Em carta de demissão, o agora ex-ministro Geddel mostra-se preocupado com a família, não com o Brasil

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Nenhum cidadão pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo, não importando se de forma direta ou indireta. Esse é o chamado princípio da não auto-incriminação (em latim, “Nemo tenetur se detegere”).

Mesmo assim, manter a coerência e não fugir à responsabilidade é mais que necessário, mas tal postura inexiste na seara política. Até a manhã desta sexta-feira (25), Geddel Vieira Lima era um dos homens fortes do governo do presidente Michel Temer e integrante do chamado núcleo duro do Palácio do Planalto, mas o escândalo envolvendo a construção de um luxuoso edifício em Salvador terminou em pedido de demissão.

Essa atitude já era esperada cobrada por uma sociedade que não mais suporta episódios canhestros e casos de corrupção, mas Geddel, com o apoio covarde de Temer, conseguiu permanecer no cargo por mais uma semana. Diante da pressão por sua saída, o agora ex-ministro jogou a toalha.

Mesmo amparado pelo princípio da “não auto-incriminação”, Geddel Vieira Lima poderia se valer de um momento de grandeza e admitir que errou, pedindo desculpas aos brasileiros pelo episódio que fermentou a crise política nacional.

Em mal escrita carta demissão endereçada a Michel Temer, o ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência em momento algum externou preocupação com a situação do País, mas encontrou espaço para, de chofre, ressaltar “o sofrimento dos meus familiares”. Diga-se de passagem, familiares que certamente se mudariam para o edifício cujas obras foram embargadas pelo Iphan.


Embalado por mais um ato de ousadia e vitimização explícita, Geddel destaca que nos últimos dias “avolumarem-se as críticas” e aproveita para pedir desculpas aos por ela alcançadas. O ex-ministro foi além e insinuou no documento que os fatos foram interpretados de maneira equivocada. Além de mitômano, o ex-ministro exala covardia ao não se mostrar responsável pelos próprios atos.

A bizarrice de Geddel não parou por aí… Ele menciona na carta ter feito “a mais profunda reflexão”, algo que não aconteceu por ocasião da pressão exercida sobre o então ministro da Cultura, com o objetivo de interferir no Iphan para mudar decisão que resultou em embargo da polêmica obra no litoral soteropolitano.

Não contente com o conteúdo pífio e mentiroso da carta de demissão, Geddel afirma que, de volta à Bahia, roga para que “tenhamos a cada dia um Brasil melhor”. Só mesmo um galhofeiro é capaz de, após protagonizar escândalo, falar em rogação e dias melhores. Que todos os santos da Bahia se unam para eventuais metástases políticas deixadas por Geddel no seio do governo.

Com meia dúzia de ministros demitidos ou demissionários em apenas seis meses, o governo de Michel Temer transformou-se em casa de alterne, em que o rufião não tem moral para dar ordens às tuteladas e colocá-las nos devidos lugares. Em suma, manda quem pode, obedece quem tem juízo.

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