Wagner pede renúncia de Temer, sem considerar que isso faria de Cunha o primeiro na linha sucessória

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A gravação de Michel Temer, vice-presidente da República, que acabou vazada pelo próprio peemedebista, não é tão conspiratória quanto sugeriu o chefe de gabinete da Presidência, Jaques Wagner. O que Temer falou na tão comentada gravação nada mais é do que a tradução da realidade, pois ele precisa estar pronto para assumir a Presidência no caso de o processo de impeachment de Dilma Rousseff ser aprovado pelo Senado Federal, algo que pode demorar meses. Mesmo assim, quando o processo chagar o Senado, Michel Temer assumirá o cargo interinamente até o desfecho do caso.

Como o governo não tem mais argumentos para defender Dilma e rebater as acusações que constam do pedido de impeachment – crime de responsabilidade na esteira das pedaladas fiscais –, a saída tem sido agarrar qualquer oportunidade que surja, mesmo que essa tenha essência suicida.

Rotular a fala de Michel Temer como conspiratória, a exemplo do que fez o petista Jaques Wagner, é não se recordar dos governos paralelos inventados pelo alarife Lula, hoje um quase ministro, todas as vezes em que foi derrotado nas urnas. Se a gravação do vice-presidente tem teor conspiratório, alguém do PT precisa explicar as atitudes fanfarristas de Lula.

Que os petistas têm memória curta todos sabem, mas não se pode rasgar a própria história por mera conveniência. O PT está perdido, assim como estão os palacianos, por isso os “companheiros” apelam a tudo como forma de tentar salvar o que não tem salvação.

O máximo que se pode dizer sobre a gravação é que o vice-presidente foi precipitado e pode ser dar mal, pois por enquanto não se pode afirmar que o pedido impeachment passará no plenário da Câmara.


A bizarrice que domina o pensamento dos integrantes do núcleo duro do governo é tamanha, que alguns chegam a fazer sugestões esdrúxulas sem ao menos refletir sobre as consequências. Depois que a gravação de Temer ganhou o noticiário, sem motivo para tanto, Jaques Wagner disse que se o processo de impeachment for derrubado, o vice-presidente deveria, por questões de coerência, renunciar ao cargo.

A absurda sugestão não leva em conta os desdobramentos de uma eventual renúncia de Michel Temer, que elevaria o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), à condição de primeiro na linha sucessória presidencial.

Um dos principais adversários do governo no Congresso Nacional, Cunha assumiria a Presidência na ausência de Dilma Rousseff. É quase certo que em algum momento Cunha, que afunda cada vez mais na Operação Lava-Jato, terá o seu mandato cassado por quebra de decoro parlamentar, mas até que isso realmente ocorra ele poderá ocupar a cadeira de Dilma todas as vezes em que a petista se ausentar do País ou tiver algum problema de saúde, por exemplo. E nessa condição poderá fazer um estrago considerável.

Entre ter como substituto um conspirador como Michel Temer e um revanchista como Eduardo Cunha, a primeira opção é menos perigosa. Como os governistas foram tomados pelo desespero, qualquer bobagem sugerida é acolhida como luz divina.

Confira abaixo a íntegra da gravação feita pelo vice Michel Temer:

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