Marine Le Pen é criticada por negar papel da França na deportação de judeus

Candidata da extrema direita na eleição presidencial francesa, Marine Le Pen provocou uma onda de críticas e acusações de revisionismo na última segunda-feira (10), ao negar a responsabilidade do Estado francês na deportação de judeus durante a ocupação nazista.

Cerca de 13 mil judeus foram deportados pela polícia francesa entre 16 e 17 de julho de 1942, muitos dos quais estiveram detidos no estádio Vel d’Hiv, em Paris. Ao todo, aproximadamente 75 mil judeus foram deportados da França para campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Apenas 2,5 mil sobreviveram.

Le Pen, que lidera as pesquisas de intenções de voto para o primeiro turno, que acontecerá em 23 de abril, disse em entrevista divulgada no último domingo: “Penso que, de maneira geral, se há responsáveis, são aqueles que estavam no poder à época, e não a França.”

O principal adversário de Marine Le Pen, o centrista independente Emmanuel Macron, considerou que a candidata da extrema direita cometeu um erro grave. “Por um lado, é um erro histórico e político. E, por outro, mostra que Marine Le Pen é filha de Jean-Marie Le Pen”, disse.

Jean-Marie Le Pen, pai da candidata da extrema direita e fundador do partido que ela preside, a Frente Nacional, foi condenado várias vezes por declarações antissemitas e racistas. A filha, em clara tentativa de não afugentar eleitores, adotou discurso diferente e acabou por afastar o pai do partido.


O candidato socialista Benoît Hamon também comentou a afirmação da adversária. “Quando Marine Le Pen não gosta da história, distorce-a. Se alguém tinha dúvidas sobre se Marine Le Pen é de extrema direita, deixou de tê-las”, disse Hamon à emissora RTL.

O candidato da esquerda, Jean-Luc Mélenchon, considerou a declaração “normal para uma pessoa que fez toda a sua educação política à sombra do pai”, e o candidato da direita, François Fillon, advertiu para “o perigo” de suscitar esse tipo de debate. “A verdade é que Vel d’Hiv foi um crime cometido pelo Estado francês”, afirmou.

As declarações de Le Pen foram também criticadas pelo Ministério do Exterior de Israel como “contrárias à verdade histórica”, tal como tem sido “expressada nas declarações de sucessivos presidentes franceses que reconheceram a responsabilidade da França no destino de judeus franceses que morreram no Holocausto”.

Marine Le Pen emitiu mais tarde um comunicado em que especifica que “considera que a França e a República estavam em Londres” e que “o regime de Vichy não era a França”. A candidata afirmou ainda que era esse o entendimento dos presidentes franceses até o ex-presidente Jacques Chirac (1995-2007) assumir “erradamente” o papel do Estado na perseguição aos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1995, após décadas de negação no país, Chirac afirmou que a França era responsável pelas deportações, e não o regime de Vichy, que colaborava com os nazistas. Ele se tornou, assim, o primeiro presidente a reconhecer o papel do Estado francês na deportação de judeus, expressando também um pedido público de desculpas. (Com agências internacionais)

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