Impeachment: remando em canoa furada, Dilma Rousseff tem tudo para morrer na praia

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O tempo avança de maneira inexorável e o barco do governo que navega nas águas turbulentas do impeachment mostra sua porção de canoa furada. Enquanto isso, os palacianos continuam investindo contra os partidos da chamada base aliada e ofertando cargos e dinheiro como se o Brasil fosse um mercadinho persa de quinta.

À presidente Dilma Rousseff cabe, indiscutivelmente, o direito de lutar pelo cargo e pelo mandato, mas um político deve ter doses mínimas de coerência para, em momentos de crise extrema e dificuldades atrozes, jogar a toalha e renunciar. O Brasil derrete a sombra de uma crise múltipla e sem precedentes, mas os brasileiros terão de esperar até domingo para saber se continuam nadando com a água entrando pelo nariz ou morrem afogados. Isso porque Dilma e sua turba resistirão até o último minuto.

Nas últimas semanas, petistas e aliados engrossaram o coro do “impeachment sem crime é golpe”, mas o governo prepara um golpe para tentar reverter o quadro atual. Não bastasse a distribuição de cargos e verbas públicas – em alguns casos teve dinheiro vivo – o Palácio do Planalto está disposto a provocar dissidência nos partidos que deixaram a base de apoio e se posicionaram a favor do impeachment. Ou seja, o governo sequer cogita a possibilidade de acatar uma decisão partidária. Aceitam até a hipótese de dividir o butim, mas sequer sonham em perdê-lo.

Com o desembarque de partidos importantes, como PMDB, PP, PSD e PRB – em breve outros abandonarão a base –, ao governo restou o vale tudo, o tudo ou nada, na esperança de tirar Dilma do patíbulo do impeachment.

Integrantes do alto escalão do governo, inclusive ministros, já admitem nos bastidores que está perdida a luta para impedir o impeachment no plenário da Câmara. Apesar desse quadro, os palacianos continuam ofertando mimos bandoleiros, pois há quem os queira, mesmo que por pouco tempo. Ainda não se pode prever um placar para o próximo domingo (17), mas a tendência é que o impeachment seja aprovado.

Diante dessa perspectiva, só mesmo um oportunista suicida é capaz de embarcar em canoa tão esburacada. Do contrário, quem o faz é delinquente político profissional e, rejeitado o processo de impedimento de Dilma, tirará o pouco couro que restou na carcaça do governo. A se confirmar esse cenário, o Brasil mergulhará em uma crise profunda e sem possibilidade de melhora no curto prazo. Ou seja, será a débâcle verde-loura.


O desespero que se instalou na sede do governo é tamanho, que a presidente, sem abandonar o enfadonho discurso do golpe, já fala em promover um grande pacto no dia seguinte da votação no plenário da Câmara. Quer a petista reunir governistas, oposição, empresários e trabalhadores. Isso mostra que Dilma sabe que a crise a partir do “day after” será catastrófica.

Considerando que o Brasil ainda é uma democracia – e esperamos que assim continue –, e como tal garante aos cidadãos o direito à livre manifestação do pensamento, Dilma pode anunciar o que bem quiser, desde que não queira que a população creia em suas escorregadias palavras.

O placar do impeachment lançado pelo jornal “O Estado de S. Paulo” mostra, minuto a minuto, que a situação do governo piora com o passar do tempo. Até as 18h38 desta quarta-feira (13), 326 deputados se posicionaram a favor do impeachment, enquanto 125 são contra. Dos 62 restantes, 29 continuam indecisos e 33 não quiseram responder à enquete do Estadão. Se metade dos 62 restantes decidir pelo afastamento de Dilma Rousseff, o governo do PT estará a um passo do fim. Afinal, cabe ao Senado marcar a data do cortejo fúnebre.

O clima a favor do impeachment ganhou tanta força no Congresso nas últimas horas, que no Senado já há uma movimentação para a escolha do relator do processo. De acordo com as primeiras informações, a relatoria caberá ao líder do PMDB na Casa, senador Eunício Oliveira, que na eleição de 2014 concorreu ao governo do Ceará e foi derrotado pelo PT. Ou seja, não poderia ser escolhido relator melhor.

Voltando à Câmara, a votação do próximo domingo poderá ajudar os indecisos a se posicionarem. Presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha decidiu que a votação se dará por regiões, começando pelo Sul e terminando com o Norte. Como as regiões Sul e Sudeste congregam o maior número de deputados favoráveis ao impeachment, o placar parcial fará com que muitos tomem partido ou mudem de posição. Até porque, abraço de afogados é mera figura de retórica.

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