Lava-Jato: Cerveró presta depoimento, detalha nomeação à BR Distribuidora e complica o enrolado Lula

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A situação de Luiz Inácio da Silva, o dramaturgo do Petrolão, piora com o avanço do tempo. Enquanto Lula alega inocência e seus advogados criticam dura e irresponsavelmente as ações da Justiça, a verdade jorra da Operação Lava-Jato. E o calvário de Lula começa a ser construído a partir de uma das pontas das investigações sobre o envolvimento do ex-presidente e do PT no maior escândalo de corrupção de todos os tempos.

Nesta terça-feira (8), em depoimento ao juiz da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, Nestor Cerveró, ex-diretor internacional da Petrobras e delator da Lava-Jato, afirmou que foi nomeado, em 2008, para a diretoria financeira da BR Distribuidora por indicação de Lula, como forma de agradecimento por um negócio aprovado anteriormente e que beneficiou o Partido dos Trabalhadores.

O tal negócio a que se referiu Cerveró foi a contratação pela Petrobras, em 2009, do grupo Schahin para operar o navio-sonda Vitória 10.000 na Bacia de Santos. Segundo os investigadores da Lava-Jato, o contrato foi negociado por Cerveró com a condição de o Banco Schahin perdoar uma dívida de R$ 12 milhões do PT, contraída junto à instituição financeira pelo pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula.

O teor do depoimento é o mesmo de outro prestado por Nestor Cerveró por ocasião das negociações do acordo de colaboração premiada com a força-tarefa da Lava-Jato. Para o ex-diretor da Petrobras, o fato de ter dado parecer favorável ao grupo Schahin levou Lula a ter “reconhecimento” por ele.

“A informação que me foi dada era que [a indicação para a BR Distribuidora] seria um reconhecimento do trabalho que eu havia feito da liquidação da dívida do PT em 2006. Tinha conseguido através da contratação da Schahin, mediante a condição de que a dívida do PT com o Schahin seria liquidada. Foi o motivo de agradecimento ou reconhecimento que levou o presidente Lula a me indicar”, afirmou Cerveró.


O advogado Cristiano Zanin Martins, que integra a defesa de Lula, afirmou durante a audiência que nenhum dos depoimentos prestados confirma qualquer ação de Lula para evitar a delação de Cerveró. Sobre a nomeação de Cerveró para a diretoria financeira da BR Distribuidora, o advogado alegou que o ex-diretor da Petrobras contou o caso por “ouvir dizer”.

“Ele diz que alguém teria dito isso a ele. Ele diz que foi o Sandro Tordin, que era da Schahin e com quem tinha relacionamento. Ele diz que não veio nenhuma confirmação oficial do Lula sobre isso. Entre ser e ouvir dizer de alguém tão distante do ex-presidente Lula, como é o Sandro Tordin, mostra como não tem qualquer sentido essa afirmação”, disse Martins.

No depoimento, Cerveró destacou que sua nomeação para a BR ocorreu de forma inesperada, mesmo sabendo que seria demitido da Petrobras por pressão do PMDB da Câmara dos Deputados. Ele foi informado pelo então presidente da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra (falecido em 2015), que havia sido escolhido por Lula para assumir uma diretoria na empresa.

“[O Dutra] Entrou na minha sala e disse: ‘Você vem comigo para a BR. Você foi indicado ontem’. Houve reunião em Brasília em que foi definido que eu estaria fora, mas o presidente Lula disse: ‘O que vamos fazer com o Nestor?’. O Dutra disse: ‘Se o Nestor concordar, vamos indicar o nome dele para o Conselho [da Petrobras]’. No próprio domingo, à noite, já tinha sido tomada a decisão do presidente Lula de me indicar para a diretoria financeira da BR”, afirmou Cerveró.

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