Operação Decantação: empresa de saneamento de Goiás teria quitado dívida de campanha de Perillo

marconi_perillo_1002

Lamentavelmente, no Brasil política faz-se apenas com muito dinheiro, na extensa maioria das vezes de origem ilícita (leia-se corrupção). E nessa onda criminosa não há espaço para o falso “bom-mocismo”, pois todos estão envolvidos de alguma maneira nos ditos esquemas, mesmo que de forma indireta ou na condição de coniventes.

Nesta quarta-feira (24), em Goiás, a Polícia Federal deflagrou a Operação Decantação, que tem como alvo a Saneago, empresa de saneamento do estado governado pelo tucano Marconi Perillo. A PF, o Ministério Público Federal e o Ministério da Transparência (ex-CGU) apuram desvios de R$ 4,5 milhões em recursos federais a partir da Saneago.

O presidente estadual do PSDB, Afrêni Gonçalves, e o presidente da Saneago, José Taveira Rocha – ex-secretário estadual da Fazenda de Goiás -, foram presos na operação.

De acordo com o procurador da República Mário Lúcio Avelar, há fortes indícios de que recursos públicos foram transferidos para o diretório goiano do PSDB, com o objetivo de quitar dívida da campanha eleitoral, sendo que o restante do dinheiro era distribuído entre agentes públicos e empreiteiras.

Segundo as investigações, aproximadamente R$ 500 mil teriam sido repassados à campanha de Perillo e destinados a uma empresa de publicidade.

A Decantação aponta que Afrêni Gonçalves teria negociado R$ 1 milhão em doação (propina) para o PSDB de Goiás com a empresa JC Gontijo, que já foi investigada no rastro do escândalo conhecido como Mensalão do DEM. A empresa tem contratos com a Saneago.


Avelar usou o Petrolão como referência para explicar a importância da operação. “É o mesmo sistema, guardadas as proporções, da Lava Jato”, afirmou o procurador da República.

Sociedade de economia mista, a Saneago atende 225 municípios goianos. A Odebrecht Ambiental tem contrato com a estatal para investimentos e operação do sistema de esgoto em quatro municípios – Aparecida de Goiânia, Jataí, Trindade e Rio Verde.

Segundo o procurador, a Decantação tem na mira ao menos dois contratos de R$ 1 bilhão. “Esse contrato de transferência são obras que começaram em 2007 e até hoje não estão concluídas.”

Avelar diz que a investigação começou em meados de 2015 a partir de uma denúncia de fraude em licitação para aquisição de três bombas para água em Corumbá. De acordo com o procurador, a empresa que venceu a licitação cobrou R$ 19 milhões no contrato.

“A concorrente fornecia as bombas conforme especificação do edital por R$ 9 milhões, metade do preço”, explica. “Chamou a atenção. Passamos a observar que não era uma ação isolada. Era uma ação concertada das diversas diretorias e presidência da estatal.”

Dívidas de campanhas eleitorais não são novidade, assim como a forma de quitá-las. Em todo o País, os partidos usam desse expediente criminoso para se livrar de credores. Isso mostra que, mesmo não sendo oficializado, o financiamento público de campanha é o que impera no País. Aliás, a Operação Lava-Jato não deixou dúvidas a respeito do tema.

apoio_04