Operação Lucas: quando a saúde pública é refém da corrupção, o País precisa ser reinventado

Quando a Polícia Federal deflagrou, em 17 de março passado, a Operação Carne Fraca, sobraram integrantes do governo de Michel Temer criticando a ação policial e as investigações, sob a alegação de que as exportações brasileiras no segmento de proteína animal seriam impactadas.

Um dos críticos iniciais foi o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que com o passar dos dias foi obrigado a mudar de ideia, pois servidores da pasta estavam envolvidos em um esquema de corrupção que colocava em risco a saúde do consumidor.

Infelizmente, para o desespero da população, o Brasil transformou-se em uma usina de corrupção, com direito a operações policiais quase que diárias, além dos desdobramentos de escândalos passados. O País não mais suporta a roubalheira sistêmica que avançou sobre todos os setores do Estado.

Nesta terça-feira (16), a PF deflagrou a Operação Lucas com base em investigações sobre o pagamento de vantagens indevidas por parte de frigoríficos e laticínios à ex-superintendente substituta do Ministério da Agricultura em Tocantins, Adriana Carla Floresta Feitosa. Ao todo foram bloqueados R$ 2,2 milhões da família da servidora.

“A princípio há uma indicação de que alguns frigoríficos tenham feito esse pagamento. Seria até agora identificados Frangonorte, Latícinio Veneza, Santa Izabel Alimentos, Frigorífico Minerva, Masterboi, Laticínio Fortaleza, Laticínio Palac. São esses até o momento”, afirmou o superintendente da PF no estado de Tocantins, Arcelino Vieira Damasceno.

De acordo com Damasceno, o alvo principal da operação é Adriana Carla Floresta Feitosa, fiscal agropecuária que atuou como chefe da fiscalização na Superintendência do Ministério no Tocantins e foi superintendente substituta no Estado ‘durante um período’. Segundo as investigações, a chefe de Fiscalização do MAPA recebia de empresas fiscalizadas valores mensais para custear despesas familiares. A movimentação bancária de Adriana Feitosa e dos familiares (o marido, o ex-marido e dois filhos), entre 2010 e 2016, foi de aproximadamente R$ 13 milhões.


“Desses R$ 13 milhões, nós temos aproximadamente R$ 3 milhões que são fruto de salário e o que excede a isso é a movimentação de crédito que é movimentação sem uma origem no salário. Boa parte dessa movimentação não identificada como salário que chega a aproximadamente R$ 8 milhões é uma movimentação de origem de alguns frigoríficos ou pessoas ligadas a frigoríficos e laticínios”, destacou o superintendente da PF.

“A chefe de fiscalização do MAPA, Superintendência de Tocantins, recebia valores indevidos por parte de frigoríficos e laticínios da região com o objetivo de facilitar ou de adiantar ou atrasar, enfim, de tratar de interesses dos laticínios e dos frigoríficos perante a administração pública que deveria fazer a fiscalização desse setor. A investigação não focou e não fez qualquer diligência com relação à questão de saúde pública”, observou Arcelino Damasceno.

“O trabalho está calcado em quebra de sigilo bancário, então, nós temos de fato listas ou relações de pagamentos realizados de frigoríficos e laticínios para a servidora e seu núcleo familiar. Não há até o momento nenhum envolvimento de outros fiscais e o que se tem até agora o pagamento pelos frigoríficos e recebimento da senhora chefe da fiscalização do MAPA em Tocantins”, afirmou.

No momento em que a saúde pública torna-se refém da corrupção levada a cabo por servidores do Estado que agem de forma criminosa, o País precisa ser reinventado. De nada adianta o governo federal anunciar números que apontam a suposta recuperação da economia, enquanto o ralo da corrupção continua aberto e dragando o suado dinheiro do contribuinte. O Ministério da Agricultura informou que os servidores que estão na mira da Operação Lucas serão afastados, mas espera-se que ao final todos sejam exonerados a bem do serviço público.

A operação da PF foi batizada à sombra da passagem Bíblica do livro de Lucas, que destaca: “Não peçais mais do que o que vos está ordenado” e “A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo”.

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