Vitória de Pirro: MPF afirma que Gim Argello usou conta de paróquia para receber propina e obstruir CPI

(Dida Sampaio - Estadão)
(Dida Sampaio – Estadão)

A Operação Vitória de Pirro, 28ª fase da Operação Lava-Jato, deflagrada pela Polícia Federal nesta terça-feira (12), estendeu as investigações a uma paróquia de Taguatinga, no Distrito Federal. De acordo com o procurador da República, Athayde Ribeiro Costa, a paróquia São Pedro é investigada pelo recebimento de R$ 350 mil.

Ainda segundo as investigações, o ex-senador Gim Argello (PTB-DF), preso nesta terça-feira, cobrou propina de duas construtoras, a UTC e a OAS, para evitar a convocação empreiteiros em CPIs da Petrobras. Os R$ 350 mil pagos pela OAS foram depositados em uma conta corrente da paróquia.

O procurador declarou, em entrevista coletiva nesta terça, que a igreja “sempre foi frequentada” por Argello. E, por determinação do ex-senador, a paróquia recebeu o pagamento em uma conta própria.

“Os levantamentos dão conta de que a paróquia foi indicada para representantes da OAS fazerem depósito em maio de 2014. A OAS fez o pagamento de R$ 350 mil à paróquia, para uma conta corrente da própria paróquia. As investigações estão em curso ainda”, afirmou Athayde.

Ainda na entrevista coletiva, o procurador-geral da república Carlos Fernando Santos Lima disse que o Ministério Público Federal (MPF) já expediu um ofício à paróquia São Pedro pedindo informações a respeito de recursos de outras empreiteiras.


Conforme as investigações, além da paróquia de Taguatinga, o ex-senador determinou o pagamento de R$ 5 milhões da UTC Engenharia a partidos que formaram sua coligação na campanha ao Senado em 2014.

“A paróquia e os partidos são objetos de investigação ainda. Não há neste momento, nenhuma exculpação dessas pessoas. O que estamos dizendo é que, neste momento, temos estes fatos, valores oriundos de obras da Petrobras. O centro de custo era a obra da RNEST (Refinaria Abreu e Lima)”, detalhou o procurador-geral da República.

“Me parece que o esquema de travestir propinas na forma de doações formalmente legais já existe há muito tempo. Não há nenhuma afirmação que não existe nenhuma culpa dessas pessoas. Mas, neste momento, estamos nos reservando a aprofundar estas investigações”, acrescentou Lima.

Ainda segundo o procurador-geral, o uso de uma paróquia no recebimento de pagamentos da OAS foi escolhido pelo poder exercido pelas denominações religiosas de qualquer crença. Para Lima, a paróquia em questão pode ter recebido doações para a campanha de Gim Argello em 2014.

“Uma paróquia ou uma igreja de qualquer denominação é muito suscetível a ser usada como fonte de dinheiro em espécie, porque recebe muitas doações. Esse tipo de conduta é o que estamos verificando hoje, se esse pagamento em dinheiro é uma contrapartida que pode indicar lavagem de dinheiro”, ressaltou Lima.

“Temos que verificar se há algum tipo de influência de pessoas desta paróquia em campanhas eleitorais de Gim Argello”, finalizou.

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