil promoveu realizadores experimentais cujas obras podem ser vistas na mostra do Paço das Artes, entre eles Geraldo Anhaia Mello, Carlos Nader e Cao Guimarães. Já no Sesc Pompeia, além da mostra principal, o festival convidou quatro artistas para refletir sobre colonialismo e identidade: o africano Abdoulaye Konaté, do Mali, o português Gabriel Abrantes, e os brasileiros Rodrigo Matheus e Sônia Gomes, que está na Bienal de Veneza.

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