Indicadores econômicos revelam que crise é muito complexa e de difícil solução no curto prazo

Quando o UCHO.INFO afirma que a realidade da economia brasileira não está em sintonia com os anúncios palacianos, não o faz por apostar na teoria do “quanto pior, melhor”, mas porque entende que a opinião pública precisa saber a verdade sobre o que ocorre no País. Afinal, se por um lado os números não mentem jamais, por outro mitomania é mercadoria em abundância nas entranhas do governo.

Enquanto a equipe econômica e os analistas do mercado conseguem enxergar no horizonte nacional algo que o reles cidadão não consegue ver, indicadores econômicos apontam na direção da discórdia. Nesta quinta-feira (30), o Banco Central reduziu a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017, que caiu de 0,8% para 0,5%. Uma taxa de crescimento pífia, mesmo que positiva. Já o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) foi mais otimista em relação ao PIB deste ano, prevendo crescimento da economia na casa de 0,7%.

Pelo menos em um quesito o BC e o Ipea concordam: a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficará abaixo do centro da meta fixada pelo governo, que é de 4,5%. A inflação entrou em rota de descenso pelo motivo que o UCHO.INFO vem destacando nos últimos meses: sensível queda no consumo interno. Esse movimento de recuo do mais temido fantasma da economia não se deu por causa de alguma medida adotada pelo governo, até porque isso não ainda aconteceu, mas pelo temor do brasileiro em consumir além do necessário.

Tanto é assim, que o comércio varejista do País registrou queda de 0,7% nas vendas em janeiro, na comparação com dezembro. O dado foi divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se do o segundo mês consecutivo de queda nas vendas do setor.

Em relação a janeiro de 2016, o recuo é de 7%, 22ª taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação. No acumulado de doze meses, a queda é de 5,9%, mantendo as taxas negativas desde maio de 2015.

A gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Isabella Nunes, destacou que, apesar da queda mensal em janeiro ter sido disseminada na maioria dos setores pesquisados, o que impediu um recuo maior foi o setor de hipermercados, que se manteve estável após registrar queda de 3% em dezembro.


“É bom a gente lembrar que janeiro não é um bom mês para o comércio, porque há muito incidência de impostos, o que impacta as vendas”, explicou Isabella Nunes.

De acordo com o IBGE, o volume de venda de seis das oito atividades pesquisadas registrou queda, com destaque especial para os segmentos de equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação (-4,8%), combustíveis e lubrificantes (-4,4%), livros, jornais, revistas e papelarias (-1,9%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-1,8%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (-1,1%) e móveis e eletrodomésticos (-0,1%).

O Banco Central, com base na trajetória de queda da inflação, já trabalha com um cenário em que predomina o corte na taxa básica de juro, a Selic, que poderá chegar ao final de 2017 na órbita de 9% ao ano. Com isso, o IPCA poderá encerrar 2017 em 4%, com chance de ficar abaixo desse índice, caso ocorra a conjunção positiva de alguns indicadores.

Esses números revelam de maneira inquestionável que há algo errado nas coxias da economia verde-loura. Pois se a inflação está em queda, a taxa básica de juro sofrendo cortes seguidos e o consumo recuando cada vez mais, alguém do governo precisa explicar urgentemente o que acontece no País.

Há nesse quadro duas razões para preocupação. Se o governo não conseguir aprovar as prometidas reformas – trabalhista, tributária e da Previdência –, todas fadadas a ter seus respectivos projetos descaracterizados por questões políticas, a situação econômica deve piorar muito. Por outro lado, se os cortes na Selic acontecerem em velocidade maior, a inflação pode recobrar as energias e voltar a atormentar a vida do cidadão. Mesmo que a capacidade instalada do setor industrial esteja, no momento, esteja muito além da sua efetiva utilização.

O Brasil vive um momento que pode ser comparado ao dito popular “se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”. O governo vem enfrentando seguidas quedas na arrecadação por causa do recuo no consumo de produtos e serviços, o que levou a um rombo adicional nas contas públicas da ordem de R$ 58,2 bilhões, além do déficit fiscal previsto para 2017 na casa de R$ 139 bilhões. Enquanto o recolhimento de impostos enfrenta uma longa temporada de anorexia, o País continua com apetite voraz por investimentos.

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