Maranhão errou ao embarcar no plano do Planalto, mas alguns que o pressionam são órfãos de moral

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O futuro da Câmara dos Deputados permanece no limbo da incerteza depois da decisão do presidente interino da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), de anular a tramitação do processo de impeachment de Dilma Rousseff, medida revogada pelo próprio parlamentar no início da madrugada desta terça-feira (10).

Durante reunião da Mesa Diretora da Câmara, ocorrida neste terça-feira, Maranhão foi pressionado por seus pares a renunciar ao cargo de primeiro vice-presidente, o que ensejaria sua saída imediata do comando da Casa legislativa. A pressão maior sobre Waldir Maranhão vem do seu próprio partido, o PP, que sugere trocar a renúncia por uma possível blindagem no Conselho de Ética, que já recebeu pedido de cassação do mandato do parlamentar maranhense.

Na reunião da Mesa, após fazer um mea culpa e pedir desculpas aos colegas de parlamento, Waldir Maranhão teria afirmado que não renunciará ao cargo. A prevalecer essa situação, a Câmara poderá viver momentos de tensão nos próximos dias, pois o Partido Progressista já pensa em colocar o deputado Espiridião Amin (PP-SC) no lugar, no melhor estilo rei morto, rei posto. Espiridião é do grupo de Eduardo Cunha, que mesmo afastado da Câmara trabalha nos bastidores pelo ex-governador de Santa Catarina.

Waldir Maranhão prometeu pensar sobre o assunto e dar uma resposta à cúpula do PP até quarta-feira (11), mas não se tem certeza de que a renúncia será a resposta que muitos esperam. Enquanto o mistério prevalece na seara da Maranhão, na Câmara fala-se em renúncia como única alternativa.

Uma Casa legislativa da importância da Câmara dos Deputados não pode permanecer sem comando, assim como não pode ser comandada por alguém emoldurado por suspeitas. Infelizmente, na política brasileira não se pode aplicar a teoria da mulher de César, o imperador de Roma, que àquela altura deveria não apenas ser honesta, mas parecer como tal.

A Mesa Diretora da Câmara estuda a possibilidade de afastar Maranhão por meio de um projeto de resolução. A manobra está sendo capitaneada pelo segundo vice-presidente da Casa, Fernando Lúcio Giacobo (PR-PR), e pelo primeiro secretário, Beto Mansur (PRB-SP).


Por mais que a situação exija uma definição célere para evitar o agravamento da crise política, Giacobo e Mansur não são as pessoas mais recomendadas para liderar o processo em questão. Giacobo é ligado a Eduardo Cunha e valeu-se da proximidade com o presidente afastado da Câmara para emplacar sua amante em cargo comissionado, que na Casa legislativa é conhecido como Cargo de Natureza Especial (CNE).

Priscila Farias de Araújo, conforme noticia o jornalista Mino Pedrosa, não seria sequer notada na estrutura funcional da Câmara não fossem os laços amorosos com Giacobo, com quem tem uma filha, hoje com quatro anos e reconhecida como tal em cartório de registro civil da capital dos brasileiros.

Mas a astúcia de Giacobo como parlamentar não é conhecida por sua porção Don Juan, mas por ter ganho na loteria doze vezes, marca superada apenas pelo polêmico João Alves, então deputado federal que foi acusado de envolvimento no escândalo conhecido como “Anões do Orçamento” e que teve o mandato parlamentar cassado.

Fernando Lúcio Giacobo foi alvo de pelo menos quatro ações no Superior Tribunal Federal, sendo uma delas por sequestro e cárcere privado. O caso, que teria ocorrido em julho de 2000, foi denunciado pelo Ministério Público do Paraná. O parlamentar, segundo Pedrosa, é acusado de sonegação de impostos com base em empresas fantasmas que beneficiariam sua concessionária. O esquema criminosos teria lesado os cofres públicos em R$ 331.348,06, entre outubro de 2000 e junho de 2001.

Já o primeiro secretário Beto Mansur não fica atrás do colega de parlamento. Agindo como comandante da Câmara desde o afastamento de Eduardo Cunha, Mansur é o campeão da Casa quando o assunto é processos na Justiça. O primeiro secretário, que lidera a pressão sobre Waldir Maranhão, é alvo de aproximadamente quarenta processos. Um deles trata de exploração de trabalho escravo e infantil.

Sem dúvida alguma Waldir Maranhão errou feio ao embarcar no golpe arquitetado minuciosamente pelo advogado-geral da União, que cumpriu ordens do Palácio do Planalto, mas que seja um “ficha limpa” aquele a lhe encostar a espada na nuca.

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