Gleisi anuncia projeto de lei sob medida para beneficiar os “companheiros” corruptos do PT

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Senadora pelo PT do Paraná, Gleisi Helena Hoffmann agora parece flanar nos ares da desfaçatez. Investigada na Operação Lava-Jato sob a acusação de ter levado R$ 1 milhão em propina do Petrolão e principal implicada na Operação Pixuleco II (18ª fase da Lava-Jato), Gleisi promete apresentar projeto de lei para beneficiar os “companheiros” corruptos do PT investigados pela Polícia Federal. Se aprovada, a lei beneficiará a senadora petista, dando nova e vexatória roupagem para o conceito de legislar em causa própria.

O projeto de lei que deve ser apresentado pela senadora paranaense objetiva “coibir vazamentos seletivos” de operações policiais. São esses vazamentos que têm levado tanto o Judiciário quanto a classe política a tomar providências contra corruptos que, segundo a tradição brasileira, ficariam tranquilos se os escândalos continuassem sendo varridos para debaixo do tapete.

Gleisi, que já teve a propina de R$ 1 milhão do Petrolão e o envolvimento na Pixuleco II revelados por vazamentos de inquéritos, quer criar blindagem legal para os corruptos. Se as investigações e os respectivos processos tramitam sem a rubrica de “segredo de Justiça”, não há razão para anular a necessária publicidade dos mesmos.

A proposta prevê que, em caso de vazamento de informações sigilosas, o juiz responsável pela investigação será obrigado a dar publicidade na íntegra ao processo. Em sua avaliação, esse dispositivo serviria para impor uma espécie de “mordaça” ao Judiciário, evitando que investigações em curso sejam conhecidas e divulgadas pela população, o que facilita os tradicionais conchavos em busca da impunidade por debaixo dos panos.

Embora o projeto anunciado por Gleisi tenha o objetivo de evitar eventuais e supostas injustiças com divulgações parciais de investigações, na verdade foi projetado sob medida para proteger os petistas envolvidos na Lava-Jato, a começar pela senadora autora da proposta.

A petista é investigada em mais quatro frentes pela Polícia Federal, em decorrência das revelações apuradas pela Lava-Jato. Em uma das investigações, a PF apura o desvio de R$ 7,2 milhões do Ministério do Planejamento, através do escritório do advogado Guilherme Gonçalves. O ex-vereador Alexandre Romano, conhecido nos subterrâneos do petismo como “Chambinho”, revelou às autoridades, em depoimento de delação premiada, detalhes espantosos do esquema criminoso. Revelações que Gleisi tenta a todo custo evitar o vazamento.


Em outra frente, o Ministério Público Federal aponta que R$ 113 milhões podem ter sido desviados da Repar, dos quais R$ 5 milhões teriam abastecidos as campanhas da senadora. Na prestação de contas da petista no TSE é possível constatar que em quatro campanhas (2006, 2008, 2010 e 2014) Gleisi recebeu R$ 5 milhões através de doações suspeitas de sete empresas com serviços prestados à Refinaria Getúlio Vargas, em Araucária, e investigadas no radar da Operação Lava-Jato.

O grosso dos repasses das empreiteiras aconteceu nas campanhas de 2008 (Gleisi disputou a prefeitura de Curitiba e perdeu) e de 2010 (ao Senado Federal). Em 2008, Gleisi recebeu R$ 1,1 milhão da Camargo Corrêa (R$ 500 mil), OAS (R$ 250 mil), UTC (R$ 250 mil) e Mendes Junior (R$100 mil). Em 2010, Gleisi recebeu mais R$ 2,8 milhões da Camargo Corrêa (R$ 1 milhão), OAS (R$ 780 mil), UTC (R$ 250 mil), Coesa (R$ 220 mil), Fujiwara (R$ 300 mil) e IBQ Indústrias Químicas (R$ 250 mil).

Nota-se que 2008 e 2010 foram os anos de pico nas obras de ampliação da Repar, investigadas pelo Tribunal de Contas União (TCU) por suspeita de superfaturamento. Há indícios de que R$ 85,9 milhões foram desviados das obras, sendo que metade desse total, R$ 43 milhões, engordou os cofres do PT. Na campanha de 2006 (a primeira tentativa ao Senado), Gleisi recebeu R$ 220 mil de duas empreiteiras: OAS (R$ 100 mil) e UTC (R$ 100 mil). A UTC repassou mais R$ 900 mil para a campanha de Gleisi em 2014 (derrotada ao governo do Paraná).

Até o momento, quatro contratos referentes ao pacote de obras de ampliação e modernização da Repar, lançado em 2006, já entraram na mira da Lava-Jato com base nas mais de 30 denúncias oferecidas pelo Ministério Público Federal à Justiça Federal. Para o MPF, houve pagamento de propina nos contratos da refinaria firmados com o Consórcio Skanska/Engevix, Consórcio Conpar (Norberto Odebrecht, OAS e UTC), Consórcio CCPR (Camargo Corrêa e Promon) e Consórcio Interpar (Mendes Júnior, Setal e MPE). No total, em relação aos quatro contratos, o MPF apontou até o momento cerca de R$ 113 milhões de propina, mas a conta pode ser maior.

O Brasil, que precisa se livrar com urgência da crise avassaladora, clama pelo fim da corrupção e a saída de Dilma Rousseff, mas parlamentares “camaradas” estão preocupados em salvar a própria pele, caminhando na contramão da lógica e do anseio popular. Para quem insiste em discursos recheados de falso moralismo, Gleisi está saindo melhor do que a encomenda. Enfim, como disse certa feita um conhecido comunista de boteco, “nunca antes na história deste país”.

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