O que a imprensa não levou em conta no caso do cardápio dos aviões da Presidência da República

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Antes que o ano termine é preciso tratar de um assunto que nos últimos dias serviu de plataforma para a gritaria da imprensa e da opinião pública. O tema é a licitação para fornecimento de alimentação aos aviões que servem à Presidência da República.

Cancelada por determinação do presidente Michel Temer, que preferiu ouvir a voz do cidadão, a tal licitação estava valorada em R$ 1,7 milhão e continha itens medianos, longe das críticas de alguns veículos de comunicação, que chegaram ao absurdo de afirmar que o cardápio das aeronaves presidenciais fazia inveja a muitas socialites brasileiras, como se essas pessoas comessem sanduiches pré-fabricados e com talheres de plástico.

Há uma diferença entre o viés inoportuno da licitação e a necessidade da mesma, mas cabe à imprensa levar aos brasileiros a melhor e mais balizada informação. O valor da licitação era um teto a ser cumprido pelos interessados em fornecer os produtos listados, mas não obrigatoriamente deveria ser cumprido à risca.

Na rede mundial de computadores sobraram comentários de pessoas que simplesmente desconhecem o assunto. Dentre esses comentários, vários deles destacavam que alguns preços eram muito superiores aos encontrados em supermercados do País.

Em primeiro lugar é preciso lembrar que uma licitação oficial tem uma série de exigências, como, por exemplo, certidão negativa de débito junto aos órgãos federais, disponibilidade de entrega a qualquer momento e paciência para receber de um governo burocrático e mergulhado na crise. Nem sempre o preço ofertado em uma licitação é o melhor do mercado, mas é o menor possível diante das condições impostas pelo governo.

Em outra ponta da polêmica não se deve desconsiderar que a Presidência não despachará às pressas ao supermercado da esquina mais próxima para fazer compras de última hora. No caso de uma viagem de emergência, não há tempo para isso. E a refeição servida a bordo dos aviões presidenciais precisa estar disponível.

Outra questão que envolve a licitação é a segurança do chefe de Estado. Uma coisa é Michel Temer não gozar de boa popularidade, outra é enxergá-lo como tal. Quando viaja, o presidente está sempre acompanhado de assessores e ministros, além de servidores que cuidam de detalhes da viagem, como logística, segurança e agenda. Sem contar que normalmente uma equipe de assessores viaja com antecedência ao destino presidencial para cuidar dos preparativos. E esses servidores precisam ser alimentados durante o voo. Tanto é assim, que a licitação estava a cargo do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI).


Alguns profissionais da imprensa, que muitas vezes viajam com a comitiva presidencial, preferiram afirmar que as viagens nacionais são curtas, de no máximo três horas, e que o presidente Michel Temer deveria contentar-se com algumas barras de cereais. Essas declarações são típicas de jornalistas que não sabem o que fazer quando o noticiário político sofre com o recesso parlamentar. Como o Brasil acostumou-se com escândalos diários, nada melhor do que produzir a toque de caixa um imbróglio com os ingredientes do dia.

Há uma distância considerável entre fanfarrice midiática e jornalismo responsável. O momento pelo qual passa o País não é o mais adequado para uma licitação como essa, mas pouco adianta tratar os fatos com pílulas de “faz de conta”. O UCHO.INFO insiste em fazer jornalismo, não temendo qualquer reação da opinião pública diante de matérias que contrariam o desejo popular. Por certo há assuntos mais sérios no âmbito do governo para serem analisados pela imprensa, que prefere jogar para a plateia, quando seu papel deveria ser o de defensora da verdade.

Para ilustrar essa matéria, o UCHO.INFO volta no tempo e estaciona na fase final do governo de Fernando Collor de Mello. Uma licitação no Ministério da Saúde custou o cargo do então ministro Alceni Guerra, homem correto e político sem tropeços. O escândalo que ficou conhecido como “Bicicletas da Casa do Pedro” foi fruto da maldade covarde e irresponsável de determinado jornalista, que por questões pessoais decidiu implodir o ministro.

Na época, o Ministério da Saúde lançou licitação para adquirir produtos para agentes sanitários de todo o País: bicicletas, mochilas, guarda-chuvas e talhas. No caso das bicicletas, assim como nos outros itens, venceu aquele que ofereceu o menor preço, o que não significa que era o melhor preço do mercado. Algo já explicado acima.

Apenas a título de informação, em 2008 o então presidente Luiz Inácio da Silva autorizou licitação semelhante e com o mesmo propósito, com valor máximo de R$ 1,8 milhão. Considerada a inflação dos últimos oito anos, a licitação para atender o presidente Michel Temer durante as viagens oficiais é menor. Importante mesmo é saber o que é tratado nas viagens presidenciais, não o que se come. Comparado com a roubalheira de que foi alvo a Petrobras, o valor da licitação em questão é troco.

O editor do UCHO.INFO conversou reservadamente com alguns integrantes da tripulação do Airbus A319 da Presidência da República que atendia o então presidente Lula. Os relatos eram estarrecedores e permitiam concluir que o avião presidencial fora transformado em botequim de esquina com asas. Tanto é assim, que o carpete da aeronave precisou passar por intenso processo de limpeza para a retirada de manchas de bebidas alcoólicas.

Ainda na seara de Lula, um dos filhos do outrora presidente usou o antigo avião presidencial, o Sucatão, para levar a Brasília um grupo de amigos, tendo transformado o Palácio da Alvorada em colônia de férias de quinta. Sem contar que uma lancha da Presidência foi utilizada pelo grupo para passeios pelo Lago Paranoá. O assunto foi tratado apenas por este noticioso, que ainda mantém em seus arquivos as imagens da farra com o dinheiro público.

Pois bem, em tempos de crise é preciso apertar o cinto e combater a roubalheira, mas em termos de nação é preciso pensar grande e agir com a devida parcimônia.

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