Corrupção faz Brasil cair cinco posições em ranking global de liberdade de imprensa

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Todas as regiões do planeta experimentaram uma deterioração na liberdade de imprensa em 2015, em especial a América Latina, que, em conjunto, ficou atrás da África na última edição do ranking anual da ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), divulgado na quarta-feira (20).

O Brasil, por exemplo, despencou cinco posições e ocupa agora o 104º lugar, atrás de países como Uganda, Líbano, Serra Leoa e Nicarágua. “Com ameaças, ataques físicos durante protestos e assassinatos, o Brasil é um dos países mais violentos e perigosos para jornalistas”, diz o relatório.

O ranking analisa 180 países com base em indicadores como pluralismo, independência dos meios, autocensura, transparência e infraestrutura. Uma vez levantados esses dados, é elaborado um índice para o nível de risco para o trabalho da imprensa – quanto mais alto, mais perigoso.

Primeira colocada do ranking, a Finlândia, por exemplo, tem pontuação 8.59, enquanto no último lugar está a Eritreia, com 83.92. Como comparação, o Brasil alcançou 32.62 pontos.

“Infelizmente, está claro que muitos líderes mundiais estão desenvolvendo uma forma de paranoia em relação ao jornalismo legítimo”, diz Christophe Deloire, secretário-geral da RSF. “Todos os indicadores da classificação se deterioraram. Numerosas autoridades públicas estão tratando de recuperar o controle de seus países e temem que o debate público se abra demasiadamente.”

Segundo a RSF, a América Latina despenca no ranking devido à “violência institucional” (Venezuela e Equador são os exemplos citados), ao crime organizado (Honduras), à impunidade (Colômbia) e à concentração dos meios de comunicação (Argentina). No Brasil, é destacada a corrupção como razão para a deterioração da situação da imprensa.

“Proteger repórteres [no Brasil] fica muito mais difícil devido à falta de um mecanismo nacional e a um clima de impunidade abastecido por uma corrupção onipresente”, destaca o estudo.

Ranking

Intimidação crescente na Alemanha

A Europa continua na liderança do ranking – ocupa sete das primeiras dez posições. Porém, com alguns países com queda significativa, como a Alemanha. O país está agora em 16º, tendo perdido quatro posições em relação ao ano anterior.

Entre os motivos, o relatório destaca um crescente discurso de ódio também em relação à imprensa por parte de grupos de extrema direita como o Pegida (sigla em alemão para “Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente”), cujos simpatizantes evitam falar com jornalistas e se referem a eles como “imprensa da mentira”.

“A lei proíbe discursos de ódio, negação do Holocausto e propaganda nazista, mas grupos de extrema direita miram a imprensa sem se importar”, afirma o estudo. “Desde 2014, houve crescente intimidação, ameaças e violência contra jornalistas na cobertura desses grupos, especialmente do islamofóbico e xenófobo Pegida.”

O estudo menciona também que, em alguns países em conflito, como Iraque (158º), Síria (177º) e Líbia (164º), “exercer o jornalismo é um ato de bravura”. A RSF destaca no ranking o progresso da Tunísia na (96º), que avançou 30 posições – uma consolidação dos efeitos positivos da revolução de 2010-2011, segundo a ONG.


Ranking

1 – Finlândia
2 – Holanda
3 – Noruega
4 – Dinamarca
5 – Nova Zelândia
6 – Costa Rica
7 – Suíça
8 – Suécia
9 – Irlanda
10 – Jamaica
104 – Brasil
171 – Cuba
172 – Djibouti
173 – Laos
174 – Sudão
175 – Vietnã
176 – China
177 – Síria
178 – Turcomenistão
179 – Coreia do Norte
180 – Eritreia

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