Enquanto os advogados de Lula enxergam motivos para comemorações no rastro do interrogatório ao juiz Sérgio Moro, na última quarta-feira (10), muitas das respostas do ex-presidente foram marcadas pela mentira, algo comum na vida do petista-mor.
Em determinada trecho do depoimento, como se fosse a entidade suprema dessa república bananeira em que se transformou o Brasil, Lula ousou dizer que não foi candidato à Presidência em 2014 por vontade própria.
Que Luiz Inácio da Silva é um mitômano compulsivo todos sabem, mas querer reescrever a história a essa altura dos acontecimentos é excesso de presunção, principalmente porque a suposta mudança de fatos passados serviria apenas para reforçar a defesa de alguém indefensável.
Lula sonhava em retornar ao Palácio do Planalto desde quando lançou a incompetente Dilma Rousseff como candidata à Presidência da República, mas o sonho virou pesadelo apenas porque sua sucessora não cumpriu o combinado. Dilma, que ainda cultiva a peçonha dos tempos da guerrilha, tomou gosto pelo poder e voltou a agir como se estivesse enfrentando os adversários da era plúmbea brasileira.
Em 22 de dezembro de 2010, menos de dois meses após o segundo turno da eleição presidencial daquele ano, o UCHO.INFO afirmou que Dilma teria de trair o antecessor se quisesse tentar a reeleição. A petista ainda não havia tomado posse no primeiro mandato, mas este noticioso já antecipava o que veio a se confirmar quase quatro anos mais tarde.
O governo Dilma seguia pelas curvas sinuosas e assustadoras de uma administração marcada por um coquetel explosivo que mesclava crise econômica e corrupção desenfreada, mas a então presidente buscava um motivo para trair o compromisso assumido com Lula.
Foi então que a Polícia Federal colocou em marcha a Operação Porto Seguro, que tinha na proa das investigações ninguém menos do que Rosemary Noronha, então chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo. Rose, como é conhecida o alvo principal da Porto Seguro, apresentava-se aos interlocutores como amante do alarife Lula.
Investigada por tráfico de influência e outros crimes, Rose Noronha viu sua relação com Lula ocupar o noticiário e invadir as redes sociais. Foi o bastante para que algumas dezenas de viagens internacionais que Rose fizera na companhia de Lula, a bordo do avião presidencial, viessem à tona.
Especialista em dar o bote no momento certo, Dilma Rousseff não pensou duas vezes antes de decidir que concorreria à reeleição em 2014. Após esperar pacientemente por quase dois anos, afinal a Operação Porto Seguro foi deflagrada em 23 de novembro de 2012, Dilma conseguiu manter sua candidatura à reeleição mediante a ameaça de revelar os gastos de Rose Noronha com cartões corporativos da Presidência.
Para quem não se recorda, Lula demorou a embarcar na campanha de Dilma à reeleição. O fez quase em cima da hora e depois de muitos pedidos de “companheiros”, que àquela altura já sabiam do estrago que a Operação Lava-Jato, colocada em marcha em março de 2014, poderia fazer no partido. Sem saída, Lula teve de aceitar silenciosamente o golpe, pois do contrário seu calvário teria começado com muita antecedência.