Autoridades e imprensa ainda não incomodaram as joalherias envolvidas com o bando de Sérgio Cabral

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O noticiário nacional tem dedicado largo espaço ao escândalo de corrupção envolvendo Sérgio Cabral Filho, ex-governador do Rio de Janeiro, e seu bando, mas há detalhes que inexplicavelmente são deixados de lado.

Acusado de desviar dos cofres fluminenses R$ 224 milhões, recursos recebidos por meio de propinas cobradas de empresas que tinham contratos com o governo estadual, Cabral tentou lavar o dinheiro com a aquisição de obras de arte e joias, tudo pago em dinheiro vivo. A estratégia criminosa funcionou até a deflagração da Operação Calicute (desdobramento da Operação Lava-Jato), que entrou em capo a partir da delação do empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta Construções.

Preso preventivamente pela Polícia Federal e agora recolhido em uma das unidades do Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, Zona Oeste do Rio de Janeiro, Cabral Filho não deixará o cárcere tão cedo, pois o conjunto probatório é estarrecedor. Muitos dos envolvidos no esquema, em especial os que pagaram propina, começam a soltar a voz, o que vem complicando sobremaneira a situação do ex-governador.

No topo da organização criminosa, segundo as autoridades envolvidas nas investigações, estava não apenas o peemedebista Sérgio Cabral Filho, mas também sua esposa, a advogada Adriana Ancelmo, que usava o próprio escritório de advocacia para “esquentar” o dinheiro de propina, igualmente recebido em espécie.

No inventário dos mandados de busca e apreensão, a Polícia Federal listou mais de uma centena de joias caras adquiridas pelo casal, em sua extensa maioria pagas em dinheiro vivo. O que mostra a disposição de Cabral e da esposa de adquirirem bens de valor subjetivo como forma de lavar o dinheiro sujo e minimizar o volume dos recursos ilícitos que não poderiam ser depositados em instituições financeiras.


Nos subterrâneos dos chamados “crimes de colarinho branco”, a aquisição de obras de arte, joias e animais (cavalos e gado) é uma estratégia conhecida, mas com o avanço da qualidade das investigações os criminosos têm sido flagrados com a mão no butim.

Enquanto a grande imprensa nacional dedica-se a publicar fotos de Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo com uniformes de presidiário, alguns temas importantes são ignorados, talvez porque existam interesses escusos nessa seara.

Cabral e Adriana eram clientes assíduos de renomadas joalherias do Rio de Janeiro, onde compravam com assustadora frequência peças exclusivas e muito caras. Uma das compras, no valor de R$ 1,2 milhão, foi paga à vista e em dinheiro pelo casal, o que deveria ter levado os vendedores a suspeitarem da atitude.

Por enquanto, as autoridades da Operação Calicute não incomodaram para valer os proprietários das tais joalherias, que, tivesse esse escândalo ocorrido nos Estados Unidos, por exemplo, estariam atrás das grades fazendo companhia aos clientes suspeitos.

O fato de a grande imprensa silenciar diante do envolvimento de duas grandes e conhecidas joalherias pode esbarrar em dois pontos distintos. O primeiro no âmbito comercial, pois uma das joalherias costuma despejar dinheiro em campanhas publicitárias caras, como acontece no momento (H. Stern). Outra, ponto de peregrinação de endinheirados e descolados, limitou-se a pedir desculpas (Antonio Bernardo). O segundo ponto é de caráter pessoal, já que caciques estrelados de conhecidos veículos midiáticos também costumam pagar contas em espécie. Em suma, a imprensa pode até ser livre, mas vez por outra tem o rabo preso.

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