Se Temer der fôlego e motivos à oposição, o governo fracassa antes do julgamento do impeachment

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Obrigado a gerenciar a herança maldita deixada pela presidente afastada Dilma Rousseff, o governo interino do peemedebista Michel Temer tem um problema extra no complexo cardápio do cotidiano: a peçonha de uma oposição vingativa, que ainda insiste no discurso mentiroso do golpe.

Longe de preocupar-se com o futuro do País, o que de chofre exige reconhecer os graves erros do governo petista, a oposição atual tem se dedicado a inviabilizar a gestão de Temer, na esperança de que o impasse transforme-se em atalho para Dilma retornar ao Palácio do Planalto.

Não se pode ignorar a necessidade de Michel Temer de catalisar apoio político no Congresso Nacional para garantir a aprovação de medidas que visam tirar a economia do atoleiro da crise, mas a indicação de alguns integrantes da equipe ministerial aconteceu sob o viés do descuido. O senador Romero Jucá (PMDB-RR), primeiro a deixar o governo, é um articulador político por excelência, mas indicá-lo ao cargo de ministro de Estado foi um erro desnecessário.

Situação idêntica ocorreu com a nomeação de Fabiano Silveira para o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle – antiga CGU -, pois o simples fato de estar ligado a Renan Calheiros era motivo suficiente para Michel evitar riscos futuros. E não precisou de muito tempo para que isso ocorresse, causando mais um estrago no governo que ainda não completou um mês.

Sem dúvida as gravações e a delação premiada de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, surpreenderam o PMDB e o próprio Michel Temer, mas de agora em diante o interino precisará de cuidado redobrado ao nomear assessores e colaboradores. Do contrário, a chamada ponte para o futuro há de ruir.


No tocante ao apoio político no Parlamento, a oposição revanchista sabe que colocando determinados assuntos na fogueira da discussão é suficiente para criar dificuldades ao governo interino. Um dos pontos de vulnerabilidade já explorado pelos oposicionistas é a demissão de Fabiano Silveira, indicado ao cargo por Renan Calheiros, que nega qualquer interferência na composição do governo.

O mais interessante nesse enredo é que a oposição atual criticou duramente o episódio envolvendo Silveira, alegando que era impossível sua permanência no cargo. Se há no País políticos que não podem falar sobre moralidade pública, esses são os petistas e os aduladores contumazes de Dilma.

A senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR), por exemplo, puxou as críticas ao ex-ministro da Transparência, mesmo sabendo de sua condição opaca e misteriosa. Investigada no Petrolão, acusada por cinco delatores de ter recebido dinheiro de propina e denunciada por corrupção passiva, Gleisi, até recentemente, não se incomodava com os “companheiros” delinquentes que integravam o desgoverno de Dilma Rousseff. Dizia a senadora petista que os escândalos de corrupção envolvendo petistas não passavam de invencionice dos opositores, como se nada representasse a roubalheira institucionalizada que arruinou a Petrobras.

Por enquanto, o maior desafio de Michel Temer é minimizar o cenário caótico que domina a economia brasileira, mas se fôlego e motivos forem dados facilmente aos adversários de agora, por certo a oposição será o maior dos problemas do presidente interino. Ou Michel chama os políticos para uma conversa dura e definitiva, deles cobrando apoio sem contrapartida, ou o melhor é começar a admitir que o fiasco é a palavra do dia.

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