Baseada em delações da Odebrecht, Operação Satélites é amostra do que vem na esteira da “lista de Janot”

A Operação Satélites, desdobramento da Operação Lava-Jato deflagrada nesta terça-feira (21) pela Polícia Federal, a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), mirou em pessoas ligadas aos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Eunício Oliveira (PMDB-CE) – presidente do Senado –, Valdir Raupp (PMDB-RO) e Humberto Costa (PT-PE).

Com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), a PF cumpriu 14 mandados em 13 endereços nas cidades de Brasília (DF), Maceió (AL), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA). O objetivo da “Satélites” é investigar indícios dos crimes de corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.

A operação policial desta terça-feira é a primeira que tomou por base as informações prestadas por dirigentes e ex-executivos do Grupo Odebrecht, em depoimento de colaboração premiada no âmbito da Lava-Jato. Os referidos acordos foram homologados pela presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, em janeiro deste ano, logo após a morte do então ministro Teori Zavascki.

Os senadores Eunício Oliveira, Valdir Raupp e Humberto Costa negaram qualquer envolvimento com as pessoas que foram alvo da Operação Satélites, alegando de forma quase uníssona que confiam na Justiça e que as investigações revelarão a verdade dos fatos. Renan Calheiros, que já é réu em ações penais no STF, não se pronunciou a respeito da nova fase da Lava-Jato.


Enquanto os parlamentares negam, a PGR solicita a realização de operação com base em delações da Odebrecht. O que significa que há motivos de sobra para que as investigações avancem. Se por um lado os senadores afirmam que jamais autorizaram qualquer pessoa a negociar doações de campanha, por outro os delatores da Odebrecht assumiram o compromisso de revelar apenas a verdade, desde que as informações prestadas sejam passiveis de comprovação.

No momento em que a PF sai às ruas para cumprir mandados judiciais baseados nas mencionadas delações, significa que a situação dos senadores deve piorar sobremaneira com o passar dos dias. Apesar das negativas e dos discursos supostamente moralistas, o Senado teve uma terça-feira atípica, com pouco trabalho em muitas conversas paralelas e outras reservadas, em determinados gabinetes.

A Operação Satélites mostra que a delação coletiva da Odebrecht – cujos 83 pedidos de investigação já chegaram ao gabinete do ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF – tem potencial explosivo elevado e promete causar um estrago sem precedentes. Isso significa que a crise política que chacoalha o Brasil tende a piorar, já que o principal alvo do momento é o PMDB, partido do presidente Michel Temer e o maior do Congresso Nacional.

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