Os vícios e as virtudes

(*) Carlos Brickmann

carlos_brickmann_10Consta que, certa vez, contaram ao presidente Abraham Lincoln que seu mais importante general, Ulysses Grant (que também chegaria a presidente dos EUA) vivia bêbado. Lincoln replicou: então é melhor mandar o mesmo uísque aos meus outros generais, para que sejam vitoriosos como ele.

Mais recentemente, o marechal Bernard Montgomery recebeu de Sua Majestade o título de Herói da Grã-Bretanha. E alfinetou o primeiro-ministro Winston Churchill, a quem não perdoava por comandar as tropas inglesas, mesmo tendo carreira militar muito menos brilhante que a dele: “Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói”, disse Montgomery, referindo-se a alguns hábitos de Churchill. Churchill respondeu com o bom humor de sempre: “Eu fumo, bebo, prevarico e sou o chefe dele”.

Churchill bebia (muito), Hitler não bebia. O presidente americano Franklin Roosevelt tinha mais de uma mulher, Hitler não tinha. O marechal von Bock, que comandou a invasão a Moscou, era oficial condecorado. O marechal Rokossovsky, que o derrotou, estava preso sob acusação de espionagem e foi retirado da cadeia para comandar a resistência.

Virtudes e defeitos pessoais são pessoais, não públicos. E martelar sobre as 37 caixas de vinho que Lula mandou para o sítio de Atibaia é bobagem: aparentemente há denúncias mais graves para que ele se preocupe do que esta dos vinhos.

Que, aliás, cinco anos depois, certamente já se foram.

Só vale se doer

Richard Morris, coordenador da campanha vitoriosa de Clinton em 2006, analisa a influência dos escândalos sobre candidaturas e é citado pelo ex-governador fluminense César Maia, em seu ex-blog. Algumas frases que parecem referir-se ao Brasil: “A única maneira de sair vivo (de um escândalo) é falar a verdade, aguentar o tranco e avançar”. “A força de um escândalo é a importância política. Roubar dinheiro quase sempre não se perdoa. Em outros tipos de escândalo, como os de comportamento, os eleitores se mostram mais suaves e compreensivos”.

Ou seja, misturar coisas graves com implicâncias menores é fazer o jogo do adversário.

Zika maquiada

Em sua incessanta movimentação contra o vírus zika, Dilma visitou sábado, no Rio, a favela Caminho do Zepelim. Na véspera, para garantir um ambiente mais agradável à ilustre mata-mosquita, funcionários da Presidência e da Prefeitura do Rio podaram árvores, recolheram lixo, varreram as ruas, limparam valas – “coisas que nunca fizeram aqui”, como disse a dona de casa Diana Amorim Gonzalez, que há um mês teve zika.

Dilma certamente se orgulhou da favela tão limpinha e bem cuidada.

Mas tem precedente

O cordão que cada vez aumenta mais que se antecipou à visita de Dilma certamente se inspirou nas Aldeias Potemkin, da Rússia. Grigory Potemkin, ministro e amante da rainha Catarina, a Grande, preparou tudo para a visita de Sua Majestade, acompanhada de embaixadores estrangeiros, às terras recentemente conquistadas em guerra com o Império Otomano. Potemkin criou as aldeias que levaram seu nome: pequenas cidades cenográficas, habitadas por gente bonita e saudável, foram colocadas no caminho, para que a imperatriz visse e mostrasse aos visitantes como seu povo era feliz.

Mas que ninguém compare Dilma a Catarina, a Grande: Catarina foi uma tirana, chefiou o golpe contra seu marido (que foi morto pelo irmão de seu amante), mas fez um grande governo, que mudou a face da Rússia.

Uma confissão

A informação é oficial: a Petrobras está demitindo 30 mil funcionários administrativos e devolvendo 240 mil m² de escritórios, alugados de 2005 para cá. Segundo a empresa, a produção continuará a mesma. Os 30 mil funcionários que saem e os milhares de m² alugados não farão falta.

A Petrobras deixa prédios que ocupava em Macaé, RJ, na Bahia e no Espírito Santo – onde já tinha construído novas sedes, mantendo o aluguel das antigas. Em Macaé, houve a devolução de escritórios em três endereços. Em Salvador, parte da área financeira foi transferida para a Torre Pituba, que pertence a seu fundo de pensão, o Petros, e foi construída, claro, por Odebrecht e OAS. Mas até o fim do ano a empresa paga os novos aluguéis e os antigos. E quem alugava cinco imóveis para a Petrobras no centro do Rio? O BTG Pactual – o banco de André Esteves.

Há dúvidas sobre os motivos que levaram a Petrobras ao prejuízo?

Político é político

Mais de onze mil quilômetros nos separam. Mas a cabeça dos políticos nos une. Resposta do presidente sírio Bashar Al-Assad quando lhe perguntaram se pretende ficar a vida inteira no cargo, como seu pai: “A presidência não é um hobby que apreciamos. É uma responsabilidade”.

Em resumo, quer ser presidente para o bem do povo. Lembra alguém, não?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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