Operação Pripyat: nova fase da Lava-Jato faz alusão a Chernobyl e mira a Eletronuclear

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Quando denunciou às autoridades o esquema de corrupção que hoje é conhecido como Petrolão, o editor do UCHO.INFO afirmou que a roubalheira não era restrita à Petrobras, mas a outros setores da economia, como o de energia. Isso porque no nascedouro do esquema criminoso, ainda na seara do finado José Janene, mentor intelectual do Petrolão, muitos eram os indícios de que a corrupção avançara para o setor energético.

Lamentavelmente, a corrupção no Brasil é endêmica e tem deixado um rastro de destruição, sem que os culpados sejam punidos à altura dos crimes cometidos. Valem-se de chicanas jurídicas e de acordos de colaboração premiada para, no ócio forçado, desfrutar de boa parte do dinheiro roubado.

A nova etapa da Operação Lava-Jato, desdobramento da Operação Radioatividade, não poderia ter outro nome, que não o de Pripyat. Esse é o nome de uma cidade fantasma no norte da Ucrânia, próximo à fronteira com a Bielorrússia. Nas cercanias de Pripyat fica a central nuclear de Chernobyl, palco do maior acidente nuclear da história.

As investigações que levaram à Operação Pripyat mostram que o ex-presidente da Eletronuclear, almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, preso nesta quarta-feira (6), recebeu R$ 12 milhões em propina das obras da Usina de Angra 3. O valor corresponde a 1% do montante da construção, orçada em R$ 1,2 bilhão e executada pela empreiteira Andrade Gutierrez.

Outra parte (1,2%) da propina, de acordo com Procuradoria da República, foi dividida entre cinco ex-dirigentes do alto escalão da Eletronuclear: Luiz Soares, ex-diretor técnico, (0,3%); Edno Negrini, ex-diretor de Administração e Finanças, (0,3%); Persio Jordani, ex-diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente (0,2%); Luiz Messias, ex-superintendente de Gerenciamento de Empreendimentos, (0,2%); e José Eduardo Costa Mattos, ex-superintendente de Construção, (0,2%). Os investigadores afirmam que houve pagamento de propina para ‘núcleo político da organização criminosa, investigado no âmbito do Supremo Tribunal Federal’.

“Tendo em conta a informação de que a Eletronuclear pagou para a Andrade Gutierrez em relação ao contrato de construção civil de Angra 3 o valor de aproximadamente R$ 1,2 bilhão e estabelecendo-se a possível premissa de que todo o acerto realizado foi pago, é possível apresentar a estimativa de que Othon Luiz recebeu recebeu até R$ 12 milhões”, afirma a Procuradoria.


Luiz Soares e Edno Negrini receberam até R$ 3,6 milhões e Luiz Messias, José Eduardo Costa Mattos e Persio Jordani receberam até R$ 2,4 milhões em propinas da aludida construtora. O cálculo pode até estar subestimado considerando que foram identificados pagamentos da Andrade Gutierrez para a Flexsystem no valor de R$ 5 milhões.

Foram identificados vários pagamentos considerados suspeitos: da Engevix para a Flexsystem no valor de R$ 653,8 mil; da Engevix (R$ 375,4 mil ) e da Andrade Gutierrez (R$ 178,3 mil ) para a AEM Sistemas; da Andrade Gutierrez para a VW Refrigeração no valor de R$ 3,4 milhões. Fora isso, outros pagamentos chamaram a atenção dos investigadores, da Andrade Gutierrez para geração de “Caixa 2” como forma de viabilizar propina em espécie no âmbito das obras de Angra 3: R$ 7,19 milhões para a empresa Eval; R$ 126,64 milhões para a empresa Legend; R$ 37,81 milhões para a empresa SP Terraplanagem; e R$ 5 milhões para a empresa JSM Engenharia.

Os procuradores Lauro Coelho Junior, José Augusto Vagos e Eduardo El Hage destacaram a ousadia da ação criminosa que teve a Eletronucelar como alvo.

“As investigações constataram a incrível audácia da organização criminosa que vitimou a Eletronuclear, sendo que, mesmo após ter sido alvo da Operação Radioatividade, continuou a ter influência na estatal, atrapalhando a completa elucidação do amplo esquema de corrupção, fraude a licitações e lavagem de dinheiro.

Para além da investigação, a deflagração da Operação Pripyat demonstra que a Lava Jato, pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal, com a devida autorização do Poder Judiciário, continuará cumprindo, seja onde for, o seu incansável papel de combate ao grave quadro de corrupção generalizada que atingiu as mais diversas empresas e órgãos públicos brasileiros.”

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