Caixa 2 é crime tributário e eleitoral, mas políticos envolvidos em corrupção tentam “operação abafa”

Enquanto a Operação Lava-Jato avança sobre corruptos e corruptores, políticos agem debaixo de silêncio quase obsequioso nos bastidores do Congresso Nacional para descriminalizar o malfadado caixa 2. Isso porque os parlamentares sabem que sob a legislação vigente todos os envolvidos nessa prática criminosa serão condenados, cedo ou tarde.

Fora do Parlamento, a ação vem arregimentando políticos de todas as correntes ideológicas em defesa da tese de que caixa 2 não significa obrigatoriamente crime. Ex-ministro da Justiça no governo Dilma Rousseff, o petista José Eduardo Martins Cardozo disse na segunda-feira (13), após depor como testemunha de defesa na ação penal que tem o “companheiro” Antonio Palocci Filho como réu, que “caixa 2 é recorrente no Brasil, mas deve ser dissociado de outros crimes”.

Em outras palavras, Cardozo adotou discurso estapafúrdio porque é preciso salvar não apenas Palocci, mas o próprio Partido dos Trabalhadores, legenda que responsável pelo período mais corrupto da história nacional.

Mas José Eduardo Cardozo não está sozinho ao entoar essa cantilena absurda. Depois de Fernando Henrique Cardoso tentar minimizar a prática delituosa, e o ministro Gilmar Mendes afirmar que o caixa 2 serve para que empresários fujam da extorsão de determinados políticos no período eleitoral, o empresário Emílio Odebrecht, dono do grupo empresarial que leva o nome da família, seguiu a mesma toada.

Odebrecht disse, em depoimento no processo penal que tem o filho Marcelo e Palocci na dianteira, que a prática do caixa 2 é “um modelo reinante”. “Sempre existiu. Desde a minha época, da época do meu pai e também de Marcelo [Odebrecht]”. Ou seja, o clã Odebrecht vem usando o caixa 2, muitas vezes para o pagamento de propinas, pelo menos desde a década de 40.


Gostem ou não os políticos brasileiros, caixa 2 é crime eleitoral e tributário, devendo ser punido com o rigor das leis pertinentes. Em uma das muitas e cansativas sessões de julgamento da Ação Penal 470, a ministra Cármen Lúcia, atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), disse de forma enfática que caixa 2 é crime. “Caixa 2 é crime, caixa 2 é uma agressão à sociedade brasileira, caixa 2 compromete mesmo que não tivesse sido isso, ou só isso. E isso não é só.” (Confira a íntegra da intervenção de Cármen Lúcia no vídeo abaixo)

A preocupação maior que depreende desse movimento canhestro orquestrado pelos políticos está no fato de que o caixa 2 não limita-se à propina e aos recursos não declarados, mas aos aportes feitos pelo crime organizado em campanhas eleitorais. Como alertou o UCHO.INFO durante a campanha de 2016, o veto a doações eleitorais por parte de empresas obrigou os políticos a recorrerem ao crime organizado, aos contraventores e a algumas seitas religiosas, em especial as igrejas pentecostais.

O escárnio do caixa 2 é gigantesco e só não percebe tal acinte quem odeia aritmética. Em 2014, quando 513 candidatos foram eleitos à Câmara dos Deputados, o País tinha aproximadamente 142 milhões de eleitores aptos a votar. Considerando os votos brancos e nulos e as abstenções, pelo menos 100 milhões de eleitores votaram naquela eleição. Isso significa que, com cada voto custando em média R$ 50, o processo de eleição dos deputados federais custou no todo pelo menos R$ 5 bilhões.

O escândalo do caixa 2 fica patente ao se confrontar os gastos reais dos candidatos e as respectivas prestações de contas encaminhadas à Justiça Eleitoral, que por sua vez finge não perceber o criminoso desencontro de números.

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