Renan trocou permanência no comando do Senado pela implosão do projeto de abuso de autoridade

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Na política inexistem coincidências e nada acontece por acaso. O poder é uma engrenagem complexa, muitas vezes imunda, que resulta em decisões e ações que quase sempre a opinião pública não compreende. Isso porque os subterrâneos são dominados por interesses escusos.

Nos últimos dez dias, o noticiário nacional foi marcado por decisões polêmicas envolvendo o combate à corrupção e o abuso de autoridades. Políticos corruptos – isso chega a ser um pleonasmo – uniram-se para, entre outros objetivos, implodir a Operação Lava-Jato, que desmontou a maior roubalheira que se tem notícia, e punir as autoridades que agem contra delinquentes com mandato.

No momento em que o Brasil precisa recuperar a credibilidade e a população sua autoestima, o Supremo Tribunal Federal (STF), teoricamente guardião da Constituição, aceita sentar-se à mesa com o Legislativo para, atropelando a Carta Magna, participar de uma negociata. Tudo sob a alegação de que é preciso conter a crise e garantir a governabilidade do País.

Depois de chamar de “juizeco” o juiz que determinou a prisão de integrantes da Polícia do Senado e defender de forma insana a votação, em caráter de urgência, do projeto de lei que trata do abuso de autoridade, Renan Calheiros (PMDB-AL) foi obrigado a recuar, revelando a podridão que reina na Praça dos Três Poderes.


Correndo o risco de ter confirmada pelo Supremo a decisão liminar que determinava o seu afastamento da presidência do Senado, Renan aceitou tirar da pauta de votação medidas polêmicas, recebendo em troca a garantia de sua permanência no cargo. De tal modo, como se mágica fosse, o Senado adiará a votação do projeto sobre abuso de autoridade, fazendo com que o mesmo caia no esquecimento e nunca mais volte a ser cobiçado pelos parlamentares.

Nove em cada dez brasileiros aprenderam com o passar dos anos que é impossível confiar na classe política, mas a decepção veio com a vergonhosa disposição do STF de burlar a lei máxima do País, como se a interpretação da Constituição Federal dependesse do interesse do cliente.

A política no Brasil está cada vez mais nauseante, devendo ser discutida, infelizmente, na delegacia de polícia mais próxima. Haja vista que a Operação Lava-Jato, que implodiu o Petrolão, está em cartaz desde março de 2014 e deve funcionar por pelo menos mais dois anos.

O Brasil existe sob o modelo da democracia representativa, o que dá ao cidadão não apenas o dever de acompanhar o cotidiano político, mas a obrigação de cobrar seus representantes, que, é bom ressaltar, não são donos dos respectivos mandatos e muito menos do poder.

Disse certa feita Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos da América: “O preço da liberdade é a vigilância eterna”. Sendo assim, resta concluir que ao brasileiro resta muito para ser livre, já que a classe política mantém o eleitor no cabresto.

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