Crise: após dois recuos, produção industrial cresce 0,5% na passagem de agosto para setembro

industria_1006

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta terça-feira (01), a produção industrial do Brasil encerrou o terceiro trimestre com alta em setembro, após duas quedas seguidas.

Contudo, o resultado ainda é insuficiente para abrir caminho rumo à recuperação sustentada. A alta de 0,5% em setembro, na comparação com o mês anterior, veio após recuos de 3,5 % em agosto e de 0,1 % em julho.

Na comparação com o mesmo mês de 2015, a produção apresentou recuo de 4,8 % em setembro, atingindo o 31º mês consecutivo de retração nessa base de comparação, ainda que menos intensa desde junho de 2015 (-2,6 %).

“Tem que relativizar o crescimento de 0,5 % porque ele se dá em cima de duas quedas seguidas, e uma delas expressiva”, afirmou André Macedo, economista do IBGE.

Vale destacar que os resultados foram um pouco melhores do que as expectativas de alta de 0,4 % na base mensal e de recuo de 5,2 % sobre o ano anterior na mediana das projeções em pesquisa da Reuters.

Os destaques positivos em setembro foram as altas de 1,2 % de Bens Intermediários e de 1,9 % de Bens de Consumo Duráveis na comparação com agosto. Os ganhos, entretanto, foram insuficientes para recuperar as quedas vistas em agosto de 3,6 % e 6,4 %, respectivamente. Já os Bens de Capital, uma medida de investimento, apresentou recuo de 5,1 %, a terceira leitura negativa para a categoria.

De acordo com o IBGE, somente nove dos 24 ramos pesquisados apresentaram aumento da produção em setembro, destacando-se produtos alimentícios (6,4 %), indústrias extrativas (2,6 %) e veículos automotores, reboques e carrocerias (4,8 %).


Macedo explicou que esses três ramos têm representatividade expressiva na pesquisa, de 35% do setor industrial. “Todas as justificativas à menor intensidade da produção industrial esse ano permanecem, como demanda enfraquecida, mercado de trabalho demissionário, renda menor e preços ainda elevados”, disse o economista. “Enquanto esses fatores permanecerem, vão provocar essa instabilidade”, completou.

No mês passado, tanto as avaliações sobre a situação atual quanto sobre as perspectivas pioraram, sendo que o Índice de Confiança da Indústria (ICI) brasileira recuou após alta no mês anterior, conforme dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Economistas consultados na pesquisa semanal Focus do Banco Central veem contração de 6% da produção industrial em 2016, recuperando-se para expansão de 1,11% no ano que vem. Para o Produto Interno Bruto (PIB), a expectativa é de retração de 3,30% este ano e crescimento de 1,21% em 2017.

Não se pode ignorar o fato de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) planeja aumentar o preço do barril do produto para US$ 55 em 2017, o que deve produzir efeito dual. O primeiro deles é que o Brasil conseguirá valores maiores em termos de royalties de exploração, assim como muitos municípios poderão vislumbrar horizonte financeiro menos carrancudo.

O segundo impacto será na inflação, caso a Petrobras mantenha a decisão de acompanhar o mercado internacional para precificar os produtos derivados de petróleo (gasolina, diesel e nafta). Mantida a decisão, o transporte de cargas ficará mais caro e impactará no preço final dos produtos. E isso significa inflação e recuo da produção industrial. O tema merece atenção.

apoio_04