Morre em São Paulo, aos 87 anos, Olten Ayres de Abreu, o árbitro das “partidas memoráveis”

olten_ayresdeabreu_1001

Sempre com um sorriso estampado no rosto redondo e simpático, marca registrada que poucos esquecem, Olten Ayres de Abreu, são-paulino de coração e alma, morreu na madrugada desta quinta-feira, 24 de dezembro, aos 87 anos, na capital paulista. Às vezes controverso e ao mesmo tempo sempre diplomata, Olten nasceu em Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, mas foi a partir da maior cidade brasileira que ele fez história no mundo do esporte.

Atleta, treinador, dirigente de futebol, advogado, professor de educação física, jornalista, músico e poeta, Olten Ayres de Abreu tornou-se conhecido nos campos do esporte bretão como o árbitro de partidas memoráveis. Olten emprestou seu respeitável apito e sua altivez como árbitro ao jogo inaugural do Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, entre São Paulo e Sporting de Lisboa, em 2 de outubro de 1960.

Ayres de Abreu também comandou a histórica partida entre o Santos Futebol Clube e o Fluminense, no Maracanã, quando um gol de placa de Pelé parou o estádio. Após o balançar da rede do Tricolor das Laranjeiras, o jogo ficou paralisado por seis minutos, período em que o público, de pé, aplaudiu o maior jogador de futebol de todos os tempos. Diante da homenagem a Pelé, o “velho” Olten não teve outra saída, que não a de engrossar os aplausos ao camisa 10 do “Alvinegro Praiano”.

Em 2012, em reportagem do jornal “O Lance”, Olten, sempre bem humorado explicou: “O estádio inteiro aplaudiu por uns cinco minutos. Só eu ia ficar parado? Nem hesitei!”.


Olten Ayres de Abreu foi o árbitro brasileiro reserva do polêmico Armando Marques na Copa do Mundo do Chile, em 1962. Também apitou o “Jogo do Século”, Nova York, Santos FC e Internazionale de Milão, em 1968. Durante dez anos foi presidente do Sindicato dos Treinadores Profissionais do Estado de São Paulo (SITREPESP).

Dono de memória invejável e com vasta e intensa passagem pelos campos futebolísticos, Olten foi um cativante contador de histórias, em sua maioria tendo a bola como protagonista. Senhor de diplomacia reconhecida por muitos, Olten tinha a habilidade nata de unir adversários, de aproximar os oximoros da vida. Não por acaso foi um árbitro competente e respeitado. Acima de tudo, foi um ser humano que, por trás do olhar fixo e muitas vezes fulminante, tinha doses de doçura e delicadeza ímpares.

Há alguns anos tive o privilégio de estar com Olten Ayres de Abreu na festa do seu aniversário. Apesar da idade, Olten exalava disposição e esbanjava brilho nos olhos. Olhos que ficavam semiabertos, empurrados pelas bochechas coradas, quando seu sorriso roubava a cena.

Como destaca a “Oração do Árbitro”, “inspira-me, ó mestre, no momento das minhas decisões”. E Olten Ayres de Abreu decidiu partir. Afinal, foi feliz e “realizou seus projetos no imenso cenário da vida”.

O velório acontecerá no Salão Nobre do São Paulo Futebol Clube, no Morumbi, a partir das 15 horas deste sábado (24), e o sepultamento será na sexta-feira, 25 de dezembro, às 17 horas, no Cemitério do Morumbi, na Rua Deputado Láercio Corte, 468 – Morumbi – São Paulo. Clique e saiba como chegar.

apoio_04