Contra a vontade de Lula e do PT, Levy ‘fica’; Dilma exibe esquizofrenia administrativa ao minimizar crise

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No domingo (18), em Estocolmo, capital da Suécia, a presidente Dilma Rousseff confirmou a permanência de Joaquim Levy à frente do Ministério da Fazenda. A petista também declarou que lamenta que o escândalo envolvendo as supostas contas secretas mantidas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, na Suíça tenha como protagonista “um brasileiro”.

As declarações foram dadas a jornalistas no hotel sueco onde a presidente está hospedada. Dilma está em viagem oficial de quatro dias pelo país e pela Finlândia, e retorna ao Brasil na noite da próxima terça-feira.

Sobre Levy, a presidente da República desmentiu informação divulgada pela revista Veja de que o titular da Fazenda teria lhe apresentado seu pedido de demissão do cargo. Os dois se reuniram na sexta-feira passada, no fim da tarde, depois que o ex-presidente Lula pediu publicamente a demissão de Levy. “O ministro Levy fica”, revelou Dilma. “Ele não está saindo do governo”.

“A partir de agora, não vou mais responder sobre o ministro Levy. Se ele fica, é porque nós concordamos com ela (a política econômica)”, enfatizou a presidente. Por questões óbvias Dilma não confirmaria a notícia sobre a carta de demissão de Levy, até porque essa necessária transparência abalaria ainda mais um governo que derrete em meio às labaredas da crise.

Questionada sobre as declarações do presidente do PT, Rui Falcão, que em entrevista publicada pelo jornal “Folha de S. Paulo”, no domingo, defendeu que Levy deixe o governo caso não aceite mudar a política econômica, Dilma afirmou que “o presidente do PT pode ter a opinião que quiser”.

“Não é a opinião do governo. A gente respeita a opinião do presidente do PT, porque ele é o presidente do partido que integra a base aliada, mas isso não significa que é a opinião do governo”, declarou a petista.

“Vivemos uma democracia. Não podemos querer que todas as pessoas pensem igual. A pessoa tem direito de externar que não concorda com a posição”, continuou. “No passado, quando a gente divergia, a gente ia para a cadeia. Hoje, é absolutamente normal que as pessoas tenham opiniões divergentes”.

A petista ainda criticou especulações de que Levy teria demonstrado insatisfação com a pressão que vem sofrendo de integrantes do PT, entre eles o ex-presidente Lula. Inclusive, sobre seu antecessor, a presidente disse que ele nunca lhe cobrou a demissão de Levy. “Ele nunca me pediu nada. Quando o presidente Lula quer uma coisa que diz respeito a posições dele, ele não tem o menor constrangimento de falar comigo”.

Segundo Dilma, o maior do problema do Brasil é “estabilizar a economia, fazer com que o país volte a crescer”. “A crise política é um componente da (crise) econômica. Criando esse clima de unidade, de cooperação, o Brasil sairá dessa crise o mais rápido possível”, afirmou. “As duas (crises econômica e política) estão relacionadas”.

Dilma também negou que o governo tenha feito um acordo com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para evitar um processo de impeachment. “O acordo do Eduardo Cunha não era com o governo, mas com a oposição, que era público e notório”, ressaltou.

Perguntada sobre uma eventual queda de Cunha após as denúncias de que o peemedebista mantinha contas secretas na Suíça, a petista afirmou “não ter como se manifestar” sobre o que ocorre no Legislativo e no Judiciário. “Cunha não integra o meu governo. Eu lamento que seja com um brasileiro (as denúncias)”.

Entretanto, a presidente disse que o escândalo não afeta a imagem do Brasil. “Acho que se distingue perfeitamente, no mundo, um país de seus integrantes. Nenhum país pode ser julgado por isso. E não se julga assim. Lamento que isso aconteça com um brasileiro, um cidadão brasileiro”.

Ao indagada sobre o momento político atual, Dilma pediu um acordo com a sociedade para vencer a crise. “Temos de buscar sistematicamente um ambiente de diálogo, de entendimento, de paz. E não um ambiente em que questões partidárias ou pessoais sejam colocadas acima dos interesses do país”.

A presidente evitou comentar as decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) suspendendo o rito de impeachment definido por Cunha. “Se tratou de um pleito de um deputado e não diz respeito ao governo.”

A petista destacou também que o retorno da CPMF é parte essencial do conjunto de medidas anunciadas pelo governo para retomar o crescimento econômico. “O Brasil precisa aprovar a CPMF para ter um 2016 estável no sentido de reequilibrar as nossas finanças. Nós (Dilma e Levy) discutimos tudo isso (na reunião de sexta-feira).”

“Ela (CPMF) é crucial para o Brasil voltar a crescer. Precisamos estabilizar as contas públicas”, disse, antes de reforçar: “Sem a CPMF, isso é muito difícil”. De acordo com a governante, a volta do imposto é uma questão de necessidade. “Se você me perguntar se eu queria elevar a CPMF (de zero para 0,2%), eu diria que não”.

Estimativas da equipe econômica mostram que o retorno do imposto elevaria a arrecadação em até R$ 32 bilhões, metade dos R$ 64,9 bilhões necessários para aliviar a situação fiscal do país no ano que vem. “O retorno da CPMF contribuirá para o país voltar a crescer. As pessoas podem não entender agora, mas certamente vão entender quando os efeitos que essa medida produzir, que é a estabilidade fiscal, (aparecerem), permitindo ao país voltar a crescer”.

Dilma destacou que o imposto está combinado com várias medidas para retomar o crescimento. Ela citou o programa de concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, a política de expansão da exportação e investimentos nos planos safra e na área de energia. “Os brasileiros entendem quando as coisas são ditas. No primeiro momento, podem não absorver, pois se trata de aumento de imposto. Mas não estamos aumentando imposto porque queremos. É porque precisamos”.

Dilma aproveitou a oportunidade para ensaiar um mea culpa sobre seu primeiro governo, quando desonerações fiscais foram usadas para estimular a economia. “Um dos fatos que leva à nossa dificuldade agora é que tivemos um nível de desoneração para além do que era desejável, se considerarmos que a China desaceleraria nessa proporção e haveria o fim do superciclo das commodities”, avaliou.

Contudo, a presidente lembrou que o governo não sabia que isso ocorreria e acabou justificando as medidas: “É sempre melhor economicamente reduzir do que aumentar imposto, exceto em momentos em que você se defronta com problemas críticos”.

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