Putin manipulou doping em todos os esportes; países pedem exclusão de Moscou na Rio-2016

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Uma investigação realizada pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) revelou que o governo russo de Vladimir Putin fraudou os testes de laboratório antes e durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, em Sochi, para beneficiar seus atletas. A revelação fez com que dez países solicitassem ao Comitê Olímpico Internacional exclua a Rússia dos Jogos do Rio de Janeiro em todas as modalidades, não apenas no atletismo.

Logo após a publicação do informe, o COI se disse “chocado” e já admite medidas que poderão ser tomadas para impedir russos de estarem no Rio. Contudo, não esclarece se isso significaria toda a delegação de Moscou ou apenas parte dela.

Uma reunião de emergência será realizada nesta terça (19), em Lausanne, para tomar as primeiras medidas. “Vamos estudar cuidadosamente as alegações”, afirmou a entidade. “As descobertas mostram um ataque chocante e sem precedentes contra a integridade do esporte e dos Jogos Olímpicos”, alertou Thomas Bach, presidente do COI e que há um mês insistia em elogiar os russos. “O COI não hesitará em tomar as sanções mais duras contra qualquer indivíduo ou organizações implicadas”, disse. Nesta terça, após o encontro, a entidade poderá tomar “as primeiras decisões e sanções provisórias com relação aos Jogos de 2016”, continuou.

As acusações são muito sérias. “O Ministério dos Esportes dirigiu, controlou e coordenou a manipulação dos resultados de atletas, ajudados pelo FSB (o serviço secreto russo)”, destacou a investigação independente.

O levantamento ainda concluiu que o serviço secreto mantinha um freezer clandestino para ajudar na operação para trocar as amostras dos resultados. A metodologia passou a ser conhecida como a de “fazer desaparecer testes positivos”. “Todos os esportes foram afetados”, alertou a investigação. Entre as modalidades identificadas estão atletismo, esportes de inverno e a maioria dos esportes da olimpíada de verão.

Atolado em sua pior crise de doping, o esporte russo já foi alvo de um abalo ao ter o seu atletismo impedido de competir na Olimpíada – apenas aqueles que conseguirem provar que passaram em controles de doping fora de país é que poderão competir. Entretanto, por enquanto, essa lista se limita a apenas duas atletas e ambas terão de atuar sob uma bandeira “neutra” no Rio. Uma delas, Yuliya Stepanova, deixou a Rússia em 2014 e Putin a chamou de “Judas” por denunciar o esquema de doping do país.

A equipe de levantamento de peso também pode ficar de fora em razão de suspeitas de doping generalizado.

Agora, o informe produzido pelo advogado canadense, Richard McLaren, A pedido da Wada revela que a operação de doping foi conduzida pelo próprio governo. A investigação foi feita depois que o ex-diretor do laboratório russo, Grigory Rodchenkov, revelou ao “The New York Times” que, durante os Jogos de Sochi, recebeu ordens para trocar as amostras de sangue e urina de dezenas de atletas. Pelo menos quinze deles ganharam medalhas.

De acordo com Rodchenkov, isso ocorreu “em cooperação com o Ministério dos Esportes” e que a mesma prática foi realizada antes de Londres, em 2012, e do Mundial de Atletismo de Moscou, em 2013. No ano passado, a troca de amostras também ocorreu no Mundial de Esportes Aquáticos, em Kazan.


McLaren, em seu informe, confirmou a suspeita. “Acima de qualquer dúvida, chegamos à constatação de que o laboratório de Sochi criou um sistema de doping direcionado pelo Estado” disse. “Isso não é apenas para atletismo, mas para muitos esportes”, ressaltou. Segundo ele, a metodologia consistia “em trocar amostras e permitir que atletas pudessem competir, mesmo dopados”.

A investigação também aponta que o governo de Putin “dirigiu e controlou” o esquema de doping, usando até mesmo os serviços de inteligência da ex-KGB.

O especialista revelou que chegou a isso por meio de entrevistas, revisão de milhares de páginas, análises laboratoriais e testes forenses. A ordem vinha do Ministério dos Esportes, trocando as amostras de atletas indicados pelo governo. “O governo estava envolvido nesse esquema”, confirmou.

Em Sochi, a manipulação também ocorreu. Mas, com a vistoria internacional, os russos tiveram de se adaptar para fazer desaparecer as amostras. O FSB foi acionado e nenhum teste positivo para atletas russos era feito sem o serviço secreto. Os testes eram colhidos regularmente. Mas pela noite era passado para um prédio ao lado, onde ficava uma operação ilegal fora da sala. Ali, as amostras eram trocadas.

“Assim, os atletas podiam competir sabendo que não seriam pegos”, declarou McLaren. Segundo ele, Vitaly Mutko, ministro dos Esportes, não tinha como não saber. Mas o centro da operação também foi liderado pelo serviço secreto russo. O Comitê Olímpico Russo também foi implicado. Isso porque alguns dos membros do Ministério do Esporte e presidentes de federações esportivas também faziam parte do Conselho do Comitê Olímpico.

As revelações prometem colocar pressão extra sobre o COI para que decida se deve barrar toda a delegação russa no Brasil ou apenas os atletas envolvidos. Nos últimos meses, o presidente do comitê, Thomas Bach, indicou que precisaria encontrar “um equilíbrio entre responsabilidade coletiva e justiça individual”.

Contudo, agências antidoping de dez países e mais de vinte grupos de atletas prometem pedir que o COI suspenda a delegação russa completa dos Jogos do Rio, e não apenas os atletas identificados. O argumento é de que o doping era generalizado e que, hoje, não há como saber quem está limpo. Os países incluem Alemanha, Espanha, Japão, Suíça, Estados Unidos e Canadá.

Para a Associação de Agências Antidoping, a constatação da Wada é um “divisor de águas” na história do esporte. “A medida apropriada seria a de suspender a Rússia dos Jogos”, disse Paul Melia, representante do Canadá. O governo russo admitiu que seu esporte tem problemas com o doping. Mas, nos últimos meses, insiste que jamais tratou o doping como política de Estado.

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