Impeachment: espetáculo degradante, com direito a acusações graves e rasteiras, suspende julgamento

(Pedro Ladeira - Folhapress)
(Pedro Ladeira – Folhapress)

Cientes de que Dilma Rousseff será derrotada no julgamento final do impeachment, petistas protagonizam no plenário do Senado Federal cenas patéticas que revelam ser o Brasil uma república bananeira com dimensões continentais. Isso porque alguns dos integrantes da tropa de choque da presidente afastada, os chamados “rotweillers de Dilma”, decidiram tumultuar os trabalhos com enxurradas de questões de ordem e acusações rasteiras que não coadunam com um julgamento.

Na manhã desta sexta-feira (26), na retomada da sessão que foi suspensa à meia-noite anterior, por pouco os senadores não chegaram às vias de fato. Um intenso bate-boca, com troca de pesadas acusações, obrigou o ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal e comandante do julgamento, a suspender a sessão antes do previsto. “Vou usar meu poder de polícia! Vou mandar desligar os microfones. Estamos sem áudio. Está suspensa a sessão!”, declarou o indignado Lewandowski.

O ponto alto da discussão, a exemplo do que aconteceu na quinta-feira, ficou por conta do embate entre os senadores Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Lindbergh Farias (PT-RJ). Chamado de “desqualificado” pelo petista, Caiado afirmou que Lindbergh é “pior que Beira-Mar” e tem uma “cracolândia” no seu gabinete.

A acusação é pesada, mas o fato em si não é novidade para quem frequenta o cotidiano da política nacional. O que não significa que aquilo que foi dito em plenário seja verdade. A grande questão é saber se Lindbergh Farias levará o caso adiante ou se vestirá a carapuça. Como contradita, se é que bate-boca tem esse direito, o senador petista afirmou que o bicheiro Carlinhos Cachoeira é quem sabe da vida de Caiado.

A confusão cresceu ainda mais quando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), tomou o microfone do plenário e disse que o Senado havia se transformado em verdadeiro “hospício”. E Renan dedicou sua verborragia à senadora Gleisi Helena Hoffmann (PT-PR), que seguidamente vem perdendo as estribeiras no julgamento.


“Fico muito triste porque essa sessão mostra que a burrice é infinita. Ontem, a Gleisi chegou a dizer que o Senado não tem moral para julgar o impeachment. Isso porque ela pediu há uns trinta dias atrás, o presidente do Senado conseguiu no STF a suspensão de seu indiciamento e de seu marido”. Ex-ministro do Planejamento (Lula) e das Comunicações (Dilma), Paulo Bernardo da Silva é alvo das investigações Operação Custo Brasil, acusado de liderar um esquema criminoso que desviou mais de R$ 100 milhões de servidores federais aposentados que recorreram a empréstimos consignados.

A denúncia feita por Renan Calheiros no plenário, no calor dos ânimos, é duplamente grave. Primeiro porque Gleisi não é a santa que ela própria tenta encarnar e jamais deveria ter feito pedido tão absurdo, o qual pode ser interpretado como tentativa de obstrução aos trabalhos da Justiça. Por outro lado, a denúncia é grave porque Renan não poderia ter recepcionado tal pedido e muito menos agido nos bastidores para livrar o outrora “casal 20” (Gleisi e Paulo Bernardo).

O Brasil vive a mais grave e profunda crise de sua história, que já deveria ter sido contemplada com a renúncia de Dilma Rousseff, mas a ordem no PT é esticar a discussão ao máximo, pois é preciso reforçar a narrativa bandoleira do golpe para que os camaradas consigam, vencido o impeachment, vender a falsa ideia de que são vítimas, como já acontece no plenário do Senado.

Ademais, Dilma contratou uma produtora de cinema para registrar as cenas em plenários, as quais farão parte de um documentário sobre o processo de impeachment, por isso esse protagonismo chulo, típico de casa de alterne, dos senadores que defendem a presidente afastada.

Se por um lado o espetáculo levado a cabo no Senado é deprimente, por outro serve de lição aos brasileiros, que precisavam conhecer a realidade da política nacional, que nem de longe está à altura das necessidades da nação.

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