Com a política vivendo o auge da imoralidade, o Brasil e os brasileiros não conseguem enxergar o futuro

corrupcao_1006

Definitivamente a política brasileira vive o ápice da degradação moral. A voz das ruas, que clamou durante meses a fio, até o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, por profunda assepsia na política, não surtiu o efeito esperado ou, então, perdeu a força de outrora.

No momento em que precisa de mudanças profundas para moralizar a política, o Brasil assiste a um descaso por parte daqueles que decidem o futuro da nação e dos cidadãos. Gostem ou não os políticos verde-louros, essa é a dura realidade que emoldura o cotidiano de um país que há muitas décadas vive sob a falsa promessa de ser do futuro.

Atendo-se apenas à esfera federal, o cenário é altamente desanimador. Quando assumiu a Presidência da República, ainda como interino, Michel Temer sabia do envolvimento de muitos correligionários e aliados no maior esquema de corrupção da história da Humanidade, o Petrolão. Mesmo assim, distribuiu cargos importantes a investigados por corrupção e outros crimes, demonstrando ser refém de um sistema putrefato e viciado.

Não demorou muito para algumas peças desse canhestro tabuleiro político começarem a cair (Romero Jucé e Henrique Eduardo Alves), confirmando a falta de perspectiva dos brasileiros em relação ao amanhã. Há dias, o Senado elegeu o peemedebista cearense Eunício Oliveira para presidir a Casa nos próximos dois anos. Citado em depoimentos de delação premiada da Odebrecht, Eunício, que aparece em planilhas de propina sob o codinome “Índio”, é acusado pelos delatores de ter cobrado R$ 2,1 milhões para aprovar a Medida Provisória 613, em 2013. Eunício substituiu o também enrolado Renan Calheiros (PMDB-AL), que responde a doze processos no Supremo Tribunal Federal (STF).

Rasgando a Constituição Federal, lei maior do País, Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi reeleito à Presidência da Câmara dos Deputados. Alinhado ideologicamente ao Palácio do Planalto, de quem teve um apoio escandaloso na disputa pelo cargo, Maia é investigado em processo sigiloso da Lava-Jato no rastro da delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht. Melo Filho disse aos procuradores que Maia solicitou pagamento de R$ 100 mil para quitar dívidas da campanha à prefeitura do Rio de Janeiro, em 2012. O pedido ocorreu no momento em que o então diretor da Odebrecht solicitou ao deputado para acompanhar a MP 613.

Dois anos antes, em 2010, segundo Melo Filho, o deputado democrata pediu doação de R$ 500 mil para campanha. Como as doações não foram registradas, os investigadores suspeitam de prática de caixa 2. Não bastasse, o pedido de investigação formulado pela Procuradoria-Geral da República tem como base troca de mensagens entre Rodrigo Maia e um dos sócios da construtora OAS, José Adelmário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro.

Fazendo do governo um pano repleto de nódoas, o presidente Michel Temer parece não se preocupar com o que dizem a respeito dos escândalos de corrupção que gravitam na órbita de seus assessores e aliados. Ministro-chefe da Casa Civil, talvez a mais importante pasta do governo, o peemedebista gaúcho Eliseu Padilha é alvo da Operação Lava-Jato por causa de um dos muitos depoimentos da delação coletiva da Odebrecht. Fora isso, Padilha continua controlando nos bastidores o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), que na verdade é uma mina de escândalos e desmandos.


Mas para Michel Temer pouco escândalo parece ser bobagem. Dando as costas à opinião pública, o presidente da República elevou à condição de ministro de Estado o correligionário Wellington Moreira Franco. Ex-governador do Rio de Janeiro e “sogro” de Rodrigo Maia, o peemedebista Moreira Franco, que era o secretário-executivo do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), agora responde pela Secretaria-Geral da Presidência, cargo que lhe confere o foro especial por prerrogativa de função, o chamado foro privilegiado. Apesar do escárnio, Temer disse que guindar Moreira Franco à condição de ministro é “mera formalidade”.

Para reforçar a ópera bufa, o líder do PMDB, partido de Temer, no Senado Federal é o alagoano Renan Calheiros, que combinou com Eunício Oliveira uma troca de cadeiras. Renan, como é sabido, responde a uma dúzia de processos no STF, a maioria por corrupção e crimes correlatos.

A propósito, Michel Temer também é citado na delação coletiva da Odebrecht no âmbito da Operação Lava-Jato, o que pode transformá-lo em réu em ação penal, situação que, se confirmada, colocará o Brasil de pernas para o ar. Não se pode esquecer que a empreiteira Camargo Corrêa prepara-se para uma delação complementar, manobra que deveria ensejar a prisão de todos os delatores da empresa contemplados com os benefícios da colaboração premiada.

No caso de os executivos e ex-executivos da Camargo Corrêa soltarem a voz mais uma vez e com força, é grande a possibilidade de a Operação Castelo de Areia ser ressuscitada. A Castelo de Areia, que foi anulada por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), flagrou vários políticos na contabilidade paralela da Camargo Corrêa, dentre eles o presidente Michel Temer.

Por quais razões o cenário atual é grave e preocupante? Se o plenário do STF decidir que a eleição de Rodrigo Maia é inconstitucional, como de fato é, o democrata deve ser apeado do cargo, desde que a Corte siga ao pé da letra o que determina a Carta Magna. Nesse caso, o País fica sem um vice-presidente da República.

Alguém pode alegar que o presidente do Senado, Eunício Oliveira é o sucessor imediato, em caso de ausência temporária do presidente da República. Considerando que o STF poderá em breve decidir – já há maioria entre os ministros – que réus em ação penal não podem integrar a linha sucessória da Presidência da República, Eunício terá de ser despejado do cargo, também se a Constituição for respeitada.

O ponto alto da preocupação dos brasileiros é tão lógico quanto complexo. Nove entre dez especialistas afirmam que a solução da crise econômica depende diretamente do equacionamento da crise política. Sendo assim, está confirmada a tese do UCHO.INFO que o Brasil voltará a ser o mesmo de antes somente daqui a cinquenta anos. E há quem rotule nossa afirmação como exagero conspiratório.

apoio_04