A guerra dos tronos

(*) Carlos Brickmann

carlos_brickmann_10É hoje. O Palácio do Planalto de Dilma enfrenta o Palácio do Jaburu cujo soberano é Michel Temer, pela Presidência da República. É um enfrentamento meio estranho, primeiro, porque disputa de Presidência travada a partir de Palácios é quase uma contradição em termos. Vamos juntar o crucifixo do Aleijadinho? Vamos juntar as obras do Athos Bulcão? E vamos lutar por eles? Não é o caso.

O segundo motivo é que tem gente achando que vai ter guerra mesmo. Que no momento em que estiver todo mundo na rua, aplaudindo ou condenando o impeachment, muita gente irá para a briga também. Pois pode tirar o cavalinho da rua. Tanto a polícia de Brasília quanto a de São Paulo, que são as mais fortes, já determinaram as distâncias e os produtos que podem ou não aparecer numa manifestação. Por exemplo, se alguém aparecer lá com uma foice, ou com um facão, ele não vai entrar na briga não, por mais que pense que vá. A coisa vai correr tranquilamente.

Agora este colunista vai dar um palpite; palpite mesmo, não mais do que isso, porque no momento não dá para outra coisa a não ser um palpite: ganha o presidente Temer.

Dilma perde o mandato e Temer poderá até mantê-lo, dependendo do Tribunal Superior Eleitoral, TSE. Mas até lá, esse outro julgamento, é ele que ficará. Será ele que vai tentar realizar de novo o grande sonho das conversas em Brasília que negociem as diferenças entre os vários partidos.

Só não fique muito otimista. Existe ainda o juiz Sergio Moro que, agora, neste momento em que escrevo, já está há quatro dias tomando o depoimento do Príncipe dos Empreiteiros, Marcelo Odebrecht. Se o Marcelo contar tudo o que sabe, será melhor mesmo começar tudo de novo.

Cai a coroa e o rei.

Um canto

Gente malvada essa de Brasília. Com essa história da Dilma prometer formar um novo pacto de união, estão dizendo que ela está montando o Canto da Cisna.

Bomba! Bomba!

O presidente do Senado, Renan Calheiros, o peemedebista mais fiel à Dilma, o homem mais próximo do governo, informou a amigos que não vai acelerar o ritmo do impeachment quando este for encaminhado à Casa.

Ah, sim! A verdade é que depois do resultado, se o pedido passar, acabou. Derrubou. Não vai ser acelerado ritmo, não vai ter truque novo, nada que mude isso e, claro, ele tranquilamente vai ficar debaixo da lei dizendo que fez exatamente o que a Constituição manda.

Noção da situação

A Odebrecht já está falando de um lado. De outro, um dos mais hábeis políticos brasileiros, aquele cujo partido não tem direita, nem frente, nem esquerda, nem coisa nenhuma, que é Gilberto Kassab, já decidiu.

Sai do governo e apoia o impeachment.

Sem círculo

Dilma diz que na hipótese, que parece improvável, de ganhar a briga contra o impeachment, vai propor um governo de União Nacional, acenando antecipadamente à oposição com um pacto.

Vamos, então, analisar o pacto da Dona Dilma: enquanto ela estava no poder e mandava de todos os lados e com todos os cargos para distribuir, não conseguiu formar nem um governo. Termina com esse ministério medíocre. Um ministeriozinho. Até o Ministério de Fernando Collor era muito melhor do que esse. Agora imaginem outro, igual ou pior.

Esqueçam.

O mordomo, rei

Não se assuste com o vice-presidente Michel Temer. Certamente ele tem os seus defeitos, certamente não são poucos. Certamente em sua carreira política cometeu falhas ou deslizes que poderiam criar problemas para ele. Mas, enfim, é uma pessoa tranquila, conversável , educada. Não escoiceia nem subordinados, nem visitantes. Uma pessoa com quem dá para dialogar.

Em resumo, o que será possível analisar depois da votação deste domingo é se será o homem certo ou errado. Este colunista que acompanha os fatos há muitos anos não tem torcida, nem preferência, mas a impressão é que com Temer poderá ser possível pelo menos trocar ideias com nexo.

Na linha

O empreiteiro Marcelo Odebrecht começou a descrever ao juiz suas atividades desde muito tempo atrás. Numa delas fala amplamente e garante a credibilidade dos policiais que participaram da Operação Lava Jato. Nega que tenha comprado dossiê, mas é o que está correndo.

Estatal empregadora

Esse é um país singular. O mais odiado dos ministros do STF pelo governo é o Gilmar Mendes. Só que entre o patrocínio do grande evento que ele montou em Lisboa, na Faculdade de Direito, estiveram a OAB nacional, que apoia o impeachment, e Itaipu que não só não apoia o impeachment, como é do próprio Governo e dá aquele monte de empregos para aquele monte de gente que fora de lá, digamos, estaria com muitas dificuldades e engrossando o atual índice nacional de milhões de desempregados.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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