Governo rasga o discurso da moralidade fiscal e autoriza estados a contraírem empréstimos bilionários

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O governo de Michel Temer tem, sem dúvida alguma, um sério problema de comunicação, pois muitas das decisões palacianas e ministeriais chegam à opinião pública de forma confusa, o que causa controvérsias de toda ordem. Foi por conta dessa dificuldade que o presidente da República determinou que especialistas em comunicação fossem consultados para solucionar o problema, se é que isso será possível.

Não se trata de duvidar da capacidade de solução dos profissionais consultados, mas é preciso que o governo cumpra exatamente o que prometeu. Sabe-se que a política é a arte da mentira, mas no momento em que o presidente passa por um momento de baixa credibilidade, reverter esse quadro só é possível com o cumprimento de promessas.

Quando instalou-se no principal gabinete do Palácio do Planalto, ainda na condição de interino, Michel Temer prometeu uma devassa na herança maldita deixada pela antecessora. Efetivado no cargo, após o fim do processo de impeachment, Temer continua sem cumprir o que prometeu. E o brasileiro ainda não sabe o tamanho do estrago produzido que brotou do período mais corrupto da história nacional.

Um dos discursos supostamente moralizadores do presidente da República repousava em uma ação implacável para combater o déficit fiscal. Há um enorme rombo nas contas públicas, o que faz com que o Brasil caminhe cada vez mais para trás, na melhor das hipóteses ande de lado. Para uma economia que se autointitulava emergente, o Brasil acabou no Irajá.

O ponto fulcral da grave crise econômica que chacoalha o País é que todos, sem exceção devem assumir uma cota de sacrifício, não existindo a possibilidade de concessões, caso o objetivo seja dar a volta por cima. Refém do Congresso Nacional, Michel Temer não tem outra saída, que não ceder à pressão criminosa de políticos preocupados com os próprios interesses ou os dos seus respectivos partidos.


Há dias, pelo menos dezoito governadores (Norte, Nordeste e Centro-Oeste) aterrissaram em Brasília com o pires na mão. Enfrentando os efeitos colaterais da crise, os estados dessas três regiões clamaram por um auxílio financeiro de R$ 7 bilhões. Os governadores voltaram para casa com as mãos abanando, pois o ministro Henrique Meirelles, da Fazenda, manteve a decisão de cortar gastos e colocar as contas em ordem.

Não demorou muito para o Congresso agir nos bastidores e exigir uma operação de salvamento dos estados em crise. Foi então que o governo de Michel Temer decidiu flexibilizar as regras e, apresentando-se como fiador, permitir que os estados em crise contraiam empréstimos no limite total de R$ 20 bilhões.

Até outro dia a preocupação era com o corte de gastos, mas agora o governo Temer decide não apenas rasgar o discurso, mas permitir que governadores recorram a empréstimos, cujo valor total é quase três vezes o montante solicitado. É obvio que as unidades da federação em pior situação quitaram dívidas com os servidores e eliminarão alguns penduricalhos financeiros que atrapalham o cotidiano, mas também é óbvio que dentro de alguns anos a situação não será a mesma, mas muito pior.

Em suma, antes de Michel Temer tentar resolver o problema de comunicação do seu governo, até porque há muito mais caciques do que índios na taba que se estende da Esplanada dos Ministérios até a Praça dos Três Poderes, mas o melhor seria cumprir a palavra dada e fazer das promessas uma realidade inconteste. Do contrário, Temer, que tem pela frente apenas dois anos e três meses de mandato, conseguirá um lugar de segunda classe na história verde-loura.

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