Eduardo Cunha se complica ao afirmar que foi 37 vezes à África para vender arroz, feijão e carne

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É cada vez pior a situação nada confortável do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que mergulha em um universo de inverdades para tentar salvar o mandato parlamentar. Depois de negar ser titular de contas bancárias secretas na Suíça, Cunha decidiu reconhecer que é beneficiário das mesmas. Ou seja, o deputado fluminense optou por uma estratégia que tem um raso embasamento jurídico, mas que não convence o mais crédulo dos seres humanos.

Para justificar a fortuna encontrada nas tais contas, parte bloqueada pelas autoridades suíças, Cunha disse que o dinheiro é proveniente da venda de carne enlatada para países africanos, transação que aconteceu no passado. Em outras palavras, os peemedebistas abusam da desculpa bovina para explicar atos de corrupção.

O primeiro deles foi o atual presidente do Senado federal, Renan Calheiros (PMDB-AL), que há anos, ocupando o mesmo cargo, disse que o dinheiro usado para o pagamento das despesas de sua então amante, Mônica Veloso, foi proveniente da venda de reses, possivelmente mais caras que as sagradas vacas indianas. Na verdade, o dinheiro que parou na conta da amante de Calheiros saiu do caixa de uma empreiteira.

Em outra ponta do escândalo atual, Eduardo Cunha afirmou que parte do dinheiro encontrado em contas na Suíça, todas controladas e geridas por trustee, é decorrente do pagamento de um empréstimo feito há anos ao deputado Fernando Diniz, ex-líder do PMDB na Câmara dos Deputados. Filho do ex-peemedebista, Felipe Diz disse à Procuradoria-Geral da República (PGR) que não depositou dinheiro na conta que tem como beneficiário o enrolado Cunha.

A informação sobre o tal depósito surgiu no depoimento do lobista João Augusto Henriques, ligado ao PMDB e preso pela Polícia Federal na esteira da Operação Lava-Jato. Henriques afirmou à força-tarefa da operação que desconhecia o destinatário do dinheiro, mas que processou o depósito, no valor de 1,3 milhão de francos suíços, a pedido de Felipe Diniz, que forneceu os dados da conta na Suíça.

No depoimento, Diniz afirmou que “nunca” indicou para João Henriques número de conta de Eduardo Cunha, “muito menos na Suíça”.

Eduardo Cunha, por sua vez, afirma desconhecer a origem do depósito, mas supõe que trata-se do pagamento do empréstimo ao ex-deputado Fernando Diniz, morto em 2009.

Em entrevista à Rede Globo, concedida na última sexta-feira (6), Cunha tentou explicar a origem do dinheiro depositado na conta bancária aberta na Suíça, mas não convenceu. O presidente da Câmara disse que o trustee apresentou um extrato bancário com o tal depósito, mas o parlamentar não conseguiu identificar a origem do dinheiro. Ou seja, Cunha quer que os brasileiros acreditem que um montante de 1,3 milhão de francos suíços surge na conta bancária sem qualquer explicação plausível, como se fosse milagre da multiplicação.

“No início ou meio de 2012, o truste [administrador da conta] deve ter me apresentado um balanço e eu fiquei sabendo dos recursos (US$ 1,3 mi). Eu não reconheci o valor. Eu só passei a supor que se tratava do pagamento pelo empréstimo com o depoimento do João Henriques. É uma suposição que o valor é referente ao Fernando Diniz. Eu dei a ele [Fernando Diniz] cerca de US$ 1 milhão e disse que, quando ele pudesse, que me pagasse, mas que teria que informar o truste. Ele sabia como funcionava. Quando ele morreu, eu entendi que a dívida estava extinta. O Felipe Diniz negou, no depoimento ao Ministério Público, que tenha depositado os valores. Eu tive acesso ao depoimento”, disse Cunha na entrevista.

Para complicar o que já é absolutamente devastador em termos da onda de mitomania, Cunha disse, para justificar a venda de carne enlatada aos, que em dois anos foi 37 vezes à África, viagens ocorridas na década de 80. Possivelmente muito mais vezes que os próprios africanos que por algum motivo deixaram a “Mamma África”. Para líderes da base e da oposição na Câmara dos Deputados, Cunha deu um “tiro no pé” ao conceder entrevistas e comprometeu ainda mais, sem necessidade de entrar em detalhes.

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