Eles voltam. E voltaram

(*) Carlos Brickmann

carlos_brickmann_10Em maio de 1959, o jovem líder revolucionário Fidel Castro visitou o Brasil e foi recebido como herói. Houve festa em sua homenagem na mansão dos Nabuco, no Rio, cheia de gente importante. O prefeito de São Paulo, Adhemar de Barros, disse a Fidel que admirava a revolução cubana, mas desaprovava os fuzilamentos. Fidel se explicou: “Pero solo fuzilamos los ladrones del diñero público”. Adhemar, a quem se atribuía o slogan “rouba, mas faz”, rebateu: “Os ladrões voltam, señor. Sempre voltam”.

Adhemar tinha razão. Para manter Renan, que enfrenta onze inquéritos e é réu por peculato (desvio de dinheiro público), na Presidência do Senado, houve um grande e discreto acordo. Ninguém perdeu. Quem ganhou?

Mais fortes: ministra Carmen Lúcia, ministro Celso de Mello, senador Romero Jucá. Supersalários? Algum dia, lá no futuro, voltarão à discussão.

Prestigiado: Renan. Mas em poucos dias deixa de ser presidente do Senado. Forte, mas menos. Desacato, abuso de autoridade? Um dia, talvez.

Mais ou menos: Temer. Seus projetos econômicos serão aprovados rapidamente pelo Congresso. Está aliado a Rodrigo Maia, que como presidente da Câmara rejeitará todos os pedidos de impeachment. Em compensação, não conseguiu nem nomear o substituto de Geddel: chegou a anunciar Antônio Imbassahy, mas teve de recuar porque o Centrão não deixou. Quem não consegue enfrentar nem PTB, PR, PSD e PP forte não é.

Viva o supersalário!

Os supersalários que, um dia, voltarão ao debate, eram uma questão urgentíssima, considerados a bomba atômica de que os parlamentares dispunham para enfrentar juízes e promotores. Já não são urgentíssimos, pois cada setor encontrou seu lugar de conforto sem uso de armas tão letais. Mas o trabalho da senadora Kátia Abreu (PMDB-Tocantins) tem dados interessantes. De acordo com a Constituição, o maior salário que pode ser pago ao servidor público é o de ministro do Supremo: R$ 33.700 mensais. Mas há funcionários que, acumulando benefícios, chegam a R$ 100 mil.

O duelo que não houve

O ministro Marco Aurélio, que desencadeou a crise mandando o Senado trocar de presidente, disse que a decisão que manteve Renan foi um “deboche institucional”. Mas, quando afastou Renan e foi ignorado, poderia ter mandado prendê-lo por desobediência. Preferiu pedir um parecer à Procuradoria Geral da República.

O ministro Gilmar Mendes, que sugeriu ao Senado votar o impeachment de Marco Aurélio ou reconhecer-lhe a inimputabilidade (falta de condições para responder por seus atos), viajou e nem participou da votação.

E Curitiba?

Sérgio Moro tem prestígio no Supremo, ganho pelo profissionalismo com que vem atuando; e construiu boa reputação quando a ministra Rosa Weber o chamou para auxiliá-la. Mas aquele apoio total que recebeu de alguns ministros já não é tão total. Os ministros devem ter notável saber jurídico e ilibada reputação, condições básicas para ser nomeados; mas seu cargo é político. Talvez alguém tenha chegado à conclusão de que um juiz puro e duro como Moro, inconversável, precise ouvir mais o Supremo.

O trabalho do juiz

Mas que ninguém subestime Moro. Ele cresceu cumprindo rigidamente a lei. Não deve mudar, ainda mais agora que tem uma chuva de delações.

Lava Jato premiada

A Operação Lava Jato ganhou o Prêmio Innovare de 2016, na categoria Ministério Público, derrotando 51 outras iniciativas do MP. A força-tarefa da Lava Jato reúne 14 procuradores, 50 servidores de outras áreas, mais equipes da Polícia Federal, Receita, Petrobras, Coaf, Cade, CGU e CVM.

Às vésperas de receber o prêmio nacional, a Lava Jato recebeu o da Transparência Internacional, disputado por mais de 500 organizações de todo o mundo. A Lava Jato firmou 70 acordos de delação, fez 175 prisões, com 23 sentenças condenatórias, e pediu R$ 38 bilhões de ressarcimento. Clique e confira o balanço completo

Petismo médico

O Governo petista caiu, o PT levou uma surra nas eleições, mas o petismo militante continua vivo. Sem repetir os dogmas petistas, era impossível passar na prova de Português do concurso para ginecologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 15 das 20 questões, observa o colunista Cláudio Humberto as “respostas certas” eram as que louvavam o PT e a administração da presidente impichada Dilma Rousseff. “Resposta certa”, por exemplo, era a que dizia que houve golpe no Brasil. E a maioria esmagadora do Congresso que afastou Dilma era chamada de “força tirânica de maioria institucional”.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.

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