Que venha 2017 do jeito que vier, com surpresas, crises e fantasmas!

(*) Ucho Haddad

ucho_24Otimista incorrigível, minha determinação confunde-se com a teimosia sadia. O ano de 2016 foi especialmente difícil, com direito a crise de todos os naipes, mas confesso que foi mais um período de longo e minucioso aprendizado. Aliás, aprendo a cada piscar de olhos, pois nada é igual, mesmo insistindo em fazer tudo outra vez e do mesmo jeito. O ano velho fez-me mais ranzinza, mais chato. Paciência, o estrago está feito.

Sou o melhor produto dos meus próprios erros. O que pode parecer frase feita é o ritmo que imponho à vida. Por isso desconheço o que é derrota. Não porque jamais tenha sido derrotado, pelo contrário, mas porque a cada derrota descubro um caminho para melhorar em todos os sentidos. De ser humano a jornalista, passando por cada um dos papéis que me cabem.

Difícil prever se 2017 será “menos ruim” e menos intranquilo, mas espero que no ano próximo consiga aprender como fiz no que está a se despedir. Se for difícil, como apontam as previsões, que o ano novo venha como quiser. Que seja pior, que seja igual, que seja do jeito que quiser. Que seja, que venha! Desde que consiga encará-lo e driblá-lo da forma que sei, com todas as letras e convicções.

Tem gente que faz promessa, que passa a virada do ano com peças íntimas de determinadas cores, como se a superstição pudesse ditar o tom do cotidiano. Tem gente que faz planos, tem quem aposte em milagres. Tem gente que escreve o nome de cada um dos reis magos no batente da porta, tem quem faça figa na hora da virada. Tem gente que come lentilha, tem quem começa o ano com o pé esquerdo levantado. Como se o pé esquerdo servisse para nada.

A única coisa que espero em 2017 é poder fazer tudo igual, como sempre fiz. E do jeito que sempre fiz. Órfão da arrogância, mas podendo melhorar cada vez mais, afinal a perfeição é o fantasma que me persegue diuturnamente. Quero poder pensar, poder escrever, pois sem isso não consigo existir. Desejo escrever e pensar melhor, apenas porque quero mais, porque sou insaciável diante do banquete do saber.

Em 2017 não quero mudar. Quero ser mais do mesmo, aceitando inclusive ser previsível a olhos outros, com a condição de que essa previsibilidade aconteça à sombra da coerência. Como sempre aceitarei críticas, até porque a liberdade tem esse preço, mas sem perder o bom senso e recepcionando o contraditório com todas as honras. Mas que não venham os gênios de plantão da Botocúndia, como se fossem os furacões de Lobato, pois a paciência está a rarear.

Que venham, em 2017, os políticos malandros, os saberetas da xavantina, os utópicos que creem no radicalismo, os especialistas nas soluções bandoleiras, os que têm remédio para tudo e todos. Que venham, mas bem preparados. Esses terão de me enfrentar, com direito às agruras do caminho. Os do bem serão, como de costume, bem recebidos, já que somar é a ordem de todos os dias.

A você, que ora parou mais uma vez para ler os meus escritos, desejo o melhor sempre. Em 2017, em dois mil e sempre. Dentro do conhecido realismo que vive a embalar-me, os meus votos são sinceros e plenos de otimismo.

Desejo que a paz seja tão grande quanto o desemprego que alguns alarifes conseguiram criar. Que você tenha saúde na proporção das taxas de juro do rotativo do cartão de crédito. Que os problemas desapareçam com a mesma velocidade com que o salário do trabalhador perde o poder de compra. Que o dinheiro sobre como se fossem as inúmeras e inenarráveis promessas dos nossos eleitos representantes. Que as surpresas boas façam-lhe corar a face, como se você estivesse diante das prateleiras dos supermercados. Que a sua felicidade seja tão grande quanto os encargos do cheque especial. Que cada minuto da vida ocorra de forma positiva e com a mesma intensidade da inadimplência que varre o País. Juntos, hoje e sempre, somos e seremos mais, do tamanho do Brasil. Feliz Ano Novo!

(*) Ucho Haddad é jornalista político e investigativo, analista e comentarista político, cronista esportivo, escritor e poeta.

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