Michel Temer precisa dar um “cavalo de pau” no governo caso queira chegar ao final do mandato

michel_temer_1032

Quem acompanhou o anúncio do pacote de medidas do governo para estimular a economia, na quinta-feira (15), não demorou a perceber o desconforto do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil), que tinha a companhia do presidente Michel Temer, dos ministros Henrique Meirelles (Fazenda) e Dyogo Ferreira (Planejamento) e dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, Rodrigo Maia e Renan Calheiros, respectivamente.

Citado em depoimento de um dos 77 delatores da Odebrecht, no âmbito da Operação Lava-Jato, Padilha estava visivelmente incomodado, exalando comportamento que nem de longe traduz sua arrogância e impetuosidade. Açodado pela informação de bastidor de que poderá deixar o governo Temer em breve, Eliseu Padilha nega essa possibilidade, mas fontes palacianas confirmam que o chefe da Casa Civil está por um fio. Não porque a exoneração esteja a caminho, mas porque é preciso aliviar o peso que recai sobre o Palácio do Planalto na esteira de escândalos.

A postura de Padilha destoa da estratégia inicial do governo de tratar as primeiras informações da delação coletiva da Odebrecht como vazamentos ilegais. Tanto é assim, que o presidente Michel Temer solicitou ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que todas as informações sobre a colaboração premiada da empreiteira baiana sejam reveladas com celeridade e sem qualquer tipo de seletividade. Temer alegou que o processo que tenta ressuscitar a economia não pode ser comprometido.

O plano do governo tem embasamento legal e estava no caminho certo, pelo menos em termos jurídicos, mas o pedido de demissão do advogado José Yunes, ex-assessor especial da Presidência, bagunçou o cenário. Amigo de Michel Temer há pelo menos cinquenta anos, Yunes foi acusado de receber em seu escritório, em dinheiro, parte (40%) da doação (R$ 10 milhões) solicitada pelo presidente, em nome do PMDB, a Marcelo Odebrecht.


Com a saída inesperada de José Yunes do núcleo duro do governo, piorou muito a situação de dois colaboradores próximos do presidente: Eliseu Padilha e Wellington Moreira Franco (secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimento). Ambos também foram citados na delação da Odebrecht como destinatários de propinas.

O índice de aprovação do governo é risível e a permanência de Michel Temer no cargo ingressou na seara da dúvida, algo cortejado por parte de integrantes da chamada base aliada, onde começam a crescer as teses de renúncia e eleições gerais antecipadas.

Caso queira cumprir o curto mandato como presidente, Michel Temer terá de adotar medidas duras e pouco amigáveis, como forma de mostrar à opinião pública sua disposição de organizar o que muitos já classificam como bagunça. A primeira medida seria demitir, antes do Natal, boa parte da equipe ministerial, começando pelos amigos de longa data.

Os profissionais de imprensa que cobrem o cotidiano da política brasileira conhecem o grau de letalidade da peçonha que reina na Esplanada dos Ministérios. Em suma, Temer precisa dar um “cavalo de pau” no governo.

apoio_04