Custo Brasil: Gleisi abusou do dramalhão ao falar no plenário Senado sobre a prisão do marido

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Quatro dias após a Polícia Federal (PF) deflagrar a Operação Custo Brasil – desdobramento da Operação Pixuleco II (18ª fase da Operação Lava-Jato) –, a senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR) usou a tribuna do Senado Federal, nesta segunda-feira (27), para falar sobre a prisão de seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo da Silva (Planejamento e Comunicações).

A senadora paranaense, como já era esperado, reforçou a tese esdrúxula lançada no dia da operação da Polícia Federal, quando afirmou-se que o objetivo do cumprimento dos mandados de busca e apreensão e de prisão em sua residência teve “a clara intenção de constranger”.

“O cerco policial, por terra e ar, de nossa casa e a ordem judicial para entrar em nosso apartamento teve a clara intenção de constranger, não só a mim, mas a todos os moradores, como se a intenção principal fosse mostrar sua onipotência contra cidadãos desarmados”, discursou a petista, desta vez desprovida da sua conhecida arrogância.

O Brasil ainda é uma democracia e como tal garante ao cidadão o direito de expressar livremente o próprio pensamento, mas não se pode aceitar a ideia de que um apartamento funcional do Senado sirva de escudo para alguém que é investigado em um rumoroso escândalo de corrupção.

“Conheço Paulo há muitos anos. Sei das suas virtudes, e dos seus defeitos. Sei que ele não faria uso do dinheiro alheio em benefício próprio […] Tenho certeza de que não participou ou se beneficiou do esquema que o estão acusando. Ele sabe que eu não o perdoaria, que a sua mãe não o perdoaria”, afirmou a petista.

Gleisi pode dizer o que quiser a respeito do marido, mas é preciso considerar o que o ex-vereador Alexandre Romano, o “Chambinho”, delator da Operação Pixuleco II, revelou às autoridades. Chambinho era a principal peça do esquema criminoso para a recepção do dinheiro desviado e deu detalhes de como funcionava a operação com base em empréstimos consignados.

Levando-se em conta que a delação de Romano já foi homologada e o mesmo encontra-se em liberdade vigiada, o que significa que ele não mentiu as informações prestadas foram comprovadas, as declarações de Gleisi é que estão no limbo da dúvida.Ademais, seria um suicídio político a senadora admitir que o marido participou do esquema que desviou R$ 100 milhões


Reprisando o teor da nota que divulgou na última quinta-feira (26) através das redes sociais, Gleisi falou sobre “dor na alma e no coração”, mas que está “serena e humilde, mas não humilhada”.

“É com muita dor que eu venho a esta tribuna, dor na alma, dor no coração. Dor pelo que aconteceu na última quinta-feira, pelos erros e equívocos na nossa história, pelas injustiças semeadas”, declarou.

Entremeado por apartes de senadores, a fala de Gleisi Hoffmann foi melodramática, mas estrategicamente pensada. Afinal, a própria senadora é alvo de investigação no âmbito da Operação Lava-Jato, em que pelo menos cinco delatores a acusaram de ter recebido dinheiro do Petrolão.

“Nem em pesadelos eu seria capaz de supor que estaria aqui, nesta tribuna, para defender meu marido, pais dos meus filhos e de caminhada política, de uma prisão. Prisão injusta, ilegal, sem fatos, sem prova, sem processo […] estou sentindo na própria pele, o que aflige, diariamente, milhares de pessoas, homens e mulheres atingidos pelo abuso do poder legal e policial”, disse a petista.

Como já visto em várias ocasiões ao longo da última década, os petistas sempre são inocentes e jamais admitem ter participação em escândalos de corrupção. Os “companheiros” André Vargas, João Vaccari Neto e José Dirceu negavam da mesma forma, mas acabaram atrás das grades. Gleisi não agiria de forma diferente, pois no momento está em jogo a Presidência da República, da qual foi afastada temporariamente Dilma Rousseff, que pode não mais voltar ao cargo.

Por isso esse discurso esculpido com o cinzel do interesse político, mas com doses de dramatização excessiva. Afinal, não política nacional há uma enorme carência de bem intencionados. Aliás, não há como confiar no discurso dramático balbuciado por alguém que ainda deve explicações sobre a indicação de um pedófilo, condenado a mais de cem anos de prisão, para cargo de confiança na Casa Civil e responsável por cuidar dos programas federais destinados a crianças e adolescentes.

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